2004/06/30
Fohr-sar!!!
Hoje é dia de dar tudo por tudo por um lugar na final. Como diz o anúncio, Impossible is Nothing.
Assim sendo, A Corneta preparou um menu musical para acompanhar adeptos e jogadores portugueses no dia de hoje:
Antes do jogo, para entrar em campo descontraído e “feeling good”:
Se ganharmos: FESTA!!!!
Se perdermos (isso nao!!! Fohr-sar!!!): Music for the Soul
Para o dia seguinte (qualquer que seja o resultado): um Guronsan musical.
Assim sendo, A Corneta preparou um menu musical para acompanhar adeptos e jogadores portugueses no dia de hoje:
Antes do jogo, para entrar em campo descontraído e “feeling good”:
Josh Rouse – 1972
Se ganharmos: FESTA!!!!
The Rapture – Echoes
Se perdermos (isso nao!!! Fohr-sar!!!): Music for the Soul
Bill Evans – Sunday at the Village Vanguard
Para o dia seguinte (qualquer que seja o resultado): um Guronsan musical.
Keith Jarrett – The Koln Concert
2004/06/29
Desvendado o mistério da letra do hino Euro2004
Ah, recebi agora por mail. Ah, agora já posso cantar e compreender. Ah ! Agora é que é!
Refrão:
Cómumaf órça, Cómumaf órça
Fohr-sar! Fohr-sar!
Cómumaf órça kei nehn-guim paude pahrá
Fohr-sar! Fohr-sar!
Cómumaf órça, Cómumaf órça
Fohr-sar! Fohr-sar!
Como uma fome kei nehn-guim paude matá
Fohr-sar! Fohr-sar! Fohr-sar! Fohr-sar! Fohr-sar!
Fohr-sar! Fohr-sar!
Tau grandy, Tau forty,
come on!
Nelly Furtado - Fohr-sar
Gostei do grandy e forty. É tau boa.
Refrão:
Cómumaf órça, Cómumaf órça
Fohr-sar! Fohr-sar!
Cómumaf órça kei nehn-guim paude pahrá
Fohr-sar! Fohr-sar!
Cómumaf órça, Cómumaf órça
Fohr-sar! Fohr-sar!
Como uma fome kei nehn-guim paude matá
Fohr-sar! Fohr-sar! Fohr-sar! Fohr-sar! Fohr-sar!
Fohr-sar! Fohr-sar!
Tau grandy, Tau forty,
come on!
Nelly Furtado - Fohr-sar
Gostei do grandy e forty. É tau boa.
2004/06/27
Ever Get the Feeling You’ve Been Cheated? (2)
Já uma vez usei esta célebre frase de Johnny Rotten (quando a Voxx e a Luna acabaram).
Agora, com toda a especulação em torno do destino político de Portugal, o Abrupto relembra-a. Relembro-a também porque se me afigura que qualquer que venha a ser o desfecho da polémica, Portugal e os Portugueses ficarão pior. Acabam o "jogo" aos 45 minutos quando está tudo distraído com o futebol e a seleção?
Termina aqui o momento político d' A Corneta
Agora, com toda a especulação em torno do destino político de Portugal, o Abrupto relembra-a. Relembro-a também porque se me afigura que qualquer que venha a ser o desfecho da polémica, Portugal e os Portugueses ficarão pior. Acabam o "jogo" aos 45 minutos quando está tudo distraído com o futebol e a seleção?
Termina aqui o momento político d' A Corneta
2004/06/25
Se procura tranquilidade
Para urticárias, ódios de estimação, demasiada emoção derivada do Europeu ("oh my tricky heart" ouvi alguém a dizer ontem relembrando o Sr. Alphonse do Allô, Allô), há certo tipo de álbuns que garante isso mesmo: descanso.
Fresquinho, fresquinho, está aí um novo dos The Kings of Convenience o Riot on an Empty Street. Aqui na Corneta gostaríamos de colocar a música de que vamos falando e hoje, de certa forma, podemos fazer isso. O Erlendo e o Eiriko foram uns simpáticos e criaram um site onde se pode ouvir o novo trabalho, inteirinho, com animação flash a acompanhar. Vão lá.
Do grupo há que saber que há um outro álbum muito interessante (já falámos dele), são um duo norueguês (Erlend Øye e Eirik Glambek), o Erlend tem alguns projectos paralelos ligados à música electrónica. Numa referência muito rápida, acho que isto faz lembrar bastante Simon & Garfunkel, ou seja, base em guitarras acústicas, orquestrações subtis, vozes muito afinadas, letras melancólicas e bem esguelhadas. Além disso, em certas faixas, há uma aproximação ao bossanova , aqui em "Live Long", em Quiet is the new Loud o “Girl from back then “.
Este novo trabalho abre com “Homesick” que vem a descrever na perfeição o que pode esperar da sua audição:
«I lose some sales
and my boss won’t be happy,
but I can’t stop listening to the sound.
Of two soft voices,
rendered in perfection,
from the reels of this record that I found...»
Outra aspecto que acho piada neste grupo é a presença do contraste no nome dos dois últimos álbuns . A dicotomia barulho/silêncio, o encontro dos opostos. Já foi quiet agora é empty, se antes era loud agora é um riot. Mas um riot que se ouve muito bem.
Fresquinho, fresquinho, está aí um novo dos The Kings of Convenience o Riot on an Empty Street. Aqui na Corneta gostaríamos de colocar a música de que vamos falando e hoje, de certa forma, podemos fazer isso. O Erlendo e o Eiriko foram uns simpáticos e criaram um site onde se pode ouvir o novo trabalho, inteirinho, com animação flash a acompanhar. Vão lá.
Do grupo há que saber que há um outro álbum muito interessante (já falámos dele), são um duo norueguês (Erlend Øye e Eirik Glambek), o Erlend tem alguns projectos paralelos ligados à música electrónica. Numa referência muito rápida, acho que isto faz lembrar bastante Simon & Garfunkel, ou seja, base em guitarras acústicas, orquestrações subtis, vozes muito afinadas, letras melancólicas e bem esguelhadas. Além disso, em certas faixas, há uma aproximação ao bossanova , aqui em "Live Long", em Quiet is the new Loud o “Girl from back then “.
Este novo trabalho abre com “Homesick” que vem a descrever na perfeição o que pode esperar da sua audição:
«I lose some sales
and my boss won’t be happy,
but I can’t stop listening to the sound.
Of two soft voices,
rendered in perfection,
from the reels of this record that I found...»
Outra aspecto que acho piada neste grupo é a presença do contraste no nome dos dois últimos álbuns . A dicotomia barulho/silêncio, o encontro dos opostos. Já foi quiet agora é empty, se antes era loud agora é um riot. Mas um riot que se ouve muito bem.
Ganhámos Ganhámos Ganhámos Ganhámos
A Corneta dedica uma canção à seleção
Ao contrário do que se possa pensar A Corneta não é uma capela Anti-Euro. Pessoalmente, apesar de até nem gostar muito de futebol, acho que estes quartos definal contra a Inglaterra foram o jogo que me deu mais prazer em ver de sempre (curiosamente em segundo fica o jogo com Inglaterra no Euro 2000, o célebre 3-2...).
Tanto assim é que, absorvido pelo espírito da vitória de hoje, decidi dedicar à seleção uma canção. E a escolhida é o Taking Control dos X-Wife (faixa 11 do Feeding the Machine). Porqué?
- É em inglês (para os bifes perceberem);
- É escrita e tocada por portugueses;
- É bem disposta e a abrir quanto baste;
e
- Tem aquele refrão gritado de "TAKING CONTROL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"...
need I say more?
Ao contrário do que se possa pensar A Corneta não é uma capela Anti-Euro. Pessoalmente, apesar de até nem gostar muito de futebol, acho que estes quartos definal contra a Inglaterra foram o jogo que me deu mais prazer em ver de sempre (curiosamente em segundo fica o jogo com Inglaterra no Euro 2000, o célebre 3-2...).
Tanto assim é que, absorvido pelo espírito da vitória de hoje, decidi dedicar à seleção uma canção. E a escolhida é o Taking Control dos X-Wife (faixa 11 do Feeding the Machine). Porqué?
- É em inglês (para os bifes perceberem);
- É escrita e tocada por portugueses;
- É bem disposta e a abrir quanto baste;
e
- Tem aquele refrão gritado de "TAKING CONTROL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"...
need I say more?
2004/06/24
Nada a ver com nada
Já se sabe que estes tempos de euforia futeboleira são pródigos em momentos nonsense.
Olha outro. Acerca dos quartos de final (!) resolveram ontem no noticiário das oito da SIC entrevistar Margarida Rebelo Pinto, António Feio e mais alguém que não me recordo. Mais uma vez, um fenómeno que me irrita particularmente, saber o que "personalidades" acham sobre acontecimento nacionais, mas dos light . Por exemplo, ninguém quer saber do Referendo para a Constituição Europeia. Já com o do Rock in Rio foi do mais confrangedor que vi porque as “personalidades” não faziam a mínima do que estavam a falar. A culpa é dos jornalistas já agora. Há uma coisa chamada edição. Cortar os pedaços com erros ou de pura estupidez.
Adiante. Irrita-me particularmente Margarida Rebelo Pinto. Não sei se a voz alguns decibéis acima, se o pastel da roupa, o louríssimo cabelo, se o facto da sua presença dar-me uma urticária. Adiante. O que me irritou mesmo foi ter dito: "Vamos arrasá-los como a Invencível Armada!" (aos ingleses subentenda-se). Tudo bem, não fosse a Invencível Armada, espanhola! É certo que Portugal à data estava sob o jugo espanhol, "anexado" parece ser o termo, sob o reinado de um dos Felipes.
Acabem-se com as metáforas de história aplicadas ao futebol (Aljubarrota e afins), as metáforas futebolísticas aplicadas à política (cartões amarelos, cartões vermelhos).
Não, minto. Acabe-se com a Margarida Rebelo Pinto. Isso já resolvia metade dos problemas.
Olha outro. Acerca dos quartos de final (!) resolveram ontem no noticiário das oito da SIC entrevistar Margarida Rebelo Pinto, António Feio e mais alguém que não me recordo. Mais uma vez, um fenómeno que me irrita particularmente, saber o que "personalidades" acham sobre acontecimento nacionais, mas dos light . Por exemplo, ninguém quer saber do Referendo para a Constituição Europeia. Já com o do Rock in Rio foi do mais confrangedor que vi porque as “personalidades” não faziam a mínima do que estavam a falar. A culpa é dos jornalistas já agora. Há uma coisa chamada edição. Cortar os pedaços com erros ou de pura estupidez.
Adiante. Irrita-me particularmente Margarida Rebelo Pinto. Não sei se a voz alguns decibéis acima, se o pastel da roupa, o louríssimo cabelo, se o facto da sua presença dar-me uma urticária. Adiante. O que me irritou mesmo foi ter dito: "Vamos arrasá-los como a Invencível Armada!" (aos ingleses subentenda-se). Tudo bem, não fosse a Invencível Armada, espanhola! É certo que Portugal à data estava sob o jugo espanhol, "anexado" parece ser o termo, sob o reinado de um dos Felipes.
Acabem-se com as metáforas de história aplicadas ao futebol (Aljubarrota e afins), as metáforas futebolísticas aplicadas à política (cartões amarelos, cartões vermelhos).
Não, minto. Acabe-se com a Margarida Rebelo Pinto. Isso já resolvia metade dos problemas.
2004/06/23
70's Love Power
Os anos 70 deram à luz uma multitude filmes eróticos softcore, na maioria oriundos de Italia, como as dezenas de filmes da serie Emanuelle, que tinham em comum os locais exoticos e as bandas sonoras caracteristicamente luxuriantes, com aquele som de orgão tão em voga na época.
Quem se quiser divertir a recordar essa época clique aqui. Cuidado é com os familiares e colegas de escritório incautos que possam ouvir o resultado!
Quem se quiser divertir a recordar essa época clique aqui. Cuidado é com os familiares e colegas de escritório incautos que possam ouvir o resultado!
2004/06/22
Porque Junho é mês de estudo
Depois da queima das fitas, Junho é para muitos estudantes universitários um mês passado a estudar. Felizmente, já lá vai o tempo em que assim era também para mim. Quando estudava, gostava de ouvir música, mas tinha que encontrar algo que ajudasse à concentração, o que nem sempre era fácil.
O disco preferido das minhas sessões de estudo nocturnas era este:
Costumava deixá-lo em repeat e ouvi-lo uma boas 6 ou 7 vezes de seguida.
Herbie Hancock têm uma carreira discográfica com já cerca de 40 anos, uma vez que começou a gravar como líder para a Blue Note no início dos anos 60. Curiosamente, este Mayden Voyage, de 1965, é tido como a sua obra prima do período bop dos anos 60, antes de se virar para as fusões a partir dos anos 70, e mesmo como um dos pontos altos de toda a sua carreira.
Parte da magia deste disco passa por aquela característica que distingue os grandes discos, e que é de ter música que é de alguma forma inovadora ou diferente e ao mesmo tempo ser algo a que se consegue aderir com muita facilidade. Como diz o all music guide, encontra-se aqui um equilíbrio perfeito entre jazz lírico e acessível e Hard Bop mais ariscado.
Agora que já não passo as noites de junho a estudar, encontrei outro uso para o disco: é excelente para ficar a ouvir às escuras e com as janelas abertas em noites de calor. Experimentem!
O disco preferido das minhas sessões de estudo nocturnas era este:
Herbie Hancock – Mayden Voyage
Costumava deixá-lo em repeat e ouvi-lo uma boas 6 ou 7 vezes de seguida.
Herbie Hancock têm uma carreira discográfica com já cerca de 40 anos, uma vez que começou a gravar como líder para a Blue Note no início dos anos 60. Curiosamente, este Mayden Voyage, de 1965, é tido como a sua obra prima do período bop dos anos 60, antes de se virar para as fusões a partir dos anos 70, e mesmo como um dos pontos altos de toda a sua carreira.
Parte da magia deste disco passa por aquela característica que distingue os grandes discos, e que é de ter música que é de alguma forma inovadora ou diferente e ao mesmo tempo ser algo a que se consegue aderir com muita facilidade. Como diz o all music guide, encontra-se aqui um equilíbrio perfeito entre jazz lírico e acessível e Hard Bop mais ariscado.
Agora que já não passo as noites de junho a estudar, encontrei outro uso para o disco: é excelente para ficar a ouvir às escuras e com as janelas abertas em noites de calor. Experimentem!
2004/06/21
Post ao sabor do dia
Na ressaca da vitória (pois o anúncio do encerramente da sessão Euro 2004 foi, claramente, prematuro) lembrei-me dos slogans cantados pelos espanhóis que se ouviram até à exaustão um pouco por toda o lado nestes últimos dias (que de modo rebuscado cumpre o requisito mínimo do modus operandi aqui do blog: falar de música e coisas derivadas dela. A maior parte das vezes são as coisas derivadas, mas também por isso, confessamo-nos amadores, liberdade criativa e outras desculpas).
Na véspera do jogo resolvi ir tomar um copo ao Bairro Alto. Já no eléctrico apanhámos um grande grupo, vestidos a rigor com a camisola vermelha/ torito amarelo, que iam entoando «Y viva España!» e « Yiupiai, yuipii, yuipii ai » (para os atentos, trata-se uma versão adulterada do clássico do escutismo o " singuigai". Desde quando é que isto é yuipiiai??). Perante o olhar atónito dos poucos portugueses, alguns diziam «epá temos que responder». Mas responder com quê? Pois é, esta é a razão do poste! Temos um claro déficit de bons gritos de guerra, testemunhada por todos o Bairro Alto. Contra o «Viva España», y «toritos», e «yuipiais» não fomos para além "Ai Portugale!Olé!Ai Portugale! Olé! Ai Portugal!!Olé!Portugal Olé, olé!"(que tem muito olé na letra!)ou pior, na versão francesa, o expressivo " Allez!". Não se preocupem em renovar «A Portuguesa», temos é que renovar estes motes para além do oficial cantado em emigrês "con una forca, con una forca , ... *ªaevioi=?»/..." (frase seguinte suspeita-se que em português mas não há confirmação à data) da Nelly. Não é tecnicamente possível vencer com este tema nestas desgarradas de rua.
Apesar de tudo, os espanhóis além de cantarem mostraram sentido de humor ao longo da noite . A certa altura, uma moradora mais piursa com a barulheira atirou um balde de água para cima da claque . Vamos chamar-lhe água. Os hermanos da onça (como li hoje na crónica do DD da Clara Ferreira Alves) estiveram à altura e gritaram: «No tires água! Tira J.B.! ». (o guisquí...)
Foi giro.
Já agora uma amiga enviou-me um mail de Madrid que relata a tomada portuguesa da praça Cibeles (ehehe!). Uma outra visão para além do Rossio:
«Apos os 90 m sofridos a ver o jogo, comecamos por fazer a grande festa no
café onde estavamos 40% portugueses e 60% espanhois. lindo... mas o melhor
estava para vir... como estávmos tao perto da cibeles porque não ir para la
celebrar?? Alguns la se meteram dentro da agua com a n/
bandeira portuguesa e la deram a volta, terminada a volta apareceu um carro
de policias a paisano mais o carro da RTP com o Vasco Lourinho. Lá pediram para que saissemos da agua, e como bons portugueses obedecemos... e la se foram embora... mas cmo os festejos continuavam em frente a Cibeles e sao maus perdedores lá chegaram
3 carros de policia, nada disfarçados e com uma cara de enterro e la nos
expulsaram da Cibeles.. "nao estava permitido a peatones!!" O lindo é que
andamos pela rua a celebrar, poucos mas bons!! Alguns ate nos davam la
"enhorabuena" outros de tao lixados quase nos matavam com o olhar!!»
Na véspera do jogo resolvi ir tomar um copo ao Bairro Alto. Já no eléctrico apanhámos um grande grupo, vestidos a rigor com a camisola vermelha/ torito amarelo, que iam entoando «Y viva España!» e « Yiupiai, yuipii, yuipii ai » (para os atentos, trata-se uma versão adulterada do clássico do escutismo o " singuigai". Desde quando é que isto é yuipiiai??). Perante o olhar atónito dos poucos portugueses, alguns diziam «epá temos que responder». Mas responder com quê? Pois é, esta é a razão do poste! Temos um claro déficit de bons gritos de guerra, testemunhada por todos o Bairro Alto. Contra o «Viva España», y «toritos», e «yuipiais» não fomos para além "Ai Portugale!Olé!Ai Portugale! Olé! Ai Portugal!!Olé!Portugal Olé, olé!"(que tem muito olé na letra!)ou pior, na versão francesa, o expressivo " Allez!". Não se preocupem em renovar «A Portuguesa», temos é que renovar estes motes para além do oficial cantado em emigrês "con una forca, con una forca , ... *ªaevioi=?»/..." (frase seguinte suspeita-se que em português mas não há confirmação à data) da Nelly. Não é tecnicamente possível vencer com este tema nestas desgarradas de rua.
Apesar de tudo, os espanhóis além de cantarem mostraram sentido de humor ao longo da noite . A certa altura, uma moradora mais piursa com a barulheira atirou um balde de água para cima da claque . Vamos chamar-lhe água. Os hermanos da onça (como li hoje na crónica do DD da Clara Ferreira Alves) estiveram à altura e gritaram: «No tires água! Tira J.B.! ». (o guisquí...)
Foi giro.
Já agora uma amiga enviou-me um mail de Madrid que relata a tomada portuguesa da praça Cibeles (ehehe!). Uma outra visão para além do Rossio:
«Apos os 90 m sofridos a ver o jogo, comecamos por fazer a grande festa no
café onde estavamos 40% portugueses e 60% espanhois. lindo... mas o melhor
estava para vir... como estávmos tao perto da cibeles porque não ir para la
celebrar?? Alguns la se meteram dentro da agua com a n/
bandeira portuguesa e la deram a volta, terminada a volta apareceu um carro
de policias a paisano mais o carro da RTP com o Vasco Lourinho. Lá pediram para que saissemos da agua, e como bons portugueses obedecemos... e la se foram embora... mas cmo os festejos continuavam em frente a Cibeles e sao maus perdedores lá chegaram
3 carros de policia, nada disfarçados e com uma cara de enterro e la nos
expulsaram da Cibeles.. "nao estava permitido a peatones!!" O lindo é que
andamos pela rua a celebrar, poucos mas bons!! Alguns ate nos davam la
"enhorabuena" outros de tao lixados quase nos matavam com o olhar!!»
2004/06/18
Lali Puna em Portugal
Os Lali Puna vão tocar no Convento do Beato dia 26 deste mês integrados no Festival Cosmopolis 2004. No cartaz também os portugueses Bullet e Spaceboys, mas acho que é mesmo a voz Valerie Trebeljahr que justifica a visita (e já agora Faking the books, um excelente álbum).
2004/06/17
Coffee & cigarettes
Afinal não vou encerrar a sessão euro 2004. Estava ontem a nação a preparar-se para assistir ao embate dos titãs estava eu a entrar no cinema para ver Coffe & Cigarrettes de Jim Jarmusch num qualquer cinema de Lisboa. Não me julguem pouco patriota ainda cheguei a casa para a vitória e o ecoar de "golo!" pelas ruas.
Um filme, mais bem de género documentário, reúne 11 sketches de conversas banais à volta de café e cigarros. Os cigarros fazem mal, e café e cigarros não são propriamente uma refeição saudável. Repetem-se estas palavras, gestos muitas vezes ao longo do filme. Afinal isto é um ritual, uma combinação diabólica - café e cigarros , sabem tão bem. Há momentos estranhos, satisfatórios, parados, hilariantes (o de Steve Coogan e Alfred Molina em "Cousins?") e um comovente. Comovente não é a palavra que se use muito neste blog. Mas a música pode ser muito comovente, que toca, que enternece. Deveríamos usar mais, não é?
Na tela dois velhotes. Nada se diz, mas depreende-se pela conversa que estão na pausa de trabalho. Um daqueles curtos intervalos a meio da tarde, a meio da manhã para emborcar a mixórdia que o patronato insiste em chamar café. Um deles diz algo parecido com: "Hoje sinto que me perdi do mundo( tradução ranhosa de: "I’ve lost track of the world "). Aliás consigo ouvir esta canção na minha cabeça: I’ve lost track of the world" de Mahler. ". E o cinema, que do mais maravilhoso que tem é dar corpo e notas aos pensamentos das personagens (ou mais coloquialmente conhecido por banda sonora) concede-nos isso. O desejo do velhote. De mansinho começa a ária, um sussurro. " Imaginemos que isto não é café." – continua - " È champanhe. Estou a ver-me em Paris nos anos 20…"
È comovente porque é isso mesmo: a música faz do café champanhe. É só preciso a banda sonora correcta.
Um filme, mais bem de género documentário, reúne 11 sketches de conversas banais à volta de café e cigarros. Os cigarros fazem mal, e café e cigarros não são propriamente uma refeição saudável. Repetem-se estas palavras, gestos muitas vezes ao longo do filme. Afinal isto é um ritual, uma combinação diabólica - café e cigarros , sabem tão bem. Há momentos estranhos, satisfatórios, parados, hilariantes (o de Steve Coogan e Alfred Molina em "Cousins?") e um comovente. Comovente não é a palavra que se use muito neste blog. Mas a música pode ser muito comovente, que toca, que enternece. Deveríamos usar mais, não é?
Na tela dois velhotes. Nada se diz, mas depreende-se pela conversa que estão na pausa de trabalho. Um daqueles curtos intervalos a meio da tarde, a meio da manhã para emborcar a mixórdia que o patronato insiste em chamar café. Um deles diz algo parecido com: "Hoje sinto que me perdi do mundo( tradução ranhosa de: "I’ve lost track of the world "). Aliás consigo ouvir esta canção na minha cabeça: I’ve lost track of the world" de Mahler. ". E o cinema, que do mais maravilhoso que tem é dar corpo e notas aos pensamentos das personagens (ou mais coloquialmente conhecido por banda sonora) concede-nos isso. O desejo do velhote. De mansinho começa a ária, um sussurro. " Imaginemos que isto não é café." – continua - " È champanhe. Estou a ver-me em Paris nos anos 20…"
È comovente porque é isso mesmo: a música faz do café champanhe. É só preciso a banda sonora correcta.
I'm gonna batter you!Come here!
Acerca dos desacatos que têm ocorrido em Albufeira, e olha, porque hoje estava a ouvir no carro, porque regressei de Londres, porque Mike Skinner assina aqui um verdadeiro tratado sociológico descrevendo na perfeição Terry , o law abider , who likes to get fired up on beer e Tim, the criminal, for the choice of herbs he inhales. The irony of it all:
.
http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/3810783.stm
Hello, Hello. My names Terry and I'm a law abider
There's nothing I like more than getting fired up on beer
And when the weekends here I to exercise my right to get paralytic and fight
Good bloke fairly
But I get well leery when geezers look at me funny
Bounce 'em round like bunnies
I'm likely to cause mischief
Good clean grief you must believe and I ain't no thief.
Law abiding and all, all legal.
And who cares about my liver when it feels good
Wwhat you need is some real manhood.
Rasher Rasher Barney and Kasha putting peoples backs up.
Public disorder, I'll give you public disorder.
I down eight pints and run all over the place
Spit in the face of an officer
See if that bothers you cause I never broke a law in my life
Someday I'm gonna settle down with a wife
Come on lads lets have another fight
......
Like I was saying to him.
I told him: "Top with me and you won't leave."
So I smacked him in the head and downed another Carling
Bada Bada Bing for the lad's night.
Mad fight, his face's a sad sight.
Vodka and Snake Bite.
Going on like a right geez, he's a twat,
Shouldn't have looked at me like that.
Anyway I'm an upstanding citizen
If a war came along I'd be on the front line with em.
Can't stand crime either them hooligans on heroin.
Drugs and criminals those thugs on the penny coloured will be the downfall of society
I've got all the anger pent up inside of me.
....
Causing trouble, your stinking rabble
Boys saying I'm the lad who's spoiling it
You're on drugs it really bugs me when people try and tell me I'm a thug
Just for getting drunk
I like getting drunk
Cause I'm an upstanding citizen
If a war came along I'd be on the front line with em.
The Irony Of It All Lyrics/ The Streets /Original Pirate Material (2002)
Ainda falta a parte do Tim intercalada, mas ficava gingantesco, não?
Pixies? tenho que escrever, afinal eu sou fã...
E assim se encerra sessão Euro 2004.
.
http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/3810783.stm
Hello, Hello. My names Terry and I'm a law abider
There's nothing I like more than getting fired up on beer
And when the weekends here I to exercise my right to get paralytic and fight
Good bloke fairly
But I get well leery when geezers look at me funny
Bounce 'em round like bunnies
I'm likely to cause mischief
Good clean grief you must believe and I ain't no thief.
Law abiding and all, all legal.
And who cares about my liver when it feels good
Wwhat you need is some real manhood.
Rasher Rasher Barney and Kasha putting peoples backs up.
Public disorder, I'll give you public disorder.
I down eight pints and run all over the place
Spit in the face of an officer
See if that bothers you cause I never broke a law in my life
Someday I'm gonna settle down with a wife
Come on lads lets have another fight
......
Like I was saying to him.
I told him: "Top with me and you won't leave."
So I smacked him in the head and downed another Carling
Bada Bada Bing for the lad's night.
Mad fight, his face's a sad sight.
Vodka and Snake Bite.
Going on like a right geez, he's a twat,
Shouldn't have looked at me like that.
Anyway I'm an upstanding citizen
If a war came along I'd be on the front line with em.
Can't stand crime either them hooligans on heroin.
Drugs and criminals those thugs on the penny coloured will be the downfall of society
I've got all the anger pent up inside of me.
....
Causing trouble, your stinking rabble
Boys saying I'm the lad who's spoiling it
You're on drugs it really bugs me when people try and tell me I'm a thug
Just for getting drunk
I like getting drunk
Cause I'm an upstanding citizen
If a war came along I'd be on the front line with em.
The Irony Of It All Lyrics/ The Streets /Original Pirate Material (2002)
Ainda falta a parte do Tim intercalada, mas ficava gingantesco, não?
Pixies? tenho que escrever, afinal eu sou fã...
E assim se encerra sessão Euro 2004.
2004/06/16
Um complementozinho
Tendo em conta que o concerto dos Pixies foi de facto excelente, parece-me que as poucas linhas que escrevi sobre o mesmo acabam por não lhe fazer justiça... por isso tomo descaradamente de emprestimo o excelente relato que o Fã do José Cid preparou para o Bodyspace. Para ler, clique aqui.
Ao ler as muitas crónicas que se encontram na blogoesfera musical sobre este concerto, noto que há muito quem concorde comigo. A banda em si não o fez tão grandioso assim. A interracção com um público em extâse foi o ingrediente mágico que faltava...
Ao ler as muitas crónicas que se encontram na blogoesfera musical sobre este concerto, noto que há muito quem concorde comigo. A banda em si não o fez tão grandioso assim. A interracção com um público em extâse foi o ingrediente mágico que faltava...
2004/06/14
Crónica de um festival que podia ter sido bestial
As movimentações avulsas em torno do ultímo dia do Superbock Superock (o único que interessava, no dizer do Juramento sem Bandeira) deixavam claro que, acontecesse o que acontecesse, o concerto dos Pixies ia ser um evento de proporções míticas, a não perder de forma absolutamente nenhuma... A Ampola resumiu-o, a posteriori, de maneira perfeita: "Tinhas dúvidas?"... Não tinha...
Não tinha dúvidas que para os fãs o concerto seria inesquecível. Mas duvidava do efeito que teria em mim, que nunca foi fã da banda e que, admito, apenas disponho de um conhecimento superficial do seu legado,e por isso me considero um "observador imparcial" (bom, mais ou menos imparcial, pelo menos...). No fundo, queria ver se o rei ia nu...
Tinha também a veleidade de esperar que com um cartaz muito promissor que incluia Massive Attack, Fatboy Slim, Liars, X-Wife e Wraygunn e uma organização muito rodada na produção de festivais, a noite fosse realmente "A Night to Remember"...
Como infelizmente já é sabido por todos, a organização não esteve à altura do crédito que lhe era dado, sendo o recinto totalmente (enfâse no totalmente) desadequado ao número de pessoas que compareceu (50 mil? 70 mil?)... coisas como espera de mais de 45 minutos em filas para comer, beber uma Superbock (mas que raio, afinal até era o patrocinador principal) ou ir a uma casa de banho foram o mais comum... já para na falar na impossibilidade de usar os telemóveis da TMN, cuja rede simplesmente não aguentou a sobrecarga... nota zero, portanto, em tudo o que diga respeito à Superbock e à Música no Coração.
Nota zero também para o alinhamento das bandas. Com X-Wife e Liars a começarem bem cedo, o horário de trabalho, trânsito e distância do parque de estacionamento ao recinto presentearam-me com a entrada no festival no preciso momento em que acabava o concerto dos Liars, cerca das 18h30... tendo assim que aguardar até cerca das 20h30, na companhia de algumas bandas perfeitamente desinteressantes, pelo concerto dos Wraygunn.
Os Wraygunn tiveram o azar de ser "a banda que veio entreter a malta antes do mito...". Apesar de terem dado muito de si, quase ninguém lhes prestou atenção, ocupados que estavam a guardar o melhor lugar possível frente ao palco principal, porque "os Pixies é já a seguir...". Se no início ninguém se mexia ao som da sua música, no fim ainda receberam bastantes aplausos, prova que conseguiram conquistar uma parte do público, que se calhar ali os ouvia pela primeira vez. Infelizmente terão sido poucos, pois o grosso da multidão, por essa altura, já estava noutra.
Entram então os Pixies. Há que dizé-lo com frontalidade: foi excelente. Não sendo fã, diria que isso não se deveu apenas à banda em si. A banda deu bastante de si, mas o que realmente deu à coisa as tais propoções míticas foi o contínuo feedback de energia entre o público e a banda, a entrega total de um público que esperou 13 anos por esse momento, que sabia todas as letras de cor, que pedia as canções que queria ouvir, que gozava o momento até à última... E claro que grandes canções é coisa que não falta no repertório dos Pixies...
E depois? Depois pouco mais havia para dar. Devia me ter ido embora, feliz e contente. Mas não, há aquela ganância e imaturidade que me impedem de reconhecer que nada nessa noite superaria aquele momento, pelo contrário apenas iria manchá-lo, uma ganância que nos leva a dizer "paguei 38 Euros para aqui estar, quero tudo aquilo a que tenho direito...". Sem perceber que daquilo a que havia direito, o que valia a a pena já tinha sido colhido...
Sem ligar ao Lenny Kravitz nem aos Clã, acabei por sair a meio dos Massive Attack, saturado, cansado, com fome, sede e frio, a rogar pragas à organização... Também queria ver Fatboy Slim, mas o corpo já não deixava. Afinal, para poder apreciar as artes, também é preciso algum nível de conforto físico... Se não fosse pelos Pixies, teria sido um bom castigo por ter dito mal do Rock in Rio na semana anterior. Felizmente um concerto de pouco mais de uma hora salvou uma noite inteira de desilusão.
Não tinha dúvidas que para os fãs o concerto seria inesquecível. Mas duvidava do efeito que teria em mim, que nunca foi fã da banda e que, admito, apenas disponho de um conhecimento superficial do seu legado,e por isso me considero um "observador imparcial" (bom, mais ou menos imparcial, pelo menos...). No fundo, queria ver se o rei ia nu...
Tinha também a veleidade de esperar que com um cartaz muito promissor que incluia Massive Attack, Fatboy Slim, Liars, X-Wife e Wraygunn e uma organização muito rodada na produção de festivais, a noite fosse realmente "A Night to Remember"...
Como infelizmente já é sabido por todos, a organização não esteve à altura do crédito que lhe era dado, sendo o recinto totalmente (enfâse no totalmente) desadequado ao número de pessoas que compareceu (50 mil? 70 mil?)... coisas como espera de mais de 45 minutos em filas para comer, beber uma Superbock (mas que raio, afinal até era o patrocinador principal) ou ir a uma casa de banho foram o mais comum... já para na falar na impossibilidade de usar os telemóveis da TMN, cuja rede simplesmente não aguentou a sobrecarga... nota zero, portanto, em tudo o que diga respeito à Superbock e à Música no Coração.
Nota zero também para o alinhamento das bandas. Com X-Wife e Liars a começarem bem cedo, o horário de trabalho, trânsito e distância do parque de estacionamento ao recinto presentearam-me com a entrada no festival no preciso momento em que acabava o concerto dos Liars, cerca das 18h30... tendo assim que aguardar até cerca das 20h30, na companhia de algumas bandas perfeitamente desinteressantes, pelo concerto dos Wraygunn.
Os Wraygunn tiveram o azar de ser "a banda que veio entreter a malta antes do mito...". Apesar de terem dado muito de si, quase ninguém lhes prestou atenção, ocupados que estavam a guardar o melhor lugar possível frente ao palco principal, porque "os Pixies é já a seguir...". Se no início ninguém se mexia ao som da sua música, no fim ainda receberam bastantes aplausos, prova que conseguiram conquistar uma parte do público, que se calhar ali os ouvia pela primeira vez. Infelizmente terão sido poucos, pois o grosso da multidão, por essa altura, já estava noutra.
Entram então os Pixies. Há que dizé-lo com frontalidade: foi excelente. Não sendo fã, diria que isso não se deveu apenas à banda em si. A banda deu bastante de si, mas o que realmente deu à coisa as tais propoções míticas foi o contínuo feedback de energia entre o público e a banda, a entrega total de um público que esperou 13 anos por esse momento, que sabia todas as letras de cor, que pedia as canções que queria ouvir, que gozava o momento até à última... E claro que grandes canções é coisa que não falta no repertório dos Pixies...
E depois? Depois pouco mais havia para dar. Devia me ter ido embora, feliz e contente. Mas não, há aquela ganância e imaturidade que me impedem de reconhecer que nada nessa noite superaria aquele momento, pelo contrário apenas iria manchá-lo, uma ganância que nos leva a dizer "paguei 38 Euros para aqui estar, quero tudo aquilo a que tenho direito...". Sem perceber que daquilo a que havia direito, o que valia a a pena já tinha sido colhido...
Sem ligar ao Lenny Kravitz nem aos Clã, acabei por sair a meio dos Massive Attack, saturado, cansado, com fome, sede e frio, a rogar pragas à organização... Também queria ver Fatboy Slim, mas o corpo já não deixava. Afinal, para poder apreciar as artes, também é preciso algum nível de conforto físico... Se não fosse pelos Pixies, teria sido um bom castigo por ter dito mal do Rock in Rio na semana anterior. Felizmente um concerto de pouco mais de uma hora salvou uma noite inteira de desilusão.
2004/06/11
Recordação de um Superbock passado...
Parece incrível que hoje seja dia de ir ver bandas como os Pixies ou os Massive Attack ao festival Superbock em que se comemoram 10 anos de existência do festival... parece incrível porque já passaram 10 anos sobre o primeiro, de que ainda me lembro tão bem...
Muitos podem já não se lembrar, mas o primeiro Superbock, no início do verão de 1995, na Gare Marítima de Alcântara, foi mesmo único, para a altura, em Portugal...
1995 foi o ano em que começou por cá a tradição dos festivais de rock de verão, com participação de grandes bandas internacionais, pois antes só tinham acontecido as experiências esporádicas dos festivais de Vilar de Mouros nos anos 70 e 80. O primeiro Superbock foi contava com um cartaz muito forte, para a época, e deixou-me para sempre gravadas na memória duas actuações inesquecíveis...
Inesquecível foi a actuação dos Young Gods, ao Por do Sol, debaixo de um ceu cheio de tonalidades de vermelho-roxo lindíssimas, e com a Ponte 25 de Abril como pano de fundo, onde se viam passar os carros já com os farois acesos... se fechar os olhos ainda consigo ouvir aquelas parts instrumentais com um som cheio de espaço para respirar, quais Pink Floyds vindos do inferno, enquanto Franz Treichler navegava por cima das cabeças do público num crowd surfing apotéotico...
Inesquecível também o concerto dos Faith No More, com o animal de palco que era Mike Patton a dar espectáculo e a carregar a banda e o público aos ombros... o concerto no Campo Pequeno, um ano antes, tinha sido ainda melhor, mas ainda assim este também me ficou para sempre gravado na memória... ainda me lembro daquele momento em que Patton salta do palco e apanha em pleno voo uma das muitas garrafas que o publico lhe atirava, a abre e despeja um liquido amarelo muito dúbio (seria cerveja, ou um produto orgânico resultado da ingestão de cerveja?) sobre si próprio... O homem era assim (se calhar ainda é, há anos que não o vejo em concerto)
Será que hoje vai haver alguma actuação inesquecível? Era bom que assim fosse...
Muitos podem já não se lembrar, mas o primeiro Superbock, no início do verão de 1995, na Gare Marítima de Alcântara, foi mesmo único, para a altura, em Portugal...
1995 foi o ano em que começou por cá a tradição dos festivais de rock de verão, com participação de grandes bandas internacionais, pois antes só tinham acontecido as experiências esporádicas dos festivais de Vilar de Mouros nos anos 70 e 80. O primeiro Superbock foi contava com um cartaz muito forte, para a época, e deixou-me para sempre gravadas na memória duas actuações inesquecíveis...
Inesquecível foi a actuação dos Young Gods, ao Por do Sol, debaixo de um ceu cheio de tonalidades de vermelho-roxo lindíssimas, e com a Ponte 25 de Abril como pano de fundo, onde se viam passar os carros já com os farois acesos... se fechar os olhos ainda consigo ouvir aquelas parts instrumentais com um som cheio de espaço para respirar, quais Pink Floyds vindos do inferno, enquanto Franz Treichler navegava por cima das cabeças do público num crowd surfing apotéotico...
Inesquecível também o concerto dos Faith No More, com o animal de palco que era Mike Patton a dar espectáculo e a carregar a banda e o público aos ombros... o concerto no Campo Pequeno, um ano antes, tinha sido ainda melhor, mas ainda assim este também me ficou para sempre gravado na memória... ainda me lembro daquele momento em que Patton salta do palco e apanha em pleno voo uma das muitas garrafas que o publico lhe atirava, a abre e despeja um liquido amarelo muito dúbio (seria cerveja, ou um produto orgânico resultado da ingestão de cerveja?) sobre si próprio... O homem era assim (se calhar ainda é, há anos que não o vejo em concerto)
Será que hoje vai haver alguma actuação inesquecível? Era bom que assim fosse...
2004/06/09
Wraygunn – Eclesiastes 1:11
Série “nós agora queremos é Rock” Cap. 1
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“Let Freedom Reign”... com um sample de um discurso de Martin Luther King e com um sabor dançável que lembra em muito Loaded, um dos maiores êxitos dos Primal Scream (com aquele “We wanna be Free, To do what we wanna do”) começa Soul City, a primeira faixa de Eclesiastes 1:11, o novo disco dos Wraygunn de Paulo “Tiger Man” Furtado.
Segundo ele próprio afirmou, na entrevista que nos concedeu recentemente, este é um disco em que a inspiração principal provém dos Blues. Mas está longe de ser um disco emque os Blues possam ser visto segundo o conceito sonoro tradicionalq ue se associa a essa palavra. Em Eclesiastes 1:11 há um caldeirão de influências distintas, em que o rock, o blues, e as guitarras assumem a primeira linha, mas que não se esgota aí, pois nele se encontram também, entre outros, os sabores do Gospel, da Soul, do Funk, do Punk ou do Hip-Hop, e onde prevalece acima de tudo, uma ideia de energia e de música que é tocada com gosto e convicção.
Alguém já chamou aos Wraygunn a banda mais americana de Portugal, e de facto, tendo em conta quer as influências, quer o resultado final, tal não andará muito longe da verdade. Mas trata-se de uma sonoridade americanizada que nada fica a dever ao produto genuíno feito do outro lado do Atlântico, ao que não será alheio (como o próprio reconhece) o tempo que Paulo Furtado passou nos Estados Unidos em digressão com a sua antiga banda, os Tédio Boys.
Claro que não o disco tem as suas falhas e momentos mais fracos (por exemplo, à voz de Raquel Ralha falta por vezes o corpo e o calor de uma sexy voz negra, como a música parece pedir), e que a carga energética não o torna um álbum adequado para todas as ocasiões. Mas ainda assim, no seu conjunto é um disco bastante interessante.
Quem gosta de rock, e do rock que se faz actualmente, com todo o revival punk, new-wave e 80s, deverá prestar atenção a este disco, pois encontrará nele uma sonoridade algo diferente mas que decerto não desagradará, pela energia, atitude e mistura de influências.
Para além de gostar do disco, e apesar de ainda nunca ter visto um concerto dos Wraygunn, estou certo que há aqui material para actuações ao vivo cheias de garra e de vida. Daqui a 2 dias terei oportunidade de confirmar esta hipótese, pois os Wraygunn sobem ao palco secundário do Super Bock pouco tempo antes da agurdada actuação dos Pixies...
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“Let Freedom Reign”... com um sample de um discurso de Martin Luther King e com um sabor dançável que lembra em muito Loaded, um dos maiores êxitos dos Primal Scream (com aquele “We wanna be Free, To do what we wanna do”) começa Soul City, a primeira faixa de Eclesiastes 1:11, o novo disco dos Wraygunn de Paulo “Tiger Man” Furtado.
Segundo ele próprio afirmou, na entrevista que nos concedeu recentemente, este é um disco em que a inspiração principal provém dos Blues. Mas está longe de ser um disco emque os Blues possam ser visto segundo o conceito sonoro tradicionalq ue se associa a essa palavra. Em Eclesiastes 1:11 há um caldeirão de influências distintas, em que o rock, o blues, e as guitarras assumem a primeira linha, mas que não se esgota aí, pois nele se encontram também, entre outros, os sabores do Gospel, da Soul, do Funk, do Punk ou do Hip-Hop, e onde prevalece acima de tudo, uma ideia de energia e de música que é tocada com gosto e convicção.
Alguém já chamou aos Wraygunn a banda mais americana de Portugal, e de facto, tendo em conta quer as influências, quer o resultado final, tal não andará muito longe da verdade. Mas trata-se de uma sonoridade americanizada que nada fica a dever ao produto genuíno feito do outro lado do Atlântico, ao que não será alheio (como o próprio reconhece) o tempo que Paulo Furtado passou nos Estados Unidos em digressão com a sua antiga banda, os Tédio Boys.
Claro que não o disco tem as suas falhas e momentos mais fracos (por exemplo, à voz de Raquel Ralha falta por vezes o corpo e o calor de uma sexy voz negra, como a música parece pedir), e que a carga energética não o torna um álbum adequado para todas as ocasiões. Mas ainda assim, no seu conjunto é um disco bastante interessante.
Quem gosta de rock, e do rock que se faz actualmente, com todo o revival punk, new-wave e 80s, deverá prestar atenção a este disco, pois encontrará nele uma sonoridade algo diferente mas que decerto não desagradará, pela energia, atitude e mistura de influências.
Para além de gostar do disco, e apesar de ainda nunca ter visto um concerto dos Wraygunn, estou certo que há aqui material para actuações ao vivo cheias de garra e de vida. Daqui a 2 dias terei oportunidade de confirmar esta hipótese, pois os Wraygunn sobem ao palco secundário do Super Bock pouco tempo antes da agurdada actuação dos Pixies...
2004/06/08
O assunto de interesse nacional (título alternativo: nada exagerado)
Round 2 - Madonna vs. Maná - actualização no DD
«Casimiro insistiu na importância da vinda de Madonna a Portugal, lembrando que está prevista também a gravação de um DVD e de um teledisco. «Isto teria uma importância para o País superior à das campanhas do ICEP», frisou. «É um assunto de interesse nacional. Vou lutar até aos meus limites para poder trazer a Madonna a Portugal»». Diário Digital hoje
Proponho um dois em um: no intervalo dos eventuais exorcismos entrava o momento musical assegurado pela Madonna. Pode ser que se salve uma alma danada.
«Casimiro insistiu na importância da vinda de Madonna a Portugal, lembrando que está prevista também a gravação de um DVD e de um teledisco. «Isto teria uma importância para o País superior à das campanhas do ICEP», frisou. «É um assunto de interesse nacional. Vou lutar até aos meus limites para poder trazer a Madonna a Portugal»». Diário Digital hoje
Proponho um dois em um: no intervalo dos eventuais exorcismos entrava o momento musical assegurado pela Madonna. Pode ser que se salve uma alma danada.
Chamem a enfermeira
Saiu ontem o novo álbum dos Sonic Youth o Sonic Nurse (incrível as declinações que a palavra sonic deu origem: guitarras sónicas, distorções sónicas. É uma imagem de marca hoje em dia). Ainda não o comprei, estou com esperança de encontrar preços mais friendly em Londres, mas pelo que li nas críticas (AMG, Pitchforkmedia, saiu também um artigo no DN+ deste sábado) é um trabalho na linha do Murray Street, onde embora não haja nada de verdadeiramente inovador nota-se o aperfeiçoamento do som, da técnica, da tal distorção sónica (de Lee Ranaldo e Thurston Moore). Não escapou aos ouvintes de Murray Street que este era um álbum muito mais audível e low-key, agradável se quisermos, sem comprometer a história ou o percurso da banda. Acho que tem sido um limar do som, que o torna mais melódico. Já estou com imensas cócegas para comprar o novo mas vou esperar uns dias.
Já que estou no assunto, no outro dia tive oportunidade de ouvir uma curiosidade histórica da banda, neste caso um dos muitos projectos paralelos, desta vez só com Thurston Moore e Kim Gordon. Chamou-se Ciccone Youth e deu origem a apenas um trabalho, o The Whitey Album (1988). A palavra Ciccone aponta para uma homenagem (ou sátira? sim, que lá pelo meio há um March of the Ciccone Robots ) a esse ícone dos 80's a Madonna, mas há muitas mais: o Moby-Dick de Melvile, Macbeth de Shakespeare, o grupo Krautrock Neu, etc. Uma espécie de melting pot de referências culturais, onde se destacam alguns covers que receberamm o devido tratamento sónico. Surpreendeu-me muito ouvir Kim Gordon na sua voz monocórdica e blassé cantar "Addicted to Love" do Robert Palmer ou a versão adulterada de "Get into the Grovey" que Thuston Moore fez do clássico da Madonna. Aliás se esta fosse editada hoje em dia, chamar-lhe-iam um monumento electroclash, uma canção pop marcada pelo som de sintetizadores que nos faz lembrar uma Peaches, o que a torna quase ...contemporânea (engraçado isto das voltas e dos revivals, mas desta vez em sentido oposto).
Já sei, haverá os que dirão : "só agora?". É assim, estamos sempre atrasados no que toca à música, e quanto mais escavas mais descobres a tua própria ignorância.
Já que estou no assunto, no outro dia tive oportunidade de ouvir uma curiosidade histórica da banda, neste caso um dos muitos projectos paralelos, desta vez só com Thurston Moore e Kim Gordon. Chamou-se Ciccone Youth e deu origem a apenas um trabalho, o The Whitey Album (1988). A palavra Ciccone aponta para uma homenagem (ou sátira? sim, que lá pelo meio há um March of the Ciccone Robots ) a esse ícone dos 80's a Madonna, mas há muitas mais: o Moby-Dick de Melvile, Macbeth de Shakespeare, o grupo Krautrock Neu, etc. Uma espécie de melting pot de referências culturais, onde se destacam alguns covers que receberamm o devido tratamento sónico. Surpreendeu-me muito ouvir Kim Gordon na sua voz monocórdica e blassé cantar "Addicted to Love" do Robert Palmer ou a versão adulterada de "Get into the Grovey" que Thuston Moore fez do clássico da Madonna. Aliás se esta fosse editada hoje em dia, chamar-lhe-iam um monumento electroclash, uma canção pop marcada pelo som de sintetizadores que nos faz lembrar uma Peaches, o que a torna quase ...contemporânea (engraçado isto das voltas e dos revivals, mas desta vez em sentido oposto).
Já sei, haverá os que dirão : "só agora?". É assim, estamos sempre atrasados no que toca à música, e quanto mais escavas mais descobres a tua própria ignorância.
2004/06/07
Balanço do Rock in Rio por quem “Não Foi”
O Rock in Rio lá acabou. Parece que no último dia sempre se conseguiu o tal número mágico dos 100.000, com uma ajudinha de São Sting... bom, para um total de 358.000 espectadores contra os 600.000 anunciados / esperados, a coisa fica com ar de fiasco...
Ainda assim, a minha teoria dos 300.000 parece ter saído furada, pois foi já anunciado nova edição do Rock in Rio em Lisboa em 2006. Ora se antes se falava em 2007, e até decidiram antecipar a coisa, deve ter sido porque a organização ficou bem contente com o resultado final ...
Já que vão voltar, pedia, se não fosse pedir muito, que daqui a 2 anos encontrassem soluções de marketing menos agressivas e saturantes... e que não andassem sempre a apregoar o “mundo melhor”.... Quanto ao cartaz, era bom que fosse um pouco mais apelativo e actual para também eu ter vontade de ir à festa, mas isso, pelas razões de estratégia explicadas anteriormente, não me parece que vá acontecer...
Pelo que pude ver na televisão, quem foi parece ter gostado bastante dos concertos. Ao menos isso, pois como disse antes, tendo em conta o elevado preço dos bilhetes, cai bem ver que quem desembolsou o seu dinheiro o deu por bem entregue... (excepto talvez os fãs da Britney, pois esses parece que tiveram uma desilusão...)
No Público de hoje, Vítor Belanciano explicava porque é que este Rock in Rio acaba por deixar um sabor agridoce: prometeram-nos o maior festival do mundo, que traria multidões de estrangeiros a Portugal, e envolveria a cidade numa festa multicultural, e deram nos um festival que terá sido o maior que se fez em Portugal (mas que até nem foi nada de extraordinário comparado com o que regularmente se faz por essa Europa fora todos os verões), cujo impacto se verificou essencialmente sobre o público lisboeta, e em que não se viu nenhuma daquelas actuações inesquecíveis e de que se falará por muitos e bons anos (vide Portishead, Sudoeste 1998 por exemplo)... gostava de poder deixa aqui o artigo, para memória futura, mas infelizmente está inacessível no Público On-line...
Ainda assim, a minha teoria dos 300.000 parece ter saído furada, pois foi já anunciado nova edição do Rock in Rio em Lisboa em 2006. Ora se antes se falava em 2007, e até decidiram antecipar a coisa, deve ter sido porque a organização ficou bem contente com o resultado final ...
Já que vão voltar, pedia, se não fosse pedir muito, que daqui a 2 anos encontrassem soluções de marketing menos agressivas e saturantes... e que não andassem sempre a apregoar o “mundo melhor”.... Quanto ao cartaz, era bom que fosse um pouco mais apelativo e actual para também eu ter vontade de ir à festa, mas isso, pelas razões de estratégia explicadas anteriormente, não me parece que vá acontecer...
Pelo que pude ver na televisão, quem foi parece ter gostado bastante dos concertos. Ao menos isso, pois como disse antes, tendo em conta o elevado preço dos bilhetes, cai bem ver que quem desembolsou o seu dinheiro o deu por bem entregue... (excepto talvez os fãs da Britney, pois esses parece que tiveram uma desilusão...)
No Público de hoje, Vítor Belanciano explicava porque é que este Rock in Rio acaba por deixar um sabor agridoce: prometeram-nos o maior festival do mundo, que traria multidões de estrangeiros a Portugal, e envolveria a cidade numa festa multicultural, e deram nos um festival que terá sido o maior que se fez em Portugal (mas que até nem foi nada de extraordinário comparado com o que regularmente se faz por essa Europa fora todos os verões), cujo impacto se verificou essencialmente sobre o público lisboeta, e em que não se viu nenhuma daquelas actuações inesquecíveis e de que se falará por muitos e bons anos (vide Portishead, Sudoeste 1998 por exemplo)... gostava de poder deixa aqui o artigo, para memória futura, mas infelizmente está inacessível no Público On-line...
2004/06/04
Entrevista Wraygunn
Os Wraygunn são uma banda de Coimbra composta por elementos veteranos nas lides do Rock e que editaram muito recentemente o seu 2.º disco, Eclesiastes 1:11. O vocalista Paulo Furtado (também conhecido como Legendary Tiger Man) concedeu-nos uma descontraída entrevista em que houve tempo para falar de tudo um pouco:
A Corneta: Sabemos que antes dos Wraygunn estiveste nos Tédio Boys e és também conhecido como Legendary Tiger Man. Poderias começar por explicar um pouco o vosso percurso?
Paulo Furtado: Basicamente a primeira banda a que se possa chamar isso em que estive foram os Tédio Boys, que começaram em 1989, depois disso tive em dois projectos que começaram mais ou menos ao mesmo tempo, na altura em que acabaram os Tédio Boys, que são o meu projecto a solo, o Legendary Tiger Man e os Wraygunn. A Raquel [Ralha, voz] e o Pedro Pinto [bateria] pertencem aos Belle Chase Hotel e ao Azembla’s Quartet, e o Sérgio Cardoso [baixo, voz] pertenceu aos Émasfoi-se.
AC: Como é que fazem para conciliar os vossos outros projectos com os Wraygunn?
PF: Acho que para todas as pessoas a prioridade é Wraygunn.
AC: Por o álbum ter saído agora?
PF: Não. Desde sempre a prioridade foi Wraygunn. Se calhar menos para a Raquel que veio dos Belle Chase Hotel e esse foi se calhar o primeiro projecto onde ela ganhou mais preponderância, mas como também é uma coisa que está mais ou menos parada neste momento... acho que sem dúvida para já para toda a gente a prioridade é Wraygunn.
AC: Hoje em dia fala-se da cena musical de Coimbra como o novo centro do rock do país. De certa forma és um pouco um dos pilares dessa cena. Como é que a encaras? Vês te como pioneiro?
PF: Não, eu acho que sempre foi assim, já desde os Émasfoise, desde os Tédio Boys, desde uma série de outras bandas que se calhar nunca saíram o suficiente para fora de Coimbra ou para fora de um certo âmbito regional, acho que há lá um microclima de Rock’n’Roll, disso não tenho dúvida.
AC: Mas isso como é que se justifica? É por causa da universidade, por haver em Coimbra muitos estudantes?
PF: Não, acho que não tem mesmo nada a ver com isso, muito pelo contrário, porque a maior parte das pessoas são de Coimbra. Acho que os grandes responsáveis por isso, em última análise, foram os Tédio Boys. Acho que foi um fenómeno importante. Mesmo o modo das pessoas estarem na rua durante muitos anos acho que foi bastante alterado pelo facto de terem existido os Tédio Boys.
AC: Nos Wraygunn o vosso som é bastante eclético, têm referências a rock, mas também blues, soul, funk, punk e hip-hop. É um resultado que buscam desde o início ou resulta das influências dos diferentes membros do grupo?
PF: Acho que é as duas coisas. É pretendido desde o início, mas acho que só agora é que realmente conseguimos criar um som que eu considero que junta tudo isto e que resulta. Basicamente acho que no primeiro disco havia músicas em que isso resultava e havia outras em que isso falhava. Este disco já está bastante mais coeso.
AC: E destas referências todas o que é que vos marca mais como banda?
PF: Eu vou responder por mim, e se calhar não pela banda. Por mim acaba sempre por ser os blues, neste momento pelo menos. A maior parte das linhas de guitarra tem a ver com blues e se calhar isso não resultou num disco de blues porque o próprio tratamento que nós demos às músicas não direcciona este álbum apenas para os blues ou para o deixar compartimentável apenas nos blues. Mas acho que é a linha condutora deste disco.
AC: Se isto fosse blues, era o blues infernal do ano 2000, não é?
PF: E acaba por ser um bocado. Acho que há muitas coisas em que tentamos manter os blues de algum modo vivos e contemporâneos.
AC: Quando ouço o vosso álbum lembro-me de nomes como Primal Scream, Happy Mondays, Stone Roses e também John Spencer Blues Explosion. São vossas influências, ou mais uma vez é pura coincidência?
PF: Os Blues Explosion são. Os outros… indirectamente, talvez, num ou outro membro da banda.
AC: Quais são então as vossas influências?
PF: Posso dizer que o baixista 90% do que ouve é Reggae e Dub, o baterista ouve um bocado de tudo, eu ouço também muita coisa... é um bocado de tudo... A grande influência acho que são os blues. Depois há uma série de coisas... eu ouço muitas vezes, adoro rumbas e cha-cha-chas e tangos antigos, e se calhar há coisas que neste disco não estão logo instantaneamente claras mas que acabam por estar lá. No fundo há muitas coisas que influenciaram este disco, muitos géneros, desde o drum’n’bass até ás rumbas, que eu acho que têm espaço neste disco, se calhar não de uma maneira óbvia, visível assim à primeira, mas que acho que estão presentes.
AC: A primeira faixa, Soul City, faz imenso lembrar o Loaded dos Primal Scream...
PF: Já alguém me tinha dito isso...
AC: Qual é o sample que vocês usaram para o discurso? É o Martin Luther King?
PF: Exactamente...
AC: Pois, é por isso que faz muito lembrar... Não foi intencional?
PF: Não.
AC: Como é que vocês encaram, ou se enquadram, na ressureição do rock a que se assiste actualmente? Entusiasmam-vos bandas como Scissor Sisters ou Franz Ferdinand? O revivalismo dos anos 80?
PF: Há coisas que são engraçadas. Mas as coisas mais engraçadas que estão agora em força eu já gostava também antes. Se calhar por terem tido mais visibilidade, por exemplo como os White Stripes, que acho uma banda bastante interessante e que é óptimo que tenham estado em número 1 em Inglaterra, há esperança para géneros de música mais alternativos... de resto acho que vai havendo alguns projectos interessantes, sempre, no meio disso, mas acho que a maior parte acaba por ser também uma coisa passageira, que vai durar 2 anos ou 3 e pronto...
AC: Mas o sucesso destas bandas abre portas ao vosso som, ou nem por isso?
PF: Acho que não. Acho que nós temos a atitude rock’n’roll mas acho que não podemos fazer as coisas como eram feitas no passado, temos sempre que tentar fazer qualquer coisa mais interessante ou tentar dar alguma coisa ao género. Eu acho que a maior parte dessas bandas de rock’n’roll estão a fazer exactamente o que se fazia há 20 ou 25 anos. Acho isso uma perfeita perda de tempo porque as bandas da altura eram bastante melhores.
AC: Isso leva-me directamente à pergunta seguinte: a citação de Eclesiastes 1.11 “Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser, também delas não haverá lembrança entre aqueles que hão de vir depois.” É uma metáfora ao mundo da música, à pilhagem e mistura de estilos e à efemeridade das modas?
PF: Para nós é o estado do mundo neste momento, é uma coisa que vês no dia a dia, nas coisas mais simples, em que não tens tempo para reflectir sobre quase nada, em que estás sempre a passar de uma coisa para a outra, em que não tens tempo para almoçar devidamente e por isso vais comer ao Mc Donalds... acho que a maior parte das pessoas sofre de um consumismo imediato, não dá tempo para as pessoas pensarem porque é que estão a comprar um livro, ou porque é que estão a comprar um cd ou um dvd e não estão a comprar outro, ou se o fazem porque são assediadas pela publicidade. Nós gostamos de reflectir as coisas, gostamos de ir buscar coisas ao passado, porque acreditamos que também há o futuro, e queremos fazer as coisas o melhor possível porque aquilo que estamos a fazer, no fundo, daqui a 500 anos, é a única coisa que vai ficar nossa... basicamente acreditamos que as coisas têm consequências e têm que ser levadas a sério... mas não é uma crítica social, é um ambiente em que nós vivemos, em que nós próprios nalgumas coisas também sucumbimos a isso... é uma espécie de um “alerta”.
AC: É a mensagem do disco?
PF: Não. A mensagem do disco acho que é completamente diferente, é uma mensagem de optimismo... logo pela abertura, pelo discurso do Martin Luther King, acho que isso reflecte mais para mim a mensagem do disco, do que propriamente o título.
AC: Mas para quem não ouvir o disco a imagem que passa é a da lixeira, da capa e da contracapa. Há então uma dualidade, o visual versus o que está na música. É propositado fazer este contraste?
PF: É. Eu quando faço a parte gráfica gosto que as coisas façam sentido, que existam por alguma razão, daí que a lixeira obviamente é uma referência a todas as coisas que nós já não queremos usar do nosso passado, queremos fingir que não existem...
AC: Vocês cantam em inglês. Foi escolhido por ser a linguagem do rock e do blues, para facilitar a aceitação, porque é o que sai mais natural?
PF: Eu acho que facilita, de certeza absoluta no estrangeiro. Em relação ao rock português, eu realmente tinha uma outra música que depois não tive tempo de acabar para este disco que era em português. Mas normalmente sai em inglês... até por ser a linguagem nativa do blues e do rock’n’roll, há determinadas coisas que acaba por ser bastante mais complicado compor em português. Há outras que são naturalmente em português. Um fado em inglês, por exemplo, é uma coisa estranha. Havia uma versão da Amália para o Summertime que era um bocado estranha...
AC: Portanto para cantar na linha do rock e do blues tem que ser em inglês?
PF: Não tem que ser. Aliás no outro álbum tivemos uma canção em português. Eu é que de algum modo não consigo exprimir em português o que consigo exprimir em inglês. No outro álbum convidámos o Adolfo [Luxúria Canibal, dos Mão Morta], e acho que o resultado foi porreiro, conseguiu fazer uma interpretação óptima.
AC: Mas os Mão Morta cantam quase sempre em português...
PF: Lá está. Mas eu acho que se fosse eu a cantar em português, por exemplo, se calhar aquela música não resultava credível.
AC: Como é a experiência Wraygunn ao vivo?
PF: Pelo nosso lado, é dar o máximo que se pode dar, como se fosse o último concerto das nossas vidas... acho que o fundamento das bandas, sempre, à parte dos discos que são mais uma “marca para a posteridade”, é tocar ao vivo. E deve ser boa ao vivo. E fundamentalmente é isso que nos interessa.
AC: Vão tocar no festival Super Bock Super Rock no dia em que se espera que haja mais afluência de público, por causa dos Pixies e dos Massive Attack... Trata-se de uma oportunidade de chegar ao um público mais vasto, ou é uma responsabilidade muito grande?
PF: Não, nós já quando lançamos o outro disco tocámos no palco principal em Paredes de Coura e já tivemos bastantes concertos “grandes”. Acho que é uma oportunidade de as pessoas que já nos conhecem verem as alterações que a banda sofreu e é uma óptima oportunidade de apresentar o nosso trabalho...
AC: Vão partilhar o palco com outras bandas portuguesas emergentes e outras mais estabelecidas. São fãs de algumas delas?
PF: Gosto dos Clã. Ainda não ouvi o último álbum mas acho que é uma banda que tem muito valor e que merecem aquilo que têm. Dos X-Wife, nossos colegas de editora, gosto bastante. Os Loosers ainda não ouvi, mas tenho ouvido dizer muito bem.
AC: Sabemos que os vossos vídeos costumam ter argumentos, feitos por ti, e que o próximo será inspirado no fotográfo La Chapelle. Vale a pena investir nesta forma de divulgação do disco, tendo em conta a divulgação relativamente pequena que os vídeos têm, em Portugal, ondem tendem a só passar no cabo?
PF: O video é sempre uma mais valia, por exemplo para quando tivermos o disco editado para a Europa... e mesmo em Portugal já têm bastante mais rodagem do que tinham anteriormente. Claro que é só na TV Cabo... Acho que uma das coisas que está a impedir que as bandas portuguesas cresçam, e neste momento acho que há muitas bandas portuguesas boas, é o facto de realmente a televisão nacional e a televisão estatal se estar completamente a “cagar” na música portuguesa... não há outra palavra, é mesmo essa. E acho que é a única coisa que impede o grande público de tomar contacto e de se aperceber que há muitas bandas em Portugal a fazer coisas interessantes.
AC: Mas isso liga ao problema das rádios nacionais operarem todas por playlist e não haver muito espaço para divulgação de coisas novas, e das editoras insistirem em tentar impor quotas de música nacional nas rádios como meio de combater esse fenómeno. Como banda portuguesa, vocês são os principais prejudicados... o que pensam disto?
PF: As playlists acho que não há como dar a volta á situação. Há de sempre haver playlists e há de sempre haver programas de autor. Se calhar era bom que houvesse mais programas de autor. Mas não há nada a fazer, é o modo como as coisas funcionam... Quanto às quotas acho um absurdo... como já disse uma vez, para simplificar a questão acho que 30% de merda portuguesa ou inglesa acaba sempre por ser 30% de merda... Acho que o que é preciso melhorar é a qualidade da rádio, independentemente de se passar música portuguesa, inglesa, chinesa, japonesa...
AC: Já trabalhaste em rádio?
PF: Trabalhei durante muito pouco tempo na Rádio Universidade de Coimbra. Mas falava demais...fui dispensado em muito pouco tempo...
AC: Quais são os vossos projectos para a promoção do álbum?
PF: O próximo passo é naturalmente a negociação. Há 2 ou 3 editoras interessadas e vai resolver-se nas próximas semanas a edição para a Europa. E a partir daí vou tentar tocar na Europa como estou a fazer com o meu projecto a solo...
AC: Como tem sido a aceitação desse projecto lá fora? Tem sido principalmente tocado para as comunidades portuguesas?
PF: É uma coisa curiosa, em todos os meus projectos, incluindo os Tédio Boys, que tiveram quase 500 concertos nos Estados Unidos, nunca tocámos para comunidades portuguesas. O que me leva a pensar... coisas estranhas (risos)... acho que os portugueses também não são um povo que por livre e espontânea vontade queira experimentar muitas coisas, que queira perceber o que é que está por baixo de uma capa ou de um revestimento. Acho que isso se nota porque há muitos artistas portugueses que dizem “Ah, eu vou tocar a Berlin, eu vou tocar a Paris” e no fundo estão a fazer uma extensão do público português em França, aqui e ali... não é a mesma coisa que realmente estar a tocar para franceses, para espanhóis... Acho que era bom que houvesse cada vez mais bandas portuguesas a serem internacionais, acho que era fantástico para toda a gente...
AC: Referiste que com os Tédio Boys tocaste mais de 500 concertos nos Estados Unidos. É daí que vem a influência dos Blues e do Rock?
PF: Sim, acho que durante as tournées aprendi muito com vários guitarristas e acho que evolui muito mais a partir desse contacto do que em todos os anos anteriores...
AC: Mas o som dos Tédio Boys era uma coisa um bocado mais Rockabilly...
PF: Não, lá está, acho que os Tédio Boys tinham uma postura engraçada e se não tivessem acabado estariam onde estão os Strokes hoje. Não tenho a mínima dúvida disso. Mas como sempre, nós fazíamos as coisas enquanto as coisas nos davam gozo, e as coisas deixaram de dar gozo entre nós... portanto a coisa acabou, mas acho que foi uma banda que esteve também um bocado à frente do seu tempo apesar de ir buscar coisas atrás... tinha um som bastante característico e curiosamente há um quarto álbum que nunca saiu e eu continuo a fazer alguma pressão na editora nos Estados Unidos para que saia... por acaso é um álbum muito interessante e eu gostava imenso que fosse comercializado porque acho que é realmente o nosso melhor material.
Ler mais? Disco Digital; Clix
A Corneta: Sabemos que antes dos Wraygunn estiveste nos Tédio Boys e és também conhecido como Legendary Tiger Man. Poderias começar por explicar um pouco o vosso percurso?
Paulo Furtado: Basicamente a primeira banda a que se possa chamar isso em que estive foram os Tédio Boys, que começaram em 1989, depois disso tive em dois projectos que começaram mais ou menos ao mesmo tempo, na altura em que acabaram os Tédio Boys, que são o meu projecto a solo, o Legendary Tiger Man e os Wraygunn. A Raquel [Ralha, voz] e o Pedro Pinto [bateria] pertencem aos Belle Chase Hotel e ao Azembla’s Quartet, e o Sérgio Cardoso [baixo, voz] pertenceu aos Émasfoi-se.
AC: Como é que fazem para conciliar os vossos outros projectos com os Wraygunn?
PF: Acho que para todas as pessoas a prioridade é Wraygunn.
AC: Por o álbum ter saído agora?
PF: Não. Desde sempre a prioridade foi Wraygunn. Se calhar menos para a Raquel que veio dos Belle Chase Hotel e esse foi se calhar o primeiro projecto onde ela ganhou mais preponderância, mas como também é uma coisa que está mais ou menos parada neste momento... acho que sem dúvida para já para toda a gente a prioridade é Wraygunn.
AC: Hoje em dia fala-se da cena musical de Coimbra como o novo centro do rock do país. De certa forma és um pouco um dos pilares dessa cena. Como é que a encaras? Vês te como pioneiro?
PF: Não, eu acho que sempre foi assim, já desde os Émasfoise, desde os Tédio Boys, desde uma série de outras bandas que se calhar nunca saíram o suficiente para fora de Coimbra ou para fora de um certo âmbito regional, acho que há lá um microclima de Rock’n’Roll, disso não tenho dúvida.
AC: Mas isso como é que se justifica? É por causa da universidade, por haver em Coimbra muitos estudantes?
PF: Não, acho que não tem mesmo nada a ver com isso, muito pelo contrário, porque a maior parte das pessoas são de Coimbra. Acho que os grandes responsáveis por isso, em última análise, foram os Tédio Boys. Acho que foi um fenómeno importante. Mesmo o modo das pessoas estarem na rua durante muitos anos acho que foi bastante alterado pelo facto de terem existido os Tédio Boys.
AC: Nos Wraygunn o vosso som é bastante eclético, têm referências a rock, mas também blues, soul, funk, punk e hip-hop. É um resultado que buscam desde o início ou resulta das influências dos diferentes membros do grupo?
PF: Acho que é as duas coisas. É pretendido desde o início, mas acho que só agora é que realmente conseguimos criar um som que eu considero que junta tudo isto e que resulta. Basicamente acho que no primeiro disco havia músicas em que isso resultava e havia outras em que isso falhava. Este disco já está bastante mais coeso.
AC: E destas referências todas o que é que vos marca mais como banda?
PF: Eu vou responder por mim, e se calhar não pela banda. Por mim acaba sempre por ser os blues, neste momento pelo menos. A maior parte das linhas de guitarra tem a ver com blues e se calhar isso não resultou num disco de blues porque o próprio tratamento que nós demos às músicas não direcciona este álbum apenas para os blues ou para o deixar compartimentável apenas nos blues. Mas acho que é a linha condutora deste disco.
AC: Se isto fosse blues, era o blues infernal do ano 2000, não é?
PF: E acaba por ser um bocado. Acho que há muitas coisas em que tentamos manter os blues de algum modo vivos e contemporâneos.
AC: Quando ouço o vosso álbum lembro-me de nomes como Primal Scream, Happy Mondays, Stone Roses e também John Spencer Blues Explosion. São vossas influências, ou mais uma vez é pura coincidência?
PF: Os Blues Explosion são. Os outros… indirectamente, talvez, num ou outro membro da banda.
AC: Quais são então as vossas influências?
PF: Posso dizer que o baixista 90% do que ouve é Reggae e Dub, o baterista ouve um bocado de tudo, eu ouço também muita coisa... é um bocado de tudo... A grande influência acho que são os blues. Depois há uma série de coisas... eu ouço muitas vezes, adoro rumbas e cha-cha-chas e tangos antigos, e se calhar há coisas que neste disco não estão logo instantaneamente claras mas que acabam por estar lá. No fundo há muitas coisas que influenciaram este disco, muitos géneros, desde o drum’n’bass até ás rumbas, que eu acho que têm espaço neste disco, se calhar não de uma maneira óbvia, visível assim à primeira, mas que acho que estão presentes.
AC: A primeira faixa, Soul City, faz imenso lembrar o Loaded dos Primal Scream...
PF: Já alguém me tinha dito isso...
AC: Qual é o sample que vocês usaram para o discurso? É o Martin Luther King?
PF: Exactamente...
AC: Pois, é por isso que faz muito lembrar... Não foi intencional?
PF: Não.
AC: Como é que vocês encaram, ou se enquadram, na ressureição do rock a que se assiste actualmente? Entusiasmam-vos bandas como Scissor Sisters ou Franz Ferdinand? O revivalismo dos anos 80?
PF: Há coisas que são engraçadas. Mas as coisas mais engraçadas que estão agora em força eu já gostava também antes. Se calhar por terem tido mais visibilidade, por exemplo como os White Stripes, que acho uma banda bastante interessante e que é óptimo que tenham estado em número 1 em Inglaterra, há esperança para géneros de música mais alternativos... de resto acho que vai havendo alguns projectos interessantes, sempre, no meio disso, mas acho que a maior parte acaba por ser também uma coisa passageira, que vai durar 2 anos ou 3 e pronto...
AC: Mas o sucesso destas bandas abre portas ao vosso som, ou nem por isso?
PF: Acho que não. Acho que nós temos a atitude rock’n’roll mas acho que não podemos fazer as coisas como eram feitas no passado, temos sempre que tentar fazer qualquer coisa mais interessante ou tentar dar alguma coisa ao género. Eu acho que a maior parte dessas bandas de rock’n’roll estão a fazer exactamente o que se fazia há 20 ou 25 anos. Acho isso uma perfeita perda de tempo porque as bandas da altura eram bastante melhores.
AC: Isso leva-me directamente à pergunta seguinte: a citação de Eclesiastes 1.11 “Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser, também delas não haverá lembrança entre aqueles que hão de vir depois.” É uma metáfora ao mundo da música, à pilhagem e mistura de estilos e à efemeridade das modas?
PF: Para nós é o estado do mundo neste momento, é uma coisa que vês no dia a dia, nas coisas mais simples, em que não tens tempo para reflectir sobre quase nada, em que estás sempre a passar de uma coisa para a outra, em que não tens tempo para almoçar devidamente e por isso vais comer ao Mc Donalds... acho que a maior parte das pessoas sofre de um consumismo imediato, não dá tempo para as pessoas pensarem porque é que estão a comprar um livro, ou porque é que estão a comprar um cd ou um dvd e não estão a comprar outro, ou se o fazem porque são assediadas pela publicidade. Nós gostamos de reflectir as coisas, gostamos de ir buscar coisas ao passado, porque acreditamos que também há o futuro, e queremos fazer as coisas o melhor possível porque aquilo que estamos a fazer, no fundo, daqui a 500 anos, é a única coisa que vai ficar nossa... basicamente acreditamos que as coisas têm consequências e têm que ser levadas a sério... mas não é uma crítica social, é um ambiente em que nós vivemos, em que nós próprios nalgumas coisas também sucumbimos a isso... é uma espécie de um “alerta”.
AC: É a mensagem do disco?
PF: Não. A mensagem do disco acho que é completamente diferente, é uma mensagem de optimismo... logo pela abertura, pelo discurso do Martin Luther King, acho que isso reflecte mais para mim a mensagem do disco, do que propriamente o título.
AC: Mas para quem não ouvir o disco a imagem que passa é a da lixeira, da capa e da contracapa. Há então uma dualidade, o visual versus o que está na música. É propositado fazer este contraste?
PF: É. Eu quando faço a parte gráfica gosto que as coisas façam sentido, que existam por alguma razão, daí que a lixeira obviamente é uma referência a todas as coisas que nós já não queremos usar do nosso passado, queremos fingir que não existem...
AC: Vocês cantam em inglês. Foi escolhido por ser a linguagem do rock e do blues, para facilitar a aceitação, porque é o que sai mais natural?
PF: Eu acho que facilita, de certeza absoluta no estrangeiro. Em relação ao rock português, eu realmente tinha uma outra música que depois não tive tempo de acabar para este disco que era em português. Mas normalmente sai em inglês... até por ser a linguagem nativa do blues e do rock’n’roll, há determinadas coisas que acaba por ser bastante mais complicado compor em português. Há outras que são naturalmente em português. Um fado em inglês, por exemplo, é uma coisa estranha. Havia uma versão da Amália para o Summertime que era um bocado estranha...
AC: Portanto para cantar na linha do rock e do blues tem que ser em inglês?
PF: Não tem que ser. Aliás no outro álbum tivemos uma canção em português. Eu é que de algum modo não consigo exprimir em português o que consigo exprimir em inglês. No outro álbum convidámos o Adolfo [Luxúria Canibal, dos Mão Morta], e acho que o resultado foi porreiro, conseguiu fazer uma interpretação óptima.
AC: Mas os Mão Morta cantam quase sempre em português...
PF: Lá está. Mas eu acho que se fosse eu a cantar em português, por exemplo, se calhar aquela música não resultava credível.
AC: Como é a experiência Wraygunn ao vivo?
PF: Pelo nosso lado, é dar o máximo que se pode dar, como se fosse o último concerto das nossas vidas... acho que o fundamento das bandas, sempre, à parte dos discos que são mais uma “marca para a posteridade”, é tocar ao vivo. E deve ser boa ao vivo. E fundamentalmente é isso que nos interessa.
AC: Vão tocar no festival Super Bock Super Rock no dia em que se espera que haja mais afluência de público, por causa dos Pixies e dos Massive Attack... Trata-se de uma oportunidade de chegar ao um público mais vasto, ou é uma responsabilidade muito grande?
PF: Não, nós já quando lançamos o outro disco tocámos no palco principal em Paredes de Coura e já tivemos bastantes concertos “grandes”. Acho que é uma oportunidade de as pessoas que já nos conhecem verem as alterações que a banda sofreu e é uma óptima oportunidade de apresentar o nosso trabalho...
AC: Vão partilhar o palco com outras bandas portuguesas emergentes e outras mais estabelecidas. São fãs de algumas delas?
PF: Gosto dos Clã. Ainda não ouvi o último álbum mas acho que é uma banda que tem muito valor e que merecem aquilo que têm. Dos X-Wife, nossos colegas de editora, gosto bastante. Os Loosers ainda não ouvi, mas tenho ouvido dizer muito bem.
AC: Sabemos que os vossos vídeos costumam ter argumentos, feitos por ti, e que o próximo será inspirado no fotográfo La Chapelle. Vale a pena investir nesta forma de divulgação do disco, tendo em conta a divulgação relativamente pequena que os vídeos têm, em Portugal, ondem tendem a só passar no cabo?
PF: O video é sempre uma mais valia, por exemplo para quando tivermos o disco editado para a Europa... e mesmo em Portugal já têm bastante mais rodagem do que tinham anteriormente. Claro que é só na TV Cabo... Acho que uma das coisas que está a impedir que as bandas portuguesas cresçam, e neste momento acho que há muitas bandas portuguesas boas, é o facto de realmente a televisão nacional e a televisão estatal se estar completamente a “cagar” na música portuguesa... não há outra palavra, é mesmo essa. E acho que é a única coisa que impede o grande público de tomar contacto e de se aperceber que há muitas bandas em Portugal a fazer coisas interessantes.
AC: Mas isso liga ao problema das rádios nacionais operarem todas por playlist e não haver muito espaço para divulgação de coisas novas, e das editoras insistirem em tentar impor quotas de música nacional nas rádios como meio de combater esse fenómeno. Como banda portuguesa, vocês são os principais prejudicados... o que pensam disto?
PF: As playlists acho que não há como dar a volta á situação. Há de sempre haver playlists e há de sempre haver programas de autor. Se calhar era bom que houvesse mais programas de autor. Mas não há nada a fazer, é o modo como as coisas funcionam... Quanto às quotas acho um absurdo... como já disse uma vez, para simplificar a questão acho que 30% de merda portuguesa ou inglesa acaba sempre por ser 30% de merda... Acho que o que é preciso melhorar é a qualidade da rádio, independentemente de se passar música portuguesa, inglesa, chinesa, japonesa...
AC: Já trabalhaste em rádio?
PF: Trabalhei durante muito pouco tempo na Rádio Universidade de Coimbra. Mas falava demais...fui dispensado em muito pouco tempo...
AC: Quais são os vossos projectos para a promoção do álbum?
PF: O próximo passo é naturalmente a negociação. Há 2 ou 3 editoras interessadas e vai resolver-se nas próximas semanas a edição para a Europa. E a partir daí vou tentar tocar na Europa como estou a fazer com o meu projecto a solo...
AC: Como tem sido a aceitação desse projecto lá fora? Tem sido principalmente tocado para as comunidades portuguesas?
PF: É uma coisa curiosa, em todos os meus projectos, incluindo os Tédio Boys, que tiveram quase 500 concertos nos Estados Unidos, nunca tocámos para comunidades portuguesas. O que me leva a pensar... coisas estranhas (risos)... acho que os portugueses também não são um povo que por livre e espontânea vontade queira experimentar muitas coisas, que queira perceber o que é que está por baixo de uma capa ou de um revestimento. Acho que isso se nota porque há muitos artistas portugueses que dizem “Ah, eu vou tocar a Berlin, eu vou tocar a Paris” e no fundo estão a fazer uma extensão do público português em França, aqui e ali... não é a mesma coisa que realmente estar a tocar para franceses, para espanhóis... Acho que era bom que houvesse cada vez mais bandas portuguesas a serem internacionais, acho que era fantástico para toda a gente...
AC: Referiste que com os Tédio Boys tocaste mais de 500 concertos nos Estados Unidos. É daí que vem a influência dos Blues e do Rock?
PF: Sim, acho que durante as tournées aprendi muito com vários guitarristas e acho que evolui muito mais a partir desse contacto do que em todos os anos anteriores...
AC: Mas o som dos Tédio Boys era uma coisa um bocado mais Rockabilly...
PF: Não, lá está, acho que os Tédio Boys tinham uma postura engraçada e se não tivessem acabado estariam onde estão os Strokes hoje. Não tenho a mínima dúvida disso. Mas como sempre, nós fazíamos as coisas enquanto as coisas nos davam gozo, e as coisas deixaram de dar gozo entre nós... portanto a coisa acabou, mas acho que foi uma banda que esteve também um bocado à frente do seu tempo apesar de ir buscar coisas atrás... tinha um som bastante característico e curiosamente há um quarto álbum que nunca saiu e eu continuo a fazer alguma pressão na editora nos Estados Unidos para que saia... por acaso é um álbum muito interessante e eu gostava imenso que fosse comercializado porque acho que é realmente o nosso melhor material.
Ler mais? Disco Digital; Clix
Eu vou, eu vou, eu vou ao Rock in Rio eu vou (*)
Começa amanhã o segundo (e último) fim de semana do famigerado Rock in Rio. No primeiro fim de semana, segundo o Público, ao invés das 300.000 pessoas esperadas (seria melhor dizer antes “desejadas”) pela organização, passaram por lá apenas 140.700 pessoas, ou seja menos de 50.000 pessoas por dia. Ainda assim, a organização do Rock in Rio está optimista pois conta com Sting como trunfo para levar uma grande enchente ao recinto.
Quando vejo que o número de espectadores não chegou sequer aos 50.000 dá me vontade de perguntar para quê tanto barulho, tanta cobertura mediática e tantas medidas de segurança (incluindo exclusão temporária do espaço Schengen)... Afinal de contas, há coisa de 10 anos os Pink Floyd encheram por 2 noites consecutivas o antigo estádio de Alvalade com mais de 60.000 pessoas em cada noite, e nessa altura não houve nada que se comparasse com este circo mediático Rock-in-Rioense, nem transportes públicos com horários especiais, nem medidas de segurança excepcionais, nem nada disso. E o que é certo é que esgotou!... Na altura lembro-me que nunca tinha visto tanta gente junta num espaço tão pequeno...
Quanto ao festival em si, desde o seu anúncio que me admiro com a estratégia de marketing seguida pela organização. E convenhamos que é uma estratégia no mínimo arrojada: no fundo trata-se de vender um festival de rock às pessoas que não vão, por regra, a festivais de rock. Esta estratégia justifica todos os truques de marketing usados na sua promoção: gala de apresentação, convidados vip borlistas, promoção por artistas de telenovela brasileira, saturação de anúncios com a Sílvia Alberto, projecto social por um mundo melhor etc, etc, etc...
Isto para não falar do mais importante, que é o cartaz feito de nomes pouco usuais nos circuitos festivaleiros tradicionais. Repare-se nas cabeças de cartaz: tirando um ou outro, como Ben Harper, Foo Fighters ou Incubus, certamente que ninguém imaginaria Paul Mcartney, Peter Gabriel, Britney Spears, , Sting ou Daniela Mercury num Sudoeste ou num Paredes de Coura...
Porque no fundo, esta estratégia, se é arrojada, tem também um lado muito doce que convém não esquecer: ao vender o festival àqueles que nunca compram festivais, de facto o Rock in Rio não encontra concorrência em nenhum dos outros festivais, a começar por exemplo pelo seguinte, o Super Bock Super Rock. Num ano de crise e em que há excesso de oferta no mercado da música ao vivo, não parece nada mal visto ir buscar recursos a um nicho de mercado ainda por explorar... tudo como mandam os “case studies” da Harvard Business Review...
Aliás, é muito curioso assistir à polarização que se dá entre os dois festivais, pois ao Super Bock tenderão a ir as pessoas que ostentam o orgulho de NÃO ir ao Rock in Rio, e que estão entusiasmadas com as actuações de Pixies, Massive Attack, Muse ou NERD... Não estranharia se um inquérito aos espectadores do Super Bock revelasse que na sua maioria são frequentadores assíduos de festivais e concertos... claro, pois o cartaz (tirando uma Avril Lavigne e um Lenny Kravitz ou outro) foi feito à sua medida...
Estaria tudo muito certo, não fosse o carácter pernicioso e irritante que revestiu a promoção do Rock in Rio. Afinal de contas, sempre que se falava no festival, lá vinha o inevitável “Por um mundo melhor”. Dificilmente poderiam ter arranjado algo de mais hipócrita para promover o produto em causa. Afinal de contas, fazem-se 3 minutos de silêncio acenando com lenços brancos quando, curiosamente, estes estão decorados com cerca de 20 logótipos de patrocinadores diferentes, todos grandes empresas. Ou atribui-se uma parte do dinheiro dos bilhetes ao projecto social, mas depois dá-se uma tenda vip aos convidados do social, e podemos ver o Sr. Castelo Branco (mas que raio é que esse senhor faz num festival de rock, alguém me explica?) a dar nota 20 ao catering da tenda vip, por onde outros borlistas se exibiam para as cameras com os seus whiskies à conta da casa... Agora digam lá: se houvesse realmente um projecto social não seria melhor tirar ao Sr. Castelo Branco o seu catering nota 20, deixá-lo em casa, e dar o dinheiro que se está a gastar com ele e outros da sua laia a quem realmente precisa? Isso sim seria “Por um mundo melhor...”
Constou-me por uma pessoa que conhece uma pessoa que conhece uma pessoa ligada à organização (ou seja, isto é uma total suposição) que o break-even do festival estaria nos 300.000 espectadores. Com tantos patrocínios, parece-me um número de espectadores muito elevado para chegar ao break-even, mas na verdade não faço ideia dos custos envolvidos num projecto destes... A ser verdade, fico feliz por saber que quem não vai ter “Um mundo melhor” será a conta bancária do Sr. Medina, pois os lucros do festival acabarão por ficar (tal como o número de espectadores) muito áquem do esperado... afinal de contas acabaria por ser um castigo apropriado para tanto barulho e tanta hipocrisia...
Apesar de estar firme e orgulhosamente alistado no campo do “eu NÃO vou”, desejo que quem for se divirta muito, e que os concertos sejam de facto muito bons. É que, afinal de contas, 53 Euros por dia é muito dinheiro para se gastar se não for para se tirar bom partido dele. Mas já agora, que o Sr. Castelo Branco e os seus amigos borlistas não se divirtam muito e que o catering não lhes caia bem no estômago... pois para além de não terem lá lugar, a sua presença é um insulto ao espírito dos festivais de rock que celebravam de facto o desejo de mundo melhor, como por exemplo aquele mítico de há 35 anos, em Woodstock... (esse se não era por um mundo melhor, era pelo menos por um mundo com drogas melhores...)
(*) ler em tom de falsete, num ritmo à sete anões da branca de neve...
Quando vejo que o número de espectadores não chegou sequer aos 50.000 dá me vontade de perguntar para quê tanto barulho, tanta cobertura mediática e tantas medidas de segurança (incluindo exclusão temporária do espaço Schengen)... Afinal de contas, há coisa de 10 anos os Pink Floyd encheram por 2 noites consecutivas o antigo estádio de Alvalade com mais de 60.000 pessoas em cada noite, e nessa altura não houve nada que se comparasse com este circo mediático Rock-in-Rioense, nem transportes públicos com horários especiais, nem medidas de segurança excepcionais, nem nada disso. E o que é certo é que esgotou!... Na altura lembro-me que nunca tinha visto tanta gente junta num espaço tão pequeno...
Quanto ao festival em si, desde o seu anúncio que me admiro com a estratégia de marketing seguida pela organização. E convenhamos que é uma estratégia no mínimo arrojada: no fundo trata-se de vender um festival de rock às pessoas que não vão, por regra, a festivais de rock. Esta estratégia justifica todos os truques de marketing usados na sua promoção: gala de apresentação, convidados vip borlistas, promoção por artistas de telenovela brasileira, saturação de anúncios com a Sílvia Alberto, projecto social por um mundo melhor etc, etc, etc...
Isto para não falar do mais importante, que é o cartaz feito de nomes pouco usuais nos circuitos festivaleiros tradicionais. Repare-se nas cabeças de cartaz: tirando um ou outro, como Ben Harper, Foo Fighters ou Incubus, certamente que ninguém imaginaria Paul Mcartney, Peter Gabriel, Britney Spears, , Sting ou Daniela Mercury num Sudoeste ou num Paredes de Coura...
Porque no fundo, esta estratégia, se é arrojada, tem também um lado muito doce que convém não esquecer: ao vender o festival àqueles que nunca compram festivais, de facto o Rock in Rio não encontra concorrência em nenhum dos outros festivais, a começar por exemplo pelo seguinte, o Super Bock Super Rock. Num ano de crise e em que há excesso de oferta no mercado da música ao vivo, não parece nada mal visto ir buscar recursos a um nicho de mercado ainda por explorar... tudo como mandam os “case studies” da Harvard Business Review...
Aliás, é muito curioso assistir à polarização que se dá entre os dois festivais, pois ao Super Bock tenderão a ir as pessoas que ostentam o orgulho de NÃO ir ao Rock in Rio, e que estão entusiasmadas com as actuações de Pixies, Massive Attack, Muse ou NERD... Não estranharia se um inquérito aos espectadores do Super Bock revelasse que na sua maioria são frequentadores assíduos de festivais e concertos... claro, pois o cartaz (tirando uma Avril Lavigne e um Lenny Kravitz ou outro) foi feito à sua medida...
Estaria tudo muito certo, não fosse o carácter pernicioso e irritante que revestiu a promoção do Rock in Rio. Afinal de contas, sempre que se falava no festival, lá vinha o inevitável “Por um mundo melhor”. Dificilmente poderiam ter arranjado algo de mais hipócrita para promover o produto em causa. Afinal de contas, fazem-se 3 minutos de silêncio acenando com lenços brancos quando, curiosamente, estes estão decorados com cerca de 20 logótipos de patrocinadores diferentes, todos grandes empresas. Ou atribui-se uma parte do dinheiro dos bilhetes ao projecto social, mas depois dá-se uma tenda vip aos convidados do social, e podemos ver o Sr. Castelo Branco (mas que raio é que esse senhor faz num festival de rock, alguém me explica?) a dar nota 20 ao catering da tenda vip, por onde outros borlistas se exibiam para as cameras com os seus whiskies à conta da casa... Agora digam lá: se houvesse realmente um projecto social não seria melhor tirar ao Sr. Castelo Branco o seu catering nota 20, deixá-lo em casa, e dar o dinheiro que se está a gastar com ele e outros da sua laia a quem realmente precisa? Isso sim seria “Por um mundo melhor...”
Constou-me por uma pessoa que conhece uma pessoa que conhece uma pessoa ligada à organização (ou seja, isto é uma total suposição) que o break-even do festival estaria nos 300.000 espectadores. Com tantos patrocínios, parece-me um número de espectadores muito elevado para chegar ao break-even, mas na verdade não faço ideia dos custos envolvidos num projecto destes... A ser verdade, fico feliz por saber que quem não vai ter “Um mundo melhor” será a conta bancária do Sr. Medina, pois os lucros do festival acabarão por ficar (tal como o número de espectadores) muito áquem do esperado... afinal de contas acabaria por ser um castigo apropriado para tanto barulho e tanta hipocrisia...
Apesar de estar firme e orgulhosamente alistado no campo do “eu NÃO vou”, desejo que quem for se divirta muito, e que os concertos sejam de facto muito bons. É que, afinal de contas, 53 Euros por dia é muito dinheiro para se gastar se não for para se tirar bom partido dele. Mas já agora, que o Sr. Castelo Branco e os seus amigos borlistas não se divirtam muito e que o catering não lhes caia bem no estômago... pois para além de não terem lá lugar, a sua presença é um insulto ao espírito dos festivais de rock que celebravam de facto o desejo de mundo melhor, como por exemplo aquele mítico de há 35 anos, em Woodstock... (esse se não era por um mundo melhor, era pelo menos por um mundo com drogas melhores...)
(*) ler em tom de falsete, num ritmo à sete anões da branca de neve...
2004/06/02
Smells like Festivais de Verão
Estava ontem a ouvir na Radar um programa em que estavam a entrevistar João Paulo Monteiro (creio que é este nome dele, é um dos responsáveis pelo Paredes de Coura) que tinha acabado de vir do Primavera Sound de Barcelona, uma verdadeira antecâmara dos inúmeros festivais que vêm aí. Basicamente disse que Pixies estavam em muito boa forma, uma P.J. Harvey mais solta já que se pode concentrar na voz e deixou de tocar guitarra em grande parte do concerto, uns Wilco que arrasaram e os Franz Ferdinand que se destacaram também.
Mencionaram uma página do fórum da Primavera Sound onde se trocam impressões sobre os melhores concertos. De uma passagem rápida por aqui parece-me que Divine Comedy, Wilco, Pixies, Liars (ahaha! A dupla do dia 11, lá estaremos!), Franz Ferdinand estiveram entre os favoritos. Alguém sabe se os Wilco estão programados ou em negociação para alguns dos festivais?
Para antecipação aqui vai a setlist dos Pixies. Apetece!
1.Bone Machine
2.River Euphrates
3.Something against you
4.Monkey gone to heaven
5.I bleed
6.Cactus
7.U-mass
8.Velouria
9.Nº13 baby
10.Gouge away
11.Subbacultcha
12.Caribou
13.Isla de Encanta
14.Broken Face
15.Debaser
16.Tame
17.In Heaven/Wave of Mutilation (UK Surf)
18.Nimrod's son
19.Here comes your man
20.Vamos
21.Where is my mind?
Encore
22.Gigantic
23.Hey
24.Into the white
Para mais informações dos festivais um site que está bastante actualizado http://festivais.no.sapo.pt.
Mencionaram uma página do fórum da Primavera Sound onde se trocam impressões sobre os melhores concertos. De uma passagem rápida por aqui parece-me que Divine Comedy, Wilco, Pixies, Liars (ahaha! A dupla do dia 11, lá estaremos!), Franz Ferdinand estiveram entre os favoritos. Alguém sabe se os Wilco estão programados ou em negociação para alguns dos festivais?
Para antecipação aqui vai a setlist dos Pixies. Apetece!
1.Bone Machine
2.River Euphrates
3.Something against you
4.Monkey gone to heaven
5.I bleed
6.Cactus
7.U-mass
8.Velouria
9.Nº13 baby
10.Gouge away
11.Subbacultcha
12.Caribou
13.Isla de Encanta
14.Broken Face
15.Debaser
16.Tame
17.In Heaven/Wave of Mutilation (UK Surf)
18.Nimrod's son
19.Here comes your man
20.Vamos
21.Where is my mind?
Encore
22.Gigantic
23.Hey
24.Into the white
Para mais informações dos festivais um site que está bastante actualizado http://festivais.no.sapo.pt.
2004/06/01
O outro festival
Por motivos que agora dão algum trabalho a explicar (poupo-vos esses pormenores) vou a Londres daqui a duas semanas. E se não viajo para ir as festivais ou para aproveitar um concerto fenomenal (como se fez este ano no blog da Mary - John, que foi também a Londres para assistir a Josh Rouse entre outros), tento pelo menos ver o que está a dar . Com sorte apanho alguma coisa de jeito.
Londres era o destino e nas primeiras buscas que fiz apareceu o festival organizado pelo Morrissey - o Meltdown 2004 - que além do próprio apresenta algumas coisas patuscas como os Sparks, os New York Dolls (!!) ou a Nancy Sinatra. Os New York Dolls até pagava para ir. Além de serem um dos muitos alegados pais do punk, aliavam nos anos 70 uma imagem transvestida (dá para ver que o look Scissor Sisters teve os seus percussores) à dose certa de irreverência e novidade. Uma vez li um artigo na Wire que falava sobre as 50 canções that broke the mould, ou seja, que alteraram as regras do jogo, introduziram novas sonoridades, uma forma diferente de estar na música. Se falarmos de grupos ou álbuns de certeza que este estaria lá:
Mas os dias que estou por lá dava, no máximo, para ver o Morrisey, para o qual, evidentemente, já não há bilhetes (ou se quisermos muito muito um a partir de 200 libras em sites obscuros da net).Ainda não ouvi o novo You Are the Quarry, nem está no topo das minhas prioridades. Aliás a minha relação com os Smiths e depois com o Morrisey sempre foi distante, limitando-se aos best off. Mas não me escapa que "the more you ignore me /the closer I get/ you're waisting your time...". É toda uma carreira a descobrir. Virá com o tempo.
Os últimos tempos têm sido marcados pelo regresso de nomes, se lhes posso chamar, da velha guarda. Do(s) Divine Comedy, a Morrissey ou P.J.Harvey. Agora mesmo ouço "Cat on the Wall" (de Uh Huh Her)e gosto deste recuperar de violência, de guitarras pesadas, embora o álbum seja atravessado por momentos muito calmos também lá mais para o final. Alguns continuam, claramente, a fazer bem
Londres era o destino e nas primeiras buscas que fiz apareceu o festival organizado pelo Morrissey - o Meltdown 2004 - que além do próprio apresenta algumas coisas patuscas como os Sparks, os New York Dolls (!!) ou a Nancy Sinatra. Os New York Dolls até pagava para ir. Além de serem um dos muitos alegados pais do punk, aliavam nos anos 70 uma imagem transvestida (dá para ver que o look Scissor Sisters teve os seus percussores) à dose certa de irreverência e novidade. Uma vez li um artigo na Wire que falava sobre as 50 canções that broke the mould, ou seja, que alteraram as regras do jogo, introduziram novas sonoridades, uma forma diferente de estar na música. Se falarmos de grupos ou álbuns de certeza que este estaria lá:
Mas os dias que estou por lá dava, no máximo, para ver o Morrisey, para o qual, evidentemente, já não há bilhetes (ou se quisermos muito muito um a partir de 200 libras em sites obscuros da net).Ainda não ouvi o novo You Are the Quarry, nem está no topo das minhas prioridades. Aliás a minha relação com os Smiths e depois com o Morrisey sempre foi distante, limitando-se aos best off. Mas não me escapa que "the more you ignore me /the closer I get/ you're waisting your time...". É toda uma carreira a descobrir. Virá com o tempo.
Os últimos tempos têm sido marcados pelo regresso de nomes, se lhes posso chamar, da velha guarda. Do(s) Divine Comedy, a Morrissey ou P.J.Harvey. Agora mesmo ouço "Cat on the Wall" (de Uh Huh Her)e gosto deste recuperar de violência, de guitarras pesadas, embora o álbum seja atravessado por momentos muito calmos também lá mais para o final. Alguns continuam, claramente, a fazer bem