2003/09/30
Lee Ranaldo Live with Films – Loungingspace
Lee Ranaldo apresentou-se sozinho com a sua guitarra e vários efeitos electrónicos, durante cerca de hora e meia e na mais completa escuridão, enquanto eram projectadas as diferentes curtas metragens.
A maior parte dos filmes consistia em animações mais ou menos abstractas, uma geradas por computador e outras desenhos animados tradicionais, alguns deles muito bonitos, sobre as quais a guitarra de Lee Ranaldo lançava sons que oscilivam entre aquilo que podia ser parte de uma divagação instrumental de um concerto dos Sonic Youth e sons repetitivos próximos do post-rock ou do rock industrial, complementado muito bem as imagens.
No entanto a meio da performance veio um verdadeiro “tour de force” para a audiencia, que tinha sido advertida que as imagens não seriam adequadas a pessoas que sofressem de epilepsia ou hipersensibilidade: “The Flicker” consistia em cerca de 30 minutos em que um écran totalmente branco era intercalado de impulsos de escuridão a um ritmo que ia variando, criando assim o efeito de uma luz de “strobe”, enquanto na guitarra Lee Ranaldo fazia o seu melhor para imitar os sons do furacão Isabel (aquele que há pouco tempo fez estragos na costa leste dos Estados Unidos). Se de início tudo estava bem, ao fim de perto de meia hora de bombardeio o desconforto era claramente visível por entre o muito público que enchia a sala, notando-se aqui e ali algumas desistências (se calhar estava aqui a tal “experiência induzida” do título). Ao fim de meia hora a tortura visual e sonora deu lugar a uma animação de gráficos muito bonitos gerados por computador, que acompanhados de música indiana foram o contraponto calmante e redentor de que o público precisava para terminar a sessão em beleza.
Em suma um concerto muito interessante, não tanto pela música em si, mas antes pelo invulgar da proposta.
2003/09/29
Petição dos Clã
Reintrodução quotas para música portuguesa
Parece-me mais que legítima a pretensão dos músicos portugueses de quererem ver uma lei que estava em vigor (pelo que li há mais de 20 anos que foi criada) ser cumprida. Á excepção da Antena 1 e RR as restantes rádios portuguesas estavam bastante abaixo da fasquia dos 40% (música portuguesa nos media). É de louvar também que um movimento cooperativo deste tipo (a Associação “Venham Mais Cinco”)
tenha chegado a bom porto, afinal foi uma estratégia que resultou com tanto concerto, tanta t-shirt, tanto queixume…
O que acho que faltou ao debate parlamentar, o que faltou à redacção das propostas é que mais do que um problema de ter música de “qualidade” ou "de origem denominada portuguesa" há falta de nova música. É aquele caso já típico e conhecido, no ano 2002 a música portuguesa mais rodada nas rádios foi o “Haja o que houver “ dos Madredeus que era de 98. Que se calhar entre as música mais rodadas este ano vamos continuar a ter algum tema dos Silence 4 ou dos Ala dos Namorados. Não basta mudar as playlists das rádios generalistas para meter mais do mesmo (mais Cabeças no Ar, mais Xutos, mais Madredeus que têm mérito provado mas também demasiado tempo de antena e que por ironia alguns deles são os maiores impulsionadores desta Associação). É preciso introduzir novos nomes, novos valores. Mas isto já toca no muy complicado tema de rádios que seguem as "regras do mercado".
No final acho que haverá espaço para todos. Espero que isto signifique que vou também poder passar a ouvir: Balla, Bruno Pedroso, Bulllet, Carlos Bica, IHS, Mesa, Spaceboys (e muitos outros que não conheço). Como, ainda se está para ver, mas já é uma grande ajuda ter a força da lei por detrás.
Outras opiniões.
2003/09/25
E se...
A Corneta, essa entidade virtual, considera-se um blog de valor acrescentado. Por isso hoje no prato temos soul na voz de D’Angelo, que além de lindo ainda diz sweet things como …
I'LL STAY
Sven Van Hees – Gemini
Há algum, tempo, quando A Corneta estava a dar os seus primeiros passos, deixei um post no qual apresentava uma lista de CDs que na altura me apetecia comprar e pedia comentários. Este disco fazia parte dessa lista, e ninguém o comentou, pelo que assumo que não seja muito conhecido. Aliás não é muito fácil de o encontrar à venda...
Confesso que nunca tinha ouvido falar de Sven Van Hees. Já tinha visto este disco à venda uma ou duas vezes, inclusive tinha pegado nele, mas a capa, com o seu ar de compilação “Verão em Ibiza 2000” não tinha, de todo, cativado o meu interesse. No entanto, havia um tema que passava com alguma regularidade nos programas de Ricardo Saló (primeiro na TSF, depois na Voxx), de que gostava bastante, mas não fazia a menor ideia de quem seria. Até ao dia em que ouvi o locutor atribuir esse tema a este disco. E foi assim que ele foi parar à minha lista de “coisas a investigar”.
Em boa hora tal aconteceu, pois vim a descobrir que gostava muito de pelo menos 3 ou 4 temas deste álbum, que já conhecia de passagens frequentes nas rádios Voxx e Oxigénio, embora não soubesse que eles estavam relacionados entre si. A primeira audição deste disco foi assim uma agradável surpresa, confesso que dei por mim a pensar "olha, esta também cá está, gostava tanto de a ouvir na radio!" mais do que uma vez.
Apesar da capa remeter para uma qualquer compilação foleira de House ou de Chill-Out inspirada nas ilhas Baleares, o disco é muito bom e coerente dentro do estilo Chill-Out, a lembrar uma espécie de “Thievery Corporation meets Café del Mar”, só que em melhor...
Está lá tudo quanto pertence a um bom disco deste género, as batidas quentes de inspiração mais ou menos latina, os sons electrónicos que fazem lembrar o vento, o mar e o calor de verão, os pequenos motivos electrónicos ou orgânicos que completam a música e vão quebrando e repartindo os motivos principais. Não faltam também as inevitáveis vozes sexy masculinas e femininas “sampladas” de filmes obscuros, fragmentos de histórias em francês e em inglês que nos levam a imaginar situações e conversas distantes.
A meu ver o ponto fraco do disco é mesmo o facto de ele não resultar muito original, pelo menos para quem o descobre agora, de tal modo o género foi explorado até à exaustão. No entanto este disco foi originalmente editado em 1999, e é difícil de perceber agora se terá ou não soado a algo inovador nessa altura.
Altamente recomendado, portanto, para relaxar no trânsito ou para ouvir quando se chega a casa depois de um dia de trabalho cansativo. Tenho pena de não o ter descoberto mais cedo... tinha sido bom para ouvir estas férias!
Back Rebel Motorcycle Club
É pena que o façam sendo fotocópias dos Jesus & Mary Chain. Afinal, se os In Her Space são uma versão sem calorias dos Sigur Rós, os BRMC são a versão “congelado pré-cozinhado” dos J&MC: não é mau, enche o estômago, mas não tem a qualidade e o sabor da receita tradicional.
Se querem questionar o mundo e ser artistas, que tal fazé-lo através de ideias proprias? Uma ou duas ideias bastavam... é que assim, estou mais tentado a chamá-los "entertainers" (variedade chuva de estrelas) do que "artistas"....
2003/09/24
Música que apazigua
Muitas vezes apanho-me a compor listas mentais a desesperar-me da quantidade de nãos com que marco cada item dessa lista. È o que se chama ataques súbditos de realidade ou “isto não está nada correr como eu tinha planeado”. Eu não mudei de trabalho, não mudei de casa, não mudei de sítio, de tiques, de amigos, ele não escreve, aquela não comenta o outro já não pode ir comigo ao concerto. Eu não estou a ficar mais nova. Que fracasso…
Como o outro blog que encontra os versos que salvam este blog encontra música que apazigua (o blog essa entidade voraz que aumenta os itens da lista).
Naquele dia, naquela tarde esta música apaziguou muito. Já repararam como é suave o trompete de Miles nesta faixa?
2003/09/23
My favorite "My favorite"...
É um álbum é muito especial desde logo por razões históricas da própria discografia de Coltrane : foi onde se estreou o John Coltrane Quartet (com McCoy Tyner no piano, Elvin Jones bateria e Jimmy Garrison baixo, que mais tarde será substituído por Steve Davis) e é o primeiro trabalho onde Coltrane toca saxofone soprano (antes era tenor) . As segundas , as pessoais (e convenhamos estas é que são as contagiantes) prendem-se com a total surpresa que tive quando ouvi "My favorite things " pela primeira vez. A música segue os seus caminhos inesperados, é longa, dá voltas e mais voltas sendo reconduzida de volta "à base" pelo saxofone, por vezes acho-a mais alegre que a versão "cantada". Mesmo o ouvido mais desatento de certeza notará a alteração do tempo que a torna muito mais saltitante que o original.
MY FAVORITE THINGS
Encontrei um trecho de uma tese de musicologia (s. f., ciência que trata dos assuntos relacionados com a música fora das áreas da composição e execução ) sobre "My Favorite Things" que explica isto muito melhor que as minhas palavras:
“the structure which Coltrane uses as a basis for his performances of "My Favorite Things" contains several notable divergences from the standard form: its chord progression is significantly altered; the overall structure of the form is different, both incorporating new materials and using material from the original form in new ways; and the tempo is brisker and "bouncier," justifying White's notation of the time signature as 6/8 rather than 3/4.” (link)
Além desta o Cd tem ainda clássicos de Gershwin reinventados como "Summertime", "Every Time we say goodbye"e "But not for me".
É inegável que o fime do musical "The sound of Music" faz parte do meu imaginário infantil /adolescente (também à força de vê-lo todos os Natais e Páscoa, quem resiste a esse tipo de terapia?). Quando era pequena fazia concursos com as minhas amigas a ver quem sabia de cor as letras , aliás estas memórias são sempre misturadas com viagens da camioneta da escola, acampamentos, caminhadas.... Os rapazes não participavam, embora a última vez que a voltei a ouvir (a versão do filme) foi numa festa em que o Cd era da pertença...de um rapaz (e aqui toda a gente cantou).
Hoje essas memórias continuavam vivas, mas a my favorite, agora, é mesmo a do Coltrane.
2003/09/22
Super Panorama
Já estou a divergir do assunto do post, o ponto de encontro era este lounging space, donde partiam autocarros que nos levavam até ao Restaurante Panorâmico de Monsanto onde teve lugar o happening da noite. As coisas estavam muito bem organizadas, não houve problemas de estacionamento e havia transporte assegurado com os autocarros.
Tenho que dizer que foi uma ideia feliz reaproveitar aquele espaço (de autoria do arquitecto Keil do Amaral ) para o evento, transformando-o numa espécie de nave espacial com a ajuda de umas luzes neón . A festa acabou por ser um sucesso com muita gente, uns mais fashion que outro é certo (esses pormenores ficam mais para posts rosa, apenas digo que muita gente não conseguiu reprimir “Olha, olha o Santana Lopes”). Havia dois pisos, o primeiro dedicado a música de dança animada por um conjunto de Djs, suponho que da noite portuguesa, que esteve ao rubro durante toda a noite. O segundo piso recebeu vários Djs sets de algum renome. Os primeiros a actuar foram os portugueses Platform (um programador e um guitarrista) que me surpreendeu pela mistura entre o electrónico minimalista e os sons distorcido da guitarra.
O público também gostou e aplaudiu por isso acabaram por fazer uma actuação bastante longa. O set do Tonne Music não assisti, só voltei a subir para Burnt Friedman já passava das quatro. Gostei desta última actuação mas o estilo futurista e abstracto do músico alemão pedia um pouco mais de atenção que a que o público podia dar aquela hora (e do Burnt espero ter mais novidades para breve). Nota positiva também para a instalação de vídeo a cargo do D-fuse de Londres. Mais impressões ver o post de Vítor Junqueira.
2003/09/19
In Her Space
De facto confirma-se que o som é semelhante ao dos Sigur Rós, mas é como se fosse uma versão light. Tão light que acaba por ter 0 calorias, ou seja, o som é parecido (muito parecido até), mas falta-lhe aquela intensidade emocional que fascina nos Sigur Rós (e que é impossivel deixar de sentir nos seus espectáculos ao vivo... até porque nem sou um grande fã dos Sigur Rós em disco, mas ao vivo..!). Isto para já não falar dos In Her Space não trazerem nada de novo a este tipo de sonoridade. Talvez esteja a ser mauzinho, mas foi esta a impressão com que fiquei...
2003/09/18
Letras de "Waiting for the moon"
À medida que fui ouvindo mais o álbum e consegui destrinçar um pouco as letras (porque não há qualquer indicação na caixa do CD) não pude deixar de maravilhar com o lirismo destas. Entre todas a que gosto mais é de “My Oblivion”. Já ninguém utiliza palavras como oblivion para falar da totalidade do Amor. Quanto muito mergulha-se em oblivion tentado descrever esse estado de abandono fruto de um esquecimento forçado. Aqui “Ela é o meu esquecimento” uma inevitabilidade trágica. É do melhor que a banda fez nos últimos anos. Outro exemplo, a repetição incessante de "running wild" na última faixa que transmite uma sensação de claustrofobia.
O que torna os Tindersticks tão especiais é que cada atmosfera que criam, de gozo em “Just a Dog”, de loucura em “Running wild” à nostalgia de “Sweet Memory” tem essa combinação tão cuidada entre letra e orquestração. As palavras são pontuadas por todos esses extras que os instrumentos trazem. Seja do xilofone do “My oblivion”, a harmónica do “Just a Dog”, o piano repetitivo que descreve um movimento de uma espiral de “Running Wild”.
Não é preciso escrever muito mais, gostei muito.
Segunda feira às 23.15 o canal Arte da TV Cabo vai passar o “Trouble every day” de Claire Denis com banda sonora aqui dos rapazes (cortesia ali da Janela Indiscreta).
2003/09/16
Bootleg ou o faça você mesmo
Um dos primeiros álbuns bootleg a rompeu o círculo da domesticidade foi o dos 2 Many Djs. Antes de escutar devemo-nos preparar para percorrer a auto estrada da saudade (bonita imagem) para enfrentar canções como o “Let’s get physical” da Olivia Newton-John ou “Atomic” dos Blondie e mesmo “Sweet Child of Mine” dos Gun’s & Roses . Eu não consegui conter alguns “ihhhh esta, há tanto tempo …”. Todas as canções originais continuam a ser muito identificáveis, ou seja, o “tratamento” a que foram sujeitas não altera a sua força.
A algumas mudaram um pouco fundo, alterações que são, sem dúvida, subtis. Só assim “Intergalactic” dos Bestie Boys consegue ser perfeitamente intercalada com o “Mediate” dos INXs, unidas pelo mesmo fio condutor que é o beat de fundo. O mesmo se passa com os Run DMC.
O outro tipo de mistura é mais flagrante, uma espécie de duetos imprevistos, como acontece com Blondie + The Hacker, Emerge +Guns & Roses. Queens of Japan + Physical. Nestes casos, mantêm-se as vocalizações das canções velhinhas que são enquadradas na instrumentalização do partner desconhecido.
O maior elogio que posso fazer ao resultado é que é harmonioso e flúi com naturalidade ( se pensarmos na matéria-prima vemos que havia muito por onde fermentar o caos) . Se é um acto criativo de salutar talvez já não concorde tanto porque o Cd vive dessa identificação primária com aquela canção daquele tempo. Não há um tipo de trabalho muito mais exaustivo em isolar o beat que por exemplo ouvimos em Sam The Kid.
Há imensos bootlegs deste estilo pela net, é só procurar. Este abaixo pode-se considerar uma espécie de “Eminem com todos”, mas literalmente todos, desde o tema do Benny Hill e do Knight Rider a pedaços de mariachi , clássicos ou jazz. É um pouco patético, mas divertido.
MARSHALL HAS BEEN DONE TO DEATH
Não consigo deixar de pensar que o “Venus in Fur” dos Velvet dava um grande bootleg… (aonde é que estão esses links?).
2003/09/12
Cinematic Orchestra – Man with the Movie Camera
O filme em si não se rege por qualquer guião, como disse a Sofia, trata-se apenas de um olhar sobre o quotidiano, que vai fluindo por diversos momentos/actividades. Talvez por isso se preste tão bem a bandas sonoras instrumentais, não sendo esta a primeira vez que é sujeito a um tratamento de renovação musical.
A proposta dos Cinematic Orchestra, assenta, a meu ver, numa dualidade espantosa entre moderno e antigo, que funciona aqui muito bem a dois níveis, o visual e o sonoro, não se tratando apenas de “música nova para um filme velho”. O filme é antigo, mas mantêm uma carga de actualidade e modernidade muito grande, enquanto a banda sonora é moderna, mas faz apelo a um jazz que mistura uma forte componente de elementos puramente orgânicos e acústicos com alguns elementos electrónicos, não tentando ser algo de cuting edge tecnológico, puramente electrónico (aqui estou a pensar em coisas como Kraftwerk, Future Sound of London, Orbital, etc... que também poderiam fazer uma leitura válida das mesmas imagens, mas que certamente resultaria muito diferente).
A banda sonora é uma daquelas peças que agarram o ouvinte e o seduzem desde a primeira audição, pedindo para ser ouvida uma e outra vez de seguida. Uma marca que a meu ver ajuda a distinguir os bons discos, e que está presente neste, é aquela sensação de descoberta constante, em que a cada nova audição se nota um detalhe brilhante em que nunca tínhamos reparado antes, ou a forma como a nossa faixa preferida vai mudando constantemente à medida que se conhece melhor o disco.
E no que é que consiste então a banda sonora? Num jazz puramente instrumental (as vozes eram na minha opinião a maior fraqueza de “Everyday”, anterior disco do grupo) que é a simbiose de uma ideia “moderna” de jazz: acústico, eléctrico, electrónico, muito fluído e a espaços dançável.
O disco tem também um certo carácter épico, oscilando entre momentos minimalistas e outros de grande intensidade, com mudanças de tom e de velocidade rítmica que acompanham as imagens do filme, mas que ainda assim fazem muito sentido quando se ouve o disco sem ter qualquer ideia das imagens que ele foi feito para acompanhar (como foi o meu caso, pois só bastante depois de ter o disco vim a ver o filme). De facto, há apenas 2 momentos no disco que se enquadram apenas no âmbito do filme e que seriam dispensáveis no CD: as 2 faixas iniciais (que duram apenas alguns segundos) e os “bleeps” electrónicos que acompanham “The Animated Tripod”, lá mais para o fim do álbum.
O CD é altamente recomendado. Pena tenho de não os ter visto a tocar esta música ao vivo, acompanhando a projecção do filme, no Porto, ou em Londres, ou em qualquer outro lugar... (como disse a Sofia, no Lux não destoava).
2003/09/11
O regressado
Para comemorar este regresso dentro de momentos vou para uma esplanada e vai saber-me muito bem tomar uma bejeca com 30º de temperatura ambiente.
Lembrei-me de uma boa música para este final de tarde.
Nitin Sawhney - SUNSET (Prophesy)
2003/09/10
DVD "Man with Movie Camera"
Trata-se de um documentário, mudo, a preto e branco, mas com um toque de modernidade de tal forma avant garde que me deixou completamente estarrecida (afinal aquilo foi filmado em 1929). A história é simples, mostra o dessenrolar de um dia em Moscovo através do olhar do homem da câmara. Se quisermos esta é a personagem principal, a câmara e quem a manuseia - the absolute language of cinema - escreve no início em forma de manifesto. É que não só se vê o que o homem filma, mas como filma. Começa com o acordar da cidade ( “The awakening of a woman”), apresenta várias personagens desta cidade – mulheres, velhos, crianças (“Reel Life”) - mostra como trabalham(“Evolution”, “Work it”), como se divertem, como nascem (aqui vê-se tudinho)e morrem. Claro que escrito assim parece incrivelmente aborrecido, mas o realizador utiliza uma série de artifícios que transformam a realidade: still shots (espero não estar a meter a pata aqui com o termo, o que quero dizer são fotos, mostram-se mesmo os negativos), alterações na velocidade da câmara, imagens sobrepostas. Por exemplo, há uma cena fenomenal em que se mostra um comboio a passar a alta velocidade (para qual se vê enterrar a câmara na areia) que se vai distorcendo à medida que o comboio avança.
Claro que todas estas sensações visuais são aumentadas pelo score milimétrico dos Cinematic Orchestra. Aliás entre os presentes surgiu a discussão se o score foi feito propositadamente para o filme ou se aproveitaram faixas de outros álbuns. Foi um misto das duas, conforme o artigo do Bodyspace . A banda sonora começou por ser trabalhada em 1999, aproveitando-se alguns dos temas para o lançamento posterior de “Every Day” (“All that you give”, “Evolution”, “Man with movie camera”).
O Cd vale por si, é trabalho com grande unidade. É instrumental e funde elementos de jazz, orquestra e electrónica.
O DVD vale pela música, pelo filme e pela excelente fusão dos dois. Conta com dois mini documentários extra, o primeiro de uma actuação ao vivo na discoteca Cargo em Londres, que achei mesmo lamentável, basicamente só se vê as pessoas a dançar, não prestando qualquer atenção ao filme (imaginem passar isto num dos ecrãs do Lux, valoriza imenso o filme claro) e outro sobre a sessão que gravaram com a cantora Fontanella Brass.
imagine por uns minutos que está a ver o dvd - faixa The awakening of a woman [Burnout]
Resto dos convivas são (muito) incitados (diria mesmo voluntários devidamente algemados) a deixarem as suas impressões aí na caixa de comentários.
2003/09/09
"Oh my sweet Carolina"
I went down to Houston
And I stopped in San Antone
I passed up the station for the bus
I was trying to find me something
But I wasn't sure just what
Man I ended up with pockets full of dust
So I went on to Cleveland and I ended up insane
I bought a borrowed suit and learned to dance
I was spending money like the way it likes to rain
Não conheço nada da geografia destes locais, nunca pus pé nos US of A, nem tenho muita inclinação para o country, mas ouvir esta canção enche-me de "sweet disposition" e "compels me" a repetir.
Um verdadeiro Heartbreaker.
Ouvir é melhor
2003/09/08
Carla Bruni – Quelqu’un m’a dit
Quando, há coisa de um mês, o CD de Carla Bruni foi finalmente publicado em Portugal, insurgi-me com o destaque (a meu ver excessivo) que o mesmo recebeu na nossa comunicação social “musical”, num post intitulado “La Bruni”.
Na altura não conhecia o disco, e protestava apenas contra o destaque que lhe foi dado. Agora que já tive oportunidade de o ouvir com atenção, está na altura de deixar aqui um comentário, e um “mea culpa”.
Já não era sem tempo, que este disco fosse posto à venda por cá, uma vez que só foi publicado em Portugal vários meses depois de ter surgido em França e em muitos outros países. Faço um “mea culpa” porque o disco é de facto muito bom, com canções que primam pela elegância das coisas simples. As faixas são quase todas muito curtas, mas bonitas, com a voz sussurrante de Carla Bruni a merecer o destaque por cima de arranjos de guitarra mais ou menos minimalistas, na linha de outras “folk singer/songwriter” americanas, mas com o “twist” de todas serem cantadas em francês.
Se as canções são bonitas, o melhor mesmo são as letras, que para quem compreende bem o francês são, em algumas canções, como “Raphaël”, “Le toi du moi”, “L’amour” ou mesmo “Quelqu’un m’a dit”, deliciosas, cheias de humor, amor, jogos de palavras e rimas.
O disco resulta assim muito bom, e vale imenso a pena ouvi-lo. No entanto não deixa de ter as suas máculas: a voz de Carla Bruni, ainda que muito bonita, resulta sempre igual em todas as canções, assim como as canções são todas muito parecidas, o que faz com que o disco não tenha qualquer interesse para quem não se encante ao fim da primeira ou segunda canção, ou não seja um grande apreciador do género.
E é precisamente aqui que volto a bater no mesmo ponto: se o disco é de facto bastante bom, as críticas e o destaque que ele mereceu não deixam de ser bastante exageradas. Se é raro que uma modelo encontre no fim da sua carreira uma “reconversão profissional” tão frutuosa como esta, também me parece que a beleza e sedução de Carla Bruni lhe fizeram valer uma forte benevolência por parte dos "nossos" media especializados.
Da geometria das sensações
“Beth”
Numa postura de retraimento, como quem encena a própria timidez para melhor se enrolar nela, Beth Gibbons lança-se numa dessas experiências que Kathleen Gomes, com extrema precisão, chamou de "hipnótica": ergue à nossa volta, som a som, uma cortina de água, que na sua verticalidade nos isola até ao mais obscuro e indizível de nós, e que na sua transparência nos faz transbordar para a cadência obsessiva que se apossa de uma sala e a empolga até ao apagamento radical. Pouco a pouco o tempo salta dos seus gonzos e entramos no planalto azul de uma memória sem fim e de um corpo imponderável.
Público 07/04/2003
Aqui a Corneta, que esteve em peso no dito concerto, encontra neste excerto algumas observações que nos levam a questionar se assistimos ao mesmo. Desde logo aquilo da "cortina de água" (vertical note-se). Será que é o tipo de música para se ouvir a tomar duche de manhã? Mas como é que é a acústica aí? Depois o “apagamento radical”. Na nossa opinião aquilo foi bem mais um pagamento radical já que 5 contos de bilhete para 50 minutos de concerto é para nós, jovens assalariados, "muita parra para pouco uva". Por último, o não menos enigmático “o tempo salta dos seus gonzos” (das dobradiças da porta?), para entrar num “planalto azul”. Seria resultado de uma alguma trip mística? Uma homenagem a “Lucy in the sky with diamonds“ (“Picture yourself on a boat on a river,With tangerine trees and marmalade skies”)? Será um caso de daltonismo?
Questões que ficaram sem resposta (ou se quisermos por oposição: cortina de água que na sua horizontalidade, apagamento suave e planalto verde). A única expressão com a qual concordamos vai entre aspas e nem sequer é dele. O que vale é que EPC não escreveu sobre o Sudoeste.
2003/09/04
Lista 2
Se lhe perguntassem qual seria o melhor disco de punk de todos os tempos, o que responderia? Pois bem, foi esta a questão levantada pela revista musical "Revolver", com o objectivo de fazer uma eleição dos discos punk mais bem sucedidos de sempre.
A sondagem ditou o seguinte:
1 - "Never Mind The Bollocks Here's The Sex Pistols" - Sex Pistols
2 - "The Clash" - The Clash
3 - "The Ramones" - Ramones
4 - "Damaged" - Black Flag
5 - "Minor Threat" - Minor Threat
6 - "No Control" - Bad Religion
7 - "Fresh Fruit For Rotting Vegetables" - Dead Kennedys
8 - "...And Out Come The Wolves" - Rancid
9 - "Wig Out At Denko's" - Dag Nasty
10 - "Raw Power" - Iggy & The Stooges
em cotonete.iol.pt
Gosto muito mais desta lista. A minha percentagem subiu de uns míseros 6% da lista do post anterior para 40% (inclui K7s ranhosas que já não sei onde estão que gravei no 9ºano).Só um comentário: Bad Religion?Please!
Ponho um fim à ditadura das listas.
2003/09/03
A lista
Quanto à lista em si, suscita-me dois comentários. Primeiro fica a sensação de almost there (a utilização do anglicismo justifica-se porque veio-me à cabeça o filme “Almost famous”). Tenho muitas das bandas que figuram no artigo, mas não aqueles álbuns. Para ser sincera acho que só tenho uns 6. Basicamente andei anos a falhar o alvo… Essas já são questões para o psicanalista, porque sobrevalorizo o que não tenho o em vez de ficar contente por aquilo que já alcancei com o meu “gosto” , fruto de influências de amigos e das minhas vivências.
Passadas essas tretas da procura de validação, aquilo que acho mesmo positivo da lista é que é muito diversificada. Nela cabem vários géneros musicais: rock, pop, folk , jazz, punk, grunge, um pouco de tudo. Na verdade estou sempre a ouvir “bocas” de pessoas que lêem o nosso blog “ah mas tu falas muito de jazz”, como se roubasse espaço para falar (escrever) sobre outras coisas ou que seja uma escolha que não se compagina com as demais. Não sou uma grande conhecedora de jazz apenas fico genuinamente entusiasmada com as descobertas que vou fazendo (e são vagarosas mesmo, começaram com o “Kind of blue” o clássico de todos os inícios). É só por isso que escrevo sobre jazz porque o estou a descobrir(e a ouvir já agora).
Para mim é claro que as opções musicais não têm que ser mutuamente exclusivas; posso gostar de jazz e punk. A única questão que se levanta é que se calhar já não se consegue ouvir punk da mesma forma depois de ouvir “The Black Saint and the Sinner Lady” do Mingus. Essa conversa já a tive no outro dia com os outros Corneteiros. Talvez eles queiram elaborar sobre o tema.
Ah, um último comentário, gostei daquele honest (vê-se pela inclusão dos Kiss ou Meat Loaf ).
De onde menos se espera...
Prova que a música que nos toca, às vezes vem de onde menos se espera.
2003/09/01
Amigas
São divertidas as nossas saídas; envolvem sempre sobremessas decadentes ("E se não jantássemos e só comêssemos o melhor bolo de chocolate do mundo?"), cumplicidades, alguns martinis e muitas risadas.
Gosto principalmente que quando vamos no carro me troquem sempre os Cd's. Sabotam o alinhamento que tenho predefinido para aquele momento. "Experimenta esta. É muito gira".
Também a vida é feita para ser desalinhada, melhor por amigos. Estou sempre a descobrir coisas giras por eles.
NEM VEM QUE NÃO TEM
(faixa da banda sonora de " A Cidade de Deus").