2004/06/14
Crónica de um festival que podia ter sido bestial
As movimentações avulsas em torno do ultímo dia do Superbock Superock (o único que interessava, no dizer do Juramento sem Bandeira) deixavam claro que, acontecesse o que acontecesse, o concerto dos Pixies ia ser um evento de proporções míticas, a não perder de forma absolutamente nenhuma... A Ampola resumiu-o, a posteriori, de maneira perfeita: "Tinhas dúvidas?"... Não tinha...
Não tinha dúvidas que para os fãs o concerto seria inesquecível. Mas duvidava do efeito que teria em mim, que nunca foi fã da banda e que, admito, apenas disponho de um conhecimento superficial do seu legado,e por isso me considero um "observador imparcial" (bom, mais ou menos imparcial, pelo menos...). No fundo, queria ver se o rei ia nu...
Tinha também a veleidade de esperar que com um cartaz muito promissor que incluia Massive Attack, Fatboy Slim, Liars, X-Wife e Wraygunn e uma organização muito rodada na produção de festivais, a noite fosse realmente "A Night to Remember"...
Como infelizmente já é sabido por todos, a organização não esteve à altura do crédito que lhe era dado, sendo o recinto totalmente (enfâse no totalmente) desadequado ao número de pessoas que compareceu (50 mil? 70 mil?)... coisas como espera de mais de 45 minutos em filas para comer, beber uma Superbock (mas que raio, afinal até era o patrocinador principal) ou ir a uma casa de banho foram o mais comum... já para na falar na impossibilidade de usar os telemóveis da TMN, cuja rede simplesmente não aguentou a sobrecarga... nota zero, portanto, em tudo o que diga respeito à Superbock e à Música no Coração.
Nota zero também para o alinhamento das bandas. Com X-Wife e Liars a começarem bem cedo, o horário de trabalho, trânsito e distância do parque de estacionamento ao recinto presentearam-me com a entrada no festival no preciso momento em que acabava o concerto dos Liars, cerca das 18h30... tendo assim que aguardar até cerca das 20h30, na companhia de algumas bandas perfeitamente desinteressantes, pelo concerto dos Wraygunn.
Os Wraygunn tiveram o azar de ser "a banda que veio entreter a malta antes do mito...". Apesar de terem dado muito de si, quase ninguém lhes prestou atenção, ocupados que estavam a guardar o melhor lugar possível frente ao palco principal, porque "os Pixies é já a seguir...". Se no início ninguém se mexia ao som da sua música, no fim ainda receberam bastantes aplausos, prova que conseguiram conquistar uma parte do público, que se calhar ali os ouvia pela primeira vez. Infelizmente terão sido poucos, pois o grosso da multidão, por essa altura, já estava noutra.
Entram então os Pixies. Há que dizé-lo com frontalidade: foi excelente. Não sendo fã, diria que isso não se deveu apenas à banda em si. A banda deu bastante de si, mas o que realmente deu à coisa as tais propoções míticas foi o contínuo feedback de energia entre o público e a banda, a entrega total de um público que esperou 13 anos por esse momento, que sabia todas as letras de cor, que pedia as canções que queria ouvir, que gozava o momento até à última... E claro que grandes canções é coisa que não falta no repertório dos Pixies...
E depois? Depois pouco mais havia para dar. Devia me ter ido embora, feliz e contente. Mas não, há aquela ganância e imaturidade que me impedem de reconhecer que nada nessa noite superaria aquele momento, pelo contrário apenas iria manchá-lo, uma ganância que nos leva a dizer "paguei 38 Euros para aqui estar, quero tudo aquilo a que tenho direito...". Sem perceber que daquilo a que havia direito, o que valia a a pena já tinha sido colhido...
Sem ligar ao Lenny Kravitz nem aos Clã, acabei por sair a meio dos Massive Attack, saturado, cansado, com fome, sede e frio, a rogar pragas à organização... Também queria ver Fatboy Slim, mas o corpo já não deixava. Afinal, para poder apreciar as artes, também é preciso algum nível de conforto físico... Se não fosse pelos Pixies, teria sido um bom castigo por ter dito mal do Rock in Rio na semana anterior. Felizmente um concerto de pouco mais de uma hora salvou uma noite inteira de desilusão.
Não tinha dúvidas que para os fãs o concerto seria inesquecível. Mas duvidava do efeito que teria em mim, que nunca foi fã da banda e que, admito, apenas disponho de um conhecimento superficial do seu legado,e por isso me considero um "observador imparcial" (bom, mais ou menos imparcial, pelo menos...). No fundo, queria ver se o rei ia nu...
Tinha também a veleidade de esperar que com um cartaz muito promissor que incluia Massive Attack, Fatboy Slim, Liars, X-Wife e Wraygunn e uma organização muito rodada na produção de festivais, a noite fosse realmente "A Night to Remember"...
Como infelizmente já é sabido por todos, a organização não esteve à altura do crédito que lhe era dado, sendo o recinto totalmente (enfâse no totalmente) desadequado ao número de pessoas que compareceu (50 mil? 70 mil?)... coisas como espera de mais de 45 minutos em filas para comer, beber uma Superbock (mas que raio, afinal até era o patrocinador principal) ou ir a uma casa de banho foram o mais comum... já para na falar na impossibilidade de usar os telemóveis da TMN, cuja rede simplesmente não aguentou a sobrecarga... nota zero, portanto, em tudo o que diga respeito à Superbock e à Música no Coração.
Nota zero também para o alinhamento das bandas. Com X-Wife e Liars a começarem bem cedo, o horário de trabalho, trânsito e distância do parque de estacionamento ao recinto presentearam-me com a entrada no festival no preciso momento em que acabava o concerto dos Liars, cerca das 18h30... tendo assim que aguardar até cerca das 20h30, na companhia de algumas bandas perfeitamente desinteressantes, pelo concerto dos Wraygunn.
Os Wraygunn tiveram o azar de ser "a banda que veio entreter a malta antes do mito...". Apesar de terem dado muito de si, quase ninguém lhes prestou atenção, ocupados que estavam a guardar o melhor lugar possível frente ao palco principal, porque "os Pixies é já a seguir...". Se no início ninguém se mexia ao som da sua música, no fim ainda receberam bastantes aplausos, prova que conseguiram conquistar uma parte do público, que se calhar ali os ouvia pela primeira vez. Infelizmente terão sido poucos, pois o grosso da multidão, por essa altura, já estava noutra.
Entram então os Pixies. Há que dizé-lo com frontalidade: foi excelente. Não sendo fã, diria que isso não se deveu apenas à banda em si. A banda deu bastante de si, mas o que realmente deu à coisa as tais propoções míticas foi o contínuo feedback de energia entre o público e a banda, a entrega total de um público que esperou 13 anos por esse momento, que sabia todas as letras de cor, que pedia as canções que queria ouvir, que gozava o momento até à última... E claro que grandes canções é coisa que não falta no repertório dos Pixies...
E depois? Depois pouco mais havia para dar. Devia me ter ido embora, feliz e contente. Mas não, há aquela ganância e imaturidade que me impedem de reconhecer que nada nessa noite superaria aquele momento, pelo contrário apenas iria manchá-lo, uma ganância que nos leva a dizer "paguei 38 Euros para aqui estar, quero tudo aquilo a que tenho direito...". Sem perceber que daquilo a que havia direito, o que valia a a pena já tinha sido colhido...
Sem ligar ao Lenny Kravitz nem aos Clã, acabei por sair a meio dos Massive Attack, saturado, cansado, com fome, sede e frio, a rogar pragas à organização... Também queria ver Fatboy Slim, mas o corpo já não deixava. Afinal, para poder apreciar as artes, também é preciso algum nível de conforto físico... Se não fosse pelos Pixies, teria sido um bom castigo por ter dito mal do Rock in Rio na semana anterior. Felizmente um concerto de pouco mais de uma hora salvou uma noite inteira de desilusão.