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2004/01/30

Public Service Announcement 

Isto de ter o blog de música tem a sua piada. De vez em quando aparecem na nossa caixa de correio mails a anunciar projectos, somos a banda tal e tal, ouçam-nos e etc... (normalmente são mais assertivos - somos a maior banda do mundo, X-Wife ao nosso lado...hpmf!).

Também entre os nossos conhecimentos (dos que escrevem este blog) estão vários amigos que pertencem proto bandas (pois, projecto é a palavra politicamente correcta).

É às proto bandas que me dirijo hoje, que estão à procura de espaços para actuar. Recebi por mail o seguinte anúncio:

Live Music at Restart
A RESTART encontra-se a promover mensalmente vários projectos/bandas/performers através de concertos no seu auditório (o que automaticamente garante qualidade sonora em termos de espaço). Após as apresentações no auditório, pretendem também promover um festival com as melhores bandas, no Parque das Nações. Não existem critérios quanto à orientação musical; apenas no factor "qualidade". Se têm contactos com bandas/animadores, estão convidados a enviar as demos (não se esqueçam de incluir contacto). .Na última semana de Fevereiro, LunaSeaSane.


Endereço:
RESTART - Esc. de Criat. e Novas Tecn.
Mediateca - Edifício Lisboa
Parque das Nações
1990 - 223 Lisboa

Obrigado ao Pedro Branco (que por acaso pertence aos LunaSeaSane ehehe).


2004/01/29

Melodia, harmonia e ritmo 

Melodia - combinação de sons sucessivos.
Harmonia - combinação de sons simultâneos.
Ritmo - sentido de ordem captado na regularidade da acentuação musical que se obtém pelas diversas combinações de duração entre os sons empregados num trecho. O ritmo é determinado independentemente do compasso (métrica). As acentuações rítmicas são três: binária, ternária e irregular.

do Manual de música de Manuel da Silva Dionísio.

Exemplos: binário (ta-tum/ ta-tum; ou ta-ta/tum-tum; ta-ta/tum-tum) ; ternário (ta/tum-tum; ta/tum-tum), irregulares ( aqueles que reunem um grupo de figuras iguais que não são divisíveis por dois nem por três).

São conceitos que não custa tentarmos entender e que nos permitem ter uma abordagem mais crítica da música. Claro que há quem diga que não quer saber disto porque só ouve música para descontrair ou seja o que for mas, de qualquer das formas, é sempre bom saber um pouco mais.


A ouvir 

Debussy: La mer, por Berliner Philharmoniker (maestro Karajan), Deustsche Grammophon, 1986.

Muito bonito.


Oitavas 

Julgo que era no blog "Faz-me um bife" que se falava da questão das oitavas. Mais uma vez, o mestre Herzfeld:

" Se um determinado som - chamemos-lhe - tiver quatrocentas e quarenta vibrações por segundo, ouviremos o som que tiver oitocentas e oitenta vibrações ou o que contar duzentas e vinte também como, simplesmente um como um mais alto e o outro como um mais baixo. Assim nascem as oitavas. O som mais alto e o mais baixo são o mesmo, e contudo têm diferentes alturas. Todos se fundem numa perfeita consonância.", p. 21.


Escalas gregas 

"Os gregos atribuíam força ética às suas escalas. Não foi por acaso que elas receberam os nomes de populações. Os dóricos provinham do norte e eram bravos e morigerados. À escala dórica eram, portanto, emprestadas as características da virtude e da coragem. O contrário sucedia com a escala frígia. Ela era expressiva de materialismo e de sensualidade. A escala lídia era própria para traduzir sentimentos afavéis, doces e suaves."

HERZFELD, FRIEDRICH, Nós e a música, tradução de LUIZ DE FREITAS BRANCO, Lisboa, Livros do Brasil, s.d., p.24.

Dórica - meio tom; tom; tom; tom; meio tom; tom; tom.
Frígia - tom; meio tom; tom; tom; tom; meio tom; tom.
Lídia - tom; tom; meio tom; tom; tom; tom; meio tom.


2004/01/28

X-Wife – Feeding the Machine 

Em jeito de complemento à entrevista, um comentário ao álbum...
X-Wife – Feeding the Machine Antes de tudo mais devo começar por confessar que gosto deste som pós-punk-electro-qualquercoisa-revive-80s. E digo-o porque reconheço que é mais uma moda, como muita gente gosta de apontar, e que não é nenhuma grande revolução em termos musicais. Mas pessoalmente é importante, porque me fez gostar de ouvir rock novamente, coisa que já não acontecia há muito tempo, quando abandonei as sonoridades rock em buscas de outras coisas electrónicas ou jazz (ou de preferência na confluência dos dois).

É obvio que este renovado interesse pelo rock não se deve apenas aos X-Wife, remonta, por exemplo à primeira faixa do Attention dos Gus Gus, Unnecessary, do verão de 2002, e tem-se manifestado de muitas outras formas, como por exemplo no electro de Peaches ou no Sister Saviour dos The Rapture...

O que seduz neste álbum dos X-Wife é precisamente a mistura de guitarras e efeitos e batidas electrónicas, aquela simbiose entre o rock e as máquinas... E também aquela dose de energia que dá à coisa um caractér visceral, de apelo imediato. Claro que tem também bastantes falhas, é um álbum quase todo igual, bastante repetitivo e que pode por isso tornar-se bastante enjoativo. E também é claro que estão lá todos os clichés, da voz em falsete e dos “oh yeaaaaaaaaaahs” ao Vocoder... Mas a banda sabe-o bem e é por isso que a dose que nos é servida é uma mini-dose de 38 minutos. Teria sido fácil fazer mais 4 ou 5 canções dentro do género e levar o disco para perto dos 60 minutos, mas não teria acrescentado nada, antes pelo contrário.

No fim de tudo ficam as canções. E entre muitas canções que à partida parecem todas iguais, destacam-se algumas que são singles imediatos, que são viciantes e que apetece ouvir vezes sem conta, tais como Eno, Rockin’ Rio ou Taking Control. Há tempos perguntava-me se este som que resultava bem ao vivo resultaria bem em disco, e está visto que resulta.

Este poderá não ser um disco intemporal, mas nem todos os discos têm que ser intemporais. Há discos que envelhecem muito mal mas que são excelentes para consumir dentro do prazo, aliás tal acontece com muitos vinhos. Se este disco vai envelhecer bem a seu tempo se verá, acredito que talvez não, mas enquanto é tempo vale a pena ouvi-lo e vale sobretudo a pena ver os X-Wife em concerto. Ainda mais porque há que aproveitar bem antes que a exposição que estão a receber cresça ao ponto de se tornar saturação, como infelizmente acaba por acontecer muitas vezes com grupos Portugueses (ver o caso dos The Gift)...

Quem quiser ouvir clique aqui (ficheiro de som tirado do site da banda).


2004/01/27

Entrevista com os X-Wife 

Propuseram-nos entrevistar o João Vieira (guitarra, voz) e o Rui Maia (drum machine, teclas) dos X-Wife, uma banda de cujo som eu pessoalmente gosto muito,e que já tinha referido várias vezes por aqui. O que começou por ser uma curta entrevista acabou por se alongar numa conversa em torno do novo álbum Feeding the Machine... (um aviso, este post é um bocado mais extenso do que é hábito...)

A Corneta: João, sabemos que começaste as tuas aventuras no mundo na música em Londres. Fala-nos um pouco do teu percurso.

João Vieira: Eu fiz um curso de design gráfico lá. Estava lá a estudar, e ao mesmo tempo tocava já em bandas, comecei a por música na associação de estudantes da minha faculdade, e daí com uns amigos decidimos começar o nosso próprio Club também.

AC: Portanto a música nessa altura era um hobbie?

JV: Tinha aquele sonho de ter uma banda, a banda na altura tinha piada, era uma coisa um bocado glam-rock e nós tentámos sempre ter um contrato discográfico, só que em Londres é complicado, há muitas bandas e há muita oferta, é difícil destacares-te no meio de tanta coisa.

AC: A ideia de ter uma banda veio antes da ideia de ser DJ?

JV: Não, a ideia de ser DJ nunca apareceu [lá], ser DJ só apareceu cá no Porto, porque as pessoas ligam muito a essa coisa de DJ. Lá era mais ter um Club em que passas música. Eu ainda agora não tenho mesa de mistura nem pratos em casa, tenho um gira discos normal e um leitor de CDs normal, e considero mais que passo música do que essa coisa de DJ. Por isso a banda e fazer música veio sempre muito à frente do DJ, isso era muito mais um hobbie. Pensei sempre que conseguiria um contrato discográfico mais rápido do que ser DJ.

AC: Então e tu, Rui?

Rui Maia: Tive várias bandas e já toquei bateria, guitarra, baixo, agora toco teclas, a parte electrónica e a drum machine também.

AC: Foi um hobbie que cresceu?

RM: Sim, desde que tinha 6 anos os meus irmãos tinham instrumentos em casa, bateria, baixo, guitarra e mais coisas, e tive sempre tendência a experimentar.

AC: Antes do álbum tinham apenas lançado um EP, o “Rockin’ Rio” e dado alguns concertos, e isso chegou para que na altura do verão já se falasse de vocês como a “mais surpreendente banda de rock do momento”. Agora que estão a lançar o álbum, esta expectativa toda dá-vos confiança ou pelo contrário é uma barreira, colocou-se a fasquia muito alto?

JV: É um pau de dois bicos, não é? Por um lado é bom, mas por outro lado também se criam expectativas muito grandes. É como quando vais ao cinema ver um filme que toda a gente te falou que é muito bom e tu estás à espera que seja realmente uma coisa muito boa. Isso às vezes torna complicado surpreender as pessoas. É muito mais fácil surpreender alguém que nunca viu ou nunca ouviu e que vai ver e saí de lá e gosta imenso quando é uma banda totalmente desconhecida. Quando já ouviu falar muita coisa, e ainda para mais se tiver boas críticas, é mais difícil surpreender. Mas eu acho que não nos deixamos ficar mal, que os concertos correspondem, têm muita força, não são muito parados, e acho que o álbum também tem aquela energia toda. Nos tentamos dar o máximo que podemos e ficarmos satisfeitos, acharmos que está um trabalho final com qualidade. Por isso essa questão das expectativas é sempre um bocado complicada, mas não há nada que possamos fazer em relação a isso a não ser tentar fazer o melhor que podemos.

AC: E o sucesso inicial antes da edição do álbum acham que se deve ao quê? À associação como DJ Kitten, com o Club Kitten? Ao facto de ser o som que se está a fazer neste momento lá fora? Ao vosso visual? Ou é devido à força do vosso set ao vivo?

JV: Tudo isso que acabaste de dizer, tudo isso que disseste agora contribuiu. É o facto de a música ter muita energia, de estar actualizada, que é uma coisa que os jornalistas dizem muito, que se está a fazer uma coisa cá em Portugal ao mesmo tempo que lá fora, não estamos atrasados no tempo como há uns anos. A coisa do visual é uma coisa menos importante, mas a nossa maneira de vestir tem a ver com as coisas que gostamos, a musica que ouvimos, tu adaptas-te a esse estilo de vida...

AC: E na parte gráfica, nas capas, no site? São vocês que tratam de tudo?

JV: Sou eu que faço. O site foi um amigo meu, de Londres, porque eu não sei programar, não tenho experiência em fazer websites. Se tivesse fazia eu e até preferia porque actualizava muito melhor. Porque é um bocado complicado estar sempre a mandar mails a dizer “vá, actualiza isso, põe aí estas datas de concertos”. Mas tudo é importante numa banda. Para todas as maiores bandas de todas as épocas, toma o exemplo dos Clash, tinham boa música mas também tinham um visual muito próprio que era muito importante, toma também o David Bowie, que sempre ligou muito ao visual... tudo isso faz parte da música, faz parte do conceito de banda e de artista.

RM: Quando as coisas surgem naturalmente, quando nós somos genuínos, é sempre muito mais interessante.

AC: Há quem diga que a vossa banda se preocupa demasiado em “parecer fixe”, assim modernos...

JV: Mas nos somos modernos! (risos) Ora nos fazemos música moderna, estamos a par das coisas novas que se fazem, por isso não é uma questão de parecer, sai naturalmente.

RM: Nós só nos conhecemos há dois anos, e eu já me vestia assim se calhar há mais do que dois anos...

JV: Nós começamos por querer fazer uma banda convencional, bateria, baixo guitarra e voz, e eu só ia cantar, porque eu era só o vocalista, não era guitarrista. Quando nós fomos para a sala de ensaios estavam lá dois amigos do Rui, um baterista e um guitarrista, e nós fizemos o primeiro ensaio e dissemos logo que não era aquilo que queríamos, era muito convencional e andávamos a tocar em bandas assim há anos, queríamos fazer uma coisa diferente. E eu e o Rui começamos os dois, ele fazia a drum machine e os teclados, e eu começei a tocar guitarra e a cantar, que já tocava em casa mas nunca tinha tocado numa banda. Depois sentimos que fazia ali falta um baixo para dar um bocadinho de força àquilo. Nós íamos começar a fazer uma coisa tipo Suicide, só dois, uma coisa mais atípica, pensámos em projectar imagem, falámos com um VJ para ir ver o conceito e tal, mas depois desistimos, começamos mas é a tocar rock e pronto.

RM: Se eu tivesse mais uma mão, se tivesse três mãos tocava também o baixo (risos).

AC: O vosso set ao vivo é um dos vossos maiores trunfos. Qual é a vossa inspiração? Lembrei-me de uma referência que não vi em lado nenhum, que são os John Spencer Blues Explosion...

JV: É a energia, eu por acaso associo um bocado os Yeah-yeahs ao Jon Spencer, acho que eles vão lá buscar muita coisa.

RM: A nossa ideia é começar a partir logo do início até ao fim, sem parar.

AC: Isso é muito cansativo para vocês, não é?

JV: Para mim então é o pior, eu farto-me de berrar, dou logo muito desde o início e chego ao fim, às últimas músicas... Dou logo muito desde o início. O Rockin’ Rio é o mais difícil, porque a voz saiu muito bem na gravação, é das vozes que eu gosto mais no álbum e depois quando vou fazer ao vivo não pode ser pior. Então esforço-me muito, sinto tonturas e tudo...

AC: Notei que se as condições de som na sala não forem boas a voz perde-se um bocado debaixo das programações e da guitarra...

JV: Há muitos agudos. Da minha parte à guitarra que é muito aguda, o Orange e a Jaguar têm assim um som muito “garage”, muito anos 60. É muito agudo e com a voz aguda aquilo perde-se um bocado... e depois do outro lado tens os teclados mais graves e o baixo, se bem que o baixo também não é assim muito grave, tem muitos agudos. É muito complicado fazer o som de forma a que se consiga perceber tudo. Eu tenho que ter sempre a voz muito alta nos monitores para sentir que estou ali a cantar com força.

RM: Nós gostamos de “deixar as pessoas sem respiração”, das músicas serem quase coladas, para tornar o concerto mais interessante, não haver ali um momento morto...

AC: Mas isso resulta bem porque o vosso set, tanto quanto vi, é relativamente curto. Duas horas assim ninguém aguentava...

RM: Não dá. Quando já és uma banda muito conhecida, tipo os Radiohead ou coisa do género, com um set de duas horas em que tu conheces as músicas dos álbuns, aí é interessante ires ver a banda. Agora quando és uma banda como nós, que acabámos de lançar o álbum e nem toda a gente conhece as nossas músicas, acho que estar a tocar uma hora é um bocado seca para as pessoas... também quanto mais álbuns tiveres, maior o concerto que dás...

JV: Eu lá no Club tinha bandas todas as semanas e a verdade é esta: tu vês uma banda e queres ver 20, 25 minutos da primeira vez que os vês, e já chega. Quando já conheces as músicas e és fã da banda tu queres ver mais tempo. Quando não conheces não vale a pena estar ali a martirizar, tens que deixar as pessoas à espera de mais, chegar ao fim e dizer “é pá, já acabou?”. Isso é bom sinal, percebes? Se as pessoas dizem “é pá cala-te lá, nunca mais acabas!” é que é mau... e a verdade é que nós não temos assim tanto repertório para mais de 45 minutos, mas nos achamos que 35, 40 minutos no máximo dá para as pessoas terem uma noção do nosso som e curtirem o concerto e é aquele limite certo...

AC: Vocês agora tocam o álbum inteiro?

RM: Já temos músicas novas mas nunca tocamos o álbum inteiro, há sempre uma ou duas que ficam de fora, tocamos 9, 10 músicas no máximo...

AC: O vosso álbum recebeu boas críticas em geral. Vocês acham que é um caso isolado ou os media portugueses estão mais disponíveis para aceitar artistas portugueses que cantem em inglês?

JV: Acho que independentemente do álbum ser português, inglês ou americano, deves ver a coisa pela música, e acho que o álbum está muito bom, do princípio ao fim, tem boas canções, que é a coisa mais importante, é um álbum muito directo, rápido e bastante simples, mas que funciona muito bem, como o Público disse é um álbum que apetece ouvir em loop, tu chegas ao fim e apetece-te ouvir outra vez... É um óptimo álbum de apresentação, que é como deve ser, não é pretensioso, com grandes arranjos ou conceitos. É simples e é nestes termos que se tem que fazer a crítica... O nosso álbum faz parte de uma época que se está a passar em todo o mundo, não é só em Portugal, e acho que pode competir com grandes bandas de que já falei, os Yeah-yeahs, os Rapture, os Liars.... e eu sinceramente acho que não fica muito atrás. Muita gente lá de fora, de bandas e de editoras, ouve e não vê grandes diferenças em termos de qualidade musical e de boas canções. Todas as críticas ao álbum foram boas e nós temos consciência de ter feito um trabalho bom, não é uma questão de ser arrogante, mas de não haver falsas modéstias.

AC: Vocês estavam a falar do facto do som ser actual e estar ao nível do que se faz lá fora. Cá há sempre aquela ideia que lá fora só resultam os Madredeus e alguma coisa do fado, e o resto, pop/rock que se faz por cá ou mesmo outros estilos não vingam... Acham que têm hipóteses lá fora, estão a lutar por isso?

JV: Em termos do produto em si temos hipóteses. Agora uma das barreiras que é um bocado difícil de ultrapassar é que exportar musica rock lá para fora é quase impossível. É mais fácil exportar fado e coisas como os Madredeus porque é uma coisa mais como “World Music”, porque é um estilo de música que só é feito cá, e então é um mercado de nicho, só Portugal é que faz, quem quer tem que ir buscar ali. O rock é feito em todo o mundo e as grandes editoras têm mais facilidade em pegar em bandas na América e Inglaterra. Nós estamos a tentar, agora é uma coisa muito difícil, não estamos com grandes esperanças. Se der, óptimo...

AC: Como é que vêm este som, esta onda actual a evoluir no futuro? A electrónica vai ganhar predominância sobre o rock, ou vice-versa, dentro deste estilo?

JV: Acho que a electónica vai prevalecer, e o rock também. Sinceramente bandas como os Strokes, que lançaram o segundo álbum mais fraco do que o primeiro, uma banda fazer isso é das piores coisas que pode acontecer. Temos que ter capacidade para desenvolver um trabalho, fazer uma coisa original, diferente do primeiro, pode ser até menos forte, outra vertente, mas ser original e diferente e mostrar outra vertente, e acompanhar os tempos ou fazer uma coisa só nossa. Há bandas que conseguem e outras não. Vamos ver... por exemplo os Liars já fizeram uma coisa completamente diferente, eu já ouvi o álbum, e é diferente do primeiro. Eu gosto muito mais do primeiro, mas ao menos não fizeram um álbum igual e eu acho isso bom e corajoso.

AC: Já começaram a trabalhar num novo álbum ou ainda estão na fase de digerir este?

RM: Já começamos....

JV: Já temos 3 músicas para o próximo álbum, é mais cru, mais violento! (risos).

RM: Mas não vai ser o “Feeding the Machine” parte 2, não é? Não tem lógica, se o álbum sair daqui a, sei lá, um ano, um ano e meio... temos que ver...

AC: Qual é o ciclo? Faz-se um álbum, promove-se, descansa-se um bocado, faz-se um novo, ou é tudo ao mesmo tempo?

JV: Não há ciclo. Fazes as canções, gravas, se estiverem mesmo boas e estás satisfeito lanças o álbum, não vale a pena estares a guardá-las, é deitar cá para fora. Gravas estas, o álbum está cá fora, e começas outra vez, e acho que o ciclo deve ser este. Nós agora também nos esforçamos um bocadinho para não ir pelo mesmo caminho que o primeiro álbum, há umas musicas que escrevemos que já deitámos fora porque achámos que estavam um bocado nestas linhas do primeiro e estamos a apostar numa coisa um bocado diferente... tu depois vês! (risos) Já vamos tocar as músicas novas nos concertos, por isso depois podem ver.

AC: O vosso som é um som bastante urbano. Há um público para os x-wife fora de Lisboa e do Porto? Para além dos festivais de verão já deram algum concerto fora destas cidades?

JV: Demos em Viana, Alcobaça, Paredes de Coura, Coimbra, Aveiro... Mas Porto e Lisboa têm muito mais público sempre. Há mais gente, e há mais gente que conhece. Em Lisboa no Lux esteve sempre cheio, tanto com os Liars como com os Losers, e no Porto tocámos no Mercedes e nos Maus hábitos e também esteve sempre cheio.

AC: E notaram alguma diferença na aceitação do público?

RM: Não, o de Alcobaça foi dos melhores que já demos, até...

AC: O vosso single chamava-se Rockin’ rio. Actuar no rock in rio lisboa está nos vossos planos? Ou não é dirigido ao vosso público?

JV: Não, o nosso público é todo, nos estamos abertos a toda a gente. Quando eu dei o nome à música nem sabia do Rock in Rio em Lisboa, foi mesmo assim uma espécie de uma sátira ao Rock in Rio do Rio de Janeiro e era para ter algum humor o nome da música. Quando soube que o Rock in Rio vinha para cá achei “olha que boa oportunidade para eles usarem a música e nos pagarem uns não sei quantos milhares de Euros” (risos). Mas acho que vão bandas portuguesas, estive a ler agora não sei em que jornal e falava disso...

AC: Para já têm sido anunciadas coisas mais “grande público”, mas sei que eles vão ter vários palcos, e não sei com o que é que eles os vão encher...

JV: Vamos ver.. . (risos)

AC: Que discos ouvem actualmente? E quais são as vossas referências intemporais?

JV: Intemporais: o Brian Eno, o Here Come the Warm Jets e o Another Green World são intemporais, os albums do Bowie da era de Berlim, o Low, o Heroes e o Lodger, são álbuns que não marcaram tanto uma época como o Ziggy Stardust, são mais intemporais, os àlbuns dos Joy Division, os primeiros dos Roxy Music... tudo fim dos anos 70... Também os Cure, aquele punk daquela altura em que as bandas parece que estão a começar a tocar, que fazem aquela música muito simples mas que acaba por funcionar muito bem, também vamos buscar aí referências... Coisas de agora: os LCD Sound System são uma banda muito interessante, que foram buscar também referências destas que eu falei, os Liars, os Rapture tiveram um single incrível, o House of Jealous Lovers, os Yeah-yeahs... há outra banda de que estou sempre a falar, os Pink Lips, que têm um som muito aproximado ao nosso...

AC: E tu Rui?

RM: São praticamente as mesmas coisas... nós ouvimos mais ou menos os três as mesmas coisas...


2004/01/26

Não há fome que não dê em fartura 

Este fim de semana não faltaram propostas de música ao vivo de muita qualidade em Lisboa, como que a provar que não há fome que não dê em fartura...

Depois dos relatos dos concertos a que assistimos nestes últimos dias, fica por documentar aquele a que não podémos assistir: Jane Birkin a cantar as canções de Gaingsbourg em versão arabizada na Culturgeste. Infelizmente a carteira e a energia não dão para tudo...

No entanto, a acreditar no relato de Eduardo Prado Coelho, o concerto foi muito bom (há que ter em conta que esse senhor também adorou o concerto de Beth Gibbons e Rustin’ Man no Coliseu aqui há uns tempos, por isso deve ser lido com algumas reservas...).


Durutti Column  

23 de Janeiro, Santiago Alquimista
Se me perguntarem quantas músicas, quem estava em palco o que tocaram não sei responder a nada. Entre as cabeças dava para distinguir Vini Reilly, uma trunfa grisalha a espreitar, um corpo meio cadavérico agarrado a uma guitarra. Vi também um baterista, um teclado, haveria outra guitarra?

Ok desde logo cheguei atrasada, e depois fiquei lá em baixo, e depois uma pequena multidão, uma pequena multidão que provavelmente comprou o LC e Amigos em Portugal estava entre mim e o palco, era como se entrasse para uma cerimónia a meio. Eu que ouvi duas vezes o Someone Else’s Party, a faixa que estava no 24 Hour Party People (Otis), poderia de alguma forma compreender o que se estava a passar?

O curioso, o curioso é que acho que não é mesmo para compreender. Que se criou uma atmosfera íntima (ou não se estivesse entre amigos...), feita mais de sons que de palavras, uma densa névoa povoada por uma guitarra psicadélica, a guitarra de Vini Reilly, uma presença tão frágil que parece pronta a desintegrar-se ali à nossa frente. Quantos foram mesmo os temas? 10? 11? O que é que isso interessa?

Há amigos em blogolândia que percebem mais disto que eu…


DC
uma foto curiosamente fiel ao (espírito) do evento





2004/01/23

Rescaldo de uma noite de concertos 

A noite de ontem prometia bons concertos, e a Sofia já deixou uma boa ideia do resultado final. Abaixo ficam os meus pontos de vista:

The Bad Plus

O concerto dos The Bad Plus foi de facto notável. O grupo tem recebido crédito por tentar de alguma forma renovar o som jazz afastando-se do repertório convencional de standards e este concerto demonstrou, com as versões de músicas de outros quadrantes musicais e com as composições próprias, que o consegue bastante bem. Todos os músicos estiveram notáveis, mas a bateria destacou-se, indo por vezes muito longe dos padrões “normais” do som de bateria jazz, mas sendo sempre uma força condutora e a fazer juz á fama de “loudest piano trio in the world”.

Para além disso o trio deu um bom espectáculo, comunicando com muito humor com o público. A sala estava talvez menos de meio cheia, e ao início sentia-se que as pessoas não estavam, em geral, muito certas do que iam ouvir. A apoteose de aplausos no segundo set provou que o trio soube muito bem conquistar a sala. Não me admiro nada se eles tiverem o dobro ou o triplo da audiência da próxima vez que passarem por Portugal.

Colder

Do concerto de Colder esperava muito, até porque gosto muito do disco. Mas as desilusões foram-se seguindo umas atrás das outras.

A primeira desilusão deveu-se não aos músicos mas ao Lux. Não percebo porque é que o Lux insiste em desrespeitar horários. Anunciado para as 00h30, o concerto começou perto das duas da manhã, o que convenhamos não é muito bom quando se pensa que Sexta (também) é um dia de trabalho. Se estavamos devidamente aquecidos pelo concerto anterior, a espera tratou de arrefecer em boa medida os ânimos... sinceramente, não se percebe porque é que no Lux as coisas funcionam tão mal.

Colder apresentou-se em palco acompanhado por músicos na guitarra, no baixo, na bateria e nas programações. As músicas foram assim sendo apresentadas em versões mais musculadas, com uma sonoridade mais rock. Infelizmente isso funcionou em detrimento do efeito final, porque perdiam boa parte do negrume e encanto que as caracteriza no álbum. Acresce que os músicos, não sendo propriamente uma banda, mas músicos contratados para actuar ao vivo, não se empenhavam realmente, e mantinham posses estáticas em palco, o que não ajudava a transmitir nenhuma descarga emocional à plateia. Para além disso, tendo em conta que Colder é na verdade um designer conceituado e que o álbum é vendido com um DVD de animações que ilustram as canções, seria de esperar que houvesse algum VJing em torno da actuação. Nada, nenhuma projecção a animar o palco, nem sequer o mais elementar jogo de luzes. Uma pobreza confrangedora.

Felizmente, já depois de o concerto ir a meio, as coisas melhoraram bastante, foi como se começassem a fluir mais naturalmente... A banda empenhou-se mais, sobretudo o guitarrista, a música virou para versões mais electro, ligaram-se alguns efeitos de luzes sobre o palco... Foi como se demorassem cerca de 25 minutos a aquecer e depois a coisa começasse a sério. O problema é que tendo em conta que o concerto não demorou mais de 50 minutos, metade acabou por ser gasta em vão. Talvez fosse apenas um problema de falta de rodagem ao vivo, mas mesmo assim...

Foi uma grande desilusão... a “battle of the bands” acabou por ficar 1-0 para os músicos de Jazz e para a Sofia (os Bad Plus eram a escolha dela, Colder era a minha...). Para mim, foi um golpe na minha capacidade de me encantar com coisas novas...


Dose Dupla 

Ao início receei. No meio do concerto fui perguntando para os lados – “então estás a gostar?”, e perante: “o baterista passa-se!”, “o pianista é espectacular!”, “o baterista podia estar nos Korn! “, deu para relaxar e compreender que foi, sem dúvidas, um grande concerto, mesmo para aqueles que não estavam a par do universo Bad Plus.
Repetindo o que está para aí algures noutro post, trata-se de trio bateria/piano/contrabaixo cujo estilo é marcado pela fusão entre rock e jazz. Mas é muito mais que isso. Além das famosas “versões desconstruídas da pop clássica” (desta vez a expressão certa! ) apresentaram-se muitos temas originais, muitos temas do próximo trabalho, onde o cuidado nos arranjos e o arrojo no experimentalismo foram notórios. Outra nota importante nesta actuação foi o sentido de humor que trespassa pela música, a atitude, as pequenas histórias que Reid Anderson (baixo) ia contando entre os temas, o próprio nome dos temas (Keep the Bugs of your Ass and the Bears of your Ass, Cheney Pinata, Do Your Sums – Die like a Dog – Play for Home,….).

Se Ethan Iverson (piano) apresenta matizes de pianista clássico (o que deu a origem a um solo fenomenal já no encore ) a estrela ruidosa é o baterista David King, um potento de energia que aproveita toda a bateria para sacar sons subtis ou violentos, não há limites à sua imaginação. Pode ser pura bateria de rock, como no final do tema dos Blondie o Heart of Glass, ou partir o ritmo no tema dos Black Sabbath (pareceu-nos, mas não sei o nome) ou ainda criar ondas radiofónicas em Neptune: the Planet , transmissões do planeta distante.

O concerto foi bipartido entre temas de These are The Vistas, onde não faltou o chamariz do Smells Like Teen Spirit, e temas do álbum a lançar em Março deste ano, o Give . O CCB esteve a meio gás, o que acabou por ser vantajoso, deu para ficar na plateia com bilhetes para o balcão superior.

Para quem tenha curiosidade para ouvir - http://www.thebadplus.com/ - embora ao vivo seja muito melhor!

E depois da tese a antítese. A Corneta seguiu para o Lux para a actuação de Colder com espírito animado, vontade de dançar. O concerto só começou lá para a uma e meia, já depois de muitas cervejas de impaciência. O facto de se apresentar com uma banda ao vivo perde o espírito de electrónica, principalmente um trabalho destes em que a voz é robotizada, cold pois ! Deu para ouvir todos os temas fortes de Again – One night in Toyko, Colder, Confusion, Where – mas só no final quando o público já estava aquecido e o som mais mecanizado, mais transe, acabou! Não foi um mau concerto, mas esperava-se muito mais…


2004/01/22

Coincidências 

Há dias assim! Duas das descobertas “fetiche” d’ A Corneta vão actuar em Lisboa, e tinha que ser logo na mesma noite. Tantas e tantos dias sem nada de especial no horizonte e depois temos The Bad Plus no CCB e Colder no Lux, quase em simultaneo. Ainda assim, podia ser pior. Como no Lux os concertos começam bastante tarde, vai dar para ver os dois.

Os ouvidos agradeçem, a carteira chora...!!!


The Bad Plus
The Bad Plus



2004/01/20

Olha-me este.... 

Confesso-me desarrumada, caótica quanto à organização dos Cds. Normalmente ouço e vai para a primeira caixa que encontro. Agora vejo a gravidade do meu erro, o acumular de sítios errados. Tenho alguns que não encontro há….há anos (que vórtice esse que há no meu quarto que suga os Cds para o oblivion, como eu gosto dessa palavra, oblivion). Tentando descortinar aqueles AWL há mais de 2 anos (começo a perder a esperança para estes), encontrei o “Fever in fever out” das Luscious Jackson na caixa do…Reservoir Dogs.


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Um trabalho típico anos 90, quando a categoria alt-rock ainda fazia algum sentido. São canções pop, muito estilizadas, alguns temas têm acrescentado uns loops de bateria ou algum scratching o que lhes dão uns laivos de electrónica e com umas letras em que (e odeio a expressão), em que se ressalta o universo feminino (Mood Swing, Why do I Lie, Soothe Yourself).

Os anos 90 foram pródigos em bandas femininas (ou quase exclusivamente femininas). Só lá em casa tenho: Hole, L7 (está numa compilação por isso tecnicamente…), Babes in Toyland (embora estas estão na categoria “monos”, estava muito baratinho mas é muito mauzinho), The Breeders e Veruca Salt.

E estava a pensar, há ainda girls bands hoje em dia? No outro dia acho que vi na MTV uma que se chama The Donnas (ahaha toda a banda que se preza agora chama-se The, esta foi da autoria do Tiago mas ele nunca mais escreveu isso…The The), deixa cá ver muito rápido, outra, as Azure Ray. E mais?


2004/01/19

To Rococo Rot – ao vivo na estação da Baixa-Chiado 

Para a passada sexta-feira estava anunciado um happening fora do vulgar: to rococo rot ao vivo no tunel da estação de metro da baixa-chiado. Não conhecendo a música dos TRR, guiei-me pela excitação em torno do acontecimento demonstrada por outros blogs amigos e fui à dita estação para assistir ao evento.

Em boa hora o fiz, pois foi uma coisa que não se vê todos os dias, mas que é de facto digna de se ver. Os músicos estavam instalados num dos patamares da imensa escadaria que desce da entrada da estação de metro no Chiado até ao nível das bilheteiras. Debruçados por cima dos seus laptops e outras caixas electrónicas, lançavam camadas de ritmos e pulsares inconfundivelmente electrónicos uns por cima dos outros. Enquanto isso o público, em grande número, acumulava-se nas escadarias que iam até esse patamar, e as escadas rolantes eram mantidas desimpedidas pela organização, para que quem quisesse chegar aos cais da estação o pudesse fazer.

A mistura resultou espectacular: o ar enchia-se de sons que de alguma forma pareciam pertencer aquele ambiente de túnel, o público agitava-se e aplaudia, e havia sempre quem passasse, alheio a tudo aquilo, e olhasse para todos os outros com o ar mais intrigado deste mundo. Ficou no ar o sabor de que ali tinha tido lugar arte e não entretenimento.

O evento chamava-se “em trânsito”. Não podia ter sido melhor escolhido. Tendo chegado atrasado, e face à impossibilidade de encontrar um lugar nas escadas a partir do qual pudesse ver o “palco”, a única solução que encontrei foi manter-me em trânsito entre 3 patamares das escadas rolantes, as quais percorri mais de 20 vezes.

Mais informações? Aqui e aqui. E também aqui, onde este senhor tem razão ao dizer que mais eventos destes são precisos, se faz favor.


2004/01/15

Onde jazz o talento 

A propósito de nada encontrei um pedaço de texto que diz muito:

How is that terrible musicians are able to write incredible songs? And why can't technically competent musicians write songs as well as they can play their instruments? There are bands like The Kinks who-- let's face it-- were far from the most technically adept in their field, yet have somehow left behind some of the most timelessly enjoyable and imminently relevant rock music artifacts. Then there's a guy like Yngwie Malmsteen, whose technical proficiency exceeds that of every rock musician ever to exist-- maybe combined. And how many Alcatrazz records do you own?

All too often, it seems technically proficient artists are their own worst enemies. Titillated by their own prowess, they compose music that showcases their chops but masks their humanity. It's a schtick that impresses but rarely inspires. There is a point, though, when some mathematically complex set of chords stops being impressed with itself and becomes a truly inspiring song, when a bushel of mind-numbing guitar riffs transcends its sonic masturbation and reaches an emotionally satisfying stratosphere. No one knows exactly where that point is, but we know when it's reached, and more importantly, we feel it when it's crossed.

http://www.pitchforkmedia.com/record-reviews/p/pretty-girls-make-graves/new-romance.shtml

Já tive esta mesma conversa com diferentes pessoas. Onde jaz o talento…
Já não é a primeira pessoa que me diz que músicos com pouca formação musical ou instrumentistas sofríveis fizeram da melhor música (cada um terá os seus, mas a mim lembra-me Nirvana, Sex Pistols, Ramones ). E como vozes mais monocórdicas podem expressar tanto (Stuart Stapples, Bob Dylan, Leonard Cohen). Pois é, essa barreira invisível entre o génio e o "regular". Conceitos difíceis de definir: génio, talento, apenas bom.

Mais do que nos relacionarmos com escalas complexas os indivíduos reagem ao que mexe as vísceras. Isso mesmo, muitas vezes é uma reacção corporal.

A minha dúvida é se ainda temos essa capacidade de deslumbramento, de voltar a sentir a nível visceral e não despoletar logo a parte racional que quer catalogar, identificar, arquivar... Às vezes parece-me inevitável (ainda hoje estive a ouvir The Distillers e realmente aquilo parece Hole e parece Nirvana,…) leva-me muitas vezes a dizer “ah isto é…é parecido com…aquele piano lembra…”., como se quiséssemos propositadamente confinar os músicos às caixas previamente estabelecidas (correntes como, punk, electro, ska, art -rock ou a essa caixa tão em voga “anos 80”, “revivalismo”). Aqui um grande mea culpa porque sou a primeira a dizer mais do mesmo


2004/01/14

É tempo de saldos 

Embora eu pessoalmente ache que há discos que só se devem ouvir no verão, discos que só fazem sentido no inverno e discos passe-partout, os discos não são, em bom rigor, um produto sazonal. Ainda assim, a Valentim de Carvalho parece ter aproveitado esta época de saldos para fazer uma limpeza aos seus stocks, e encontram-se nas suas lojas (pelo menos eu encontrei nas 2 que visitei) um pequeno armário em que estão expostos Cds em saldos com preços a partir de 1 Euro.

Não resisitindo aos preços, vasculhei meticulosamente o dito armário. A maior parte do que lá encontrei não me dizia nada, mas depois de muito procurar dei com as seguintes pérolas: Giles Peterson Worldwide 2 e Danilo Perez – Central Avenue.

Se o disco de Giles Peterson é uma compilação já bastante conhecida, no caso de Danilo Perez guiei-me pelo facto de ser o pianista que integrava a banda de Wayne Shorter que actuou este verão no Estoril, e por o disco ter o selo da Impulse (garantia de alguma qualidade no que toca ao Jazz).

Cada um destes Cds por apenas 3,99 Euros, ou seja dois CDs óptimos por menos de metade do preço de um Cd novo (que na VC estavam marcados, na sua maioria, a 19,90 Euros). É caso para dizer “Obrigado, VC”!

É pena que não surjam mais oportunidades destas. Na Worten, até há algum tempo, acabava sempre por se encontrar alguma jóia a bom preço, mas de há uns meses para cá sempre que lá vou volto desiludido e de mãos a abanar, pois os preços também aí aumentaram bastante. Ora eu tenho como teoria que a melhor forma de combater a pirataria não passa por download legais e pagantes (como o iTunes, que ao que parece é um sucesso), mas sim preços dos Cds bastante mais baixos. Se calhar engano-me...


De manhã para o trabalho gosto de acordar a 2 


Prokofiev - Romeo and Juliet Op.64 (Montagues and Capulets)


2004/01/12

Hail 

Long live rock n`roll - o verdadeiro post punk-crust. E, falando em punk, não é que o verdadeiro, o único, o menino querido do punk português - sim, o Ribas - estava pedradamente refastelado, 6ª feira passada, junto à Brasileira a tocar guitarra, apunkalhando o sistema, acompanhado pela mais podre voz que já ouvi?

Afinal é mesmo "nesta vida até morrer"... Grande!



Ano será marcado por Nirvana e rock dos 80 

Duas ou três vezes por ano encontro-me em Lisboa com uma amiga brasileira que conheci pelas minhas deambulações pelo estrangeiro. Além de, como dizem os brasileiros, ser “gente boa” (e super gata), a Malú é jornalista na secção brasileira da BBC. Estava-lhe a contar das minhas aventuras blogesféricas do “ musicol”quando ela diz-me que tinha entrevistado os editores do NME (Steve Sutherland) e da Uncut (Paul Lester) sobre o que se vai ouvir em 2004. Uma entrevista curta mas com uns insights interessantes sobre o que nos espera.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/cultura/story/2003/12/031229_musicaml.shtml

Basicamente falam na aposta pelo indie rock (com sabor a anos 80, o revival ainda não acabou) e também o início do revival dos Nirvana ( passados 10 anos do suicídio dos Cobain). Aha! Nós também dissemos o mesmo, ou se calhar era mais que óbvio… Algumas escolhas: The Distillers (não conheço, tenho que investigar), The Rapture, The Darkness.

No entanto há sempre um elemento de imprevisibilidade. Como diz Paul Lester, provavelmente há um adolescente que neste momento está a brincar num quarto da sua casa em Brixton com as suas pick-ups e que pode vir a mudar tudo. Basta lembrar o furacão que foi o ano passado o aparecimento de Dizzee Rascal em Inglaterra, o tal adolescente 18 anos que com o Boy in da Corner já levou um Mercury Price.

PS: Sexta feira o grupo onde estava a Malú foi barrado de entrar no Lux por uma porteira (nova, eu nunca tinha visto na vida) que alegou que só havia entradas por convite ou então tinham que pagar sessenta Euros cada. A Malú disse que tinha uma amiga lá dentro (eu) que tinha entrado por 12 (o preço normal). A porteira disse que eu era cliente da casa (mentira). Pensava que o Lux era uma discoteca diferente onde não se tivesse de aturar a arbitrariedade de porteiros, nem desculpas esfarrapadas. Já nos basta uma capital na zona.
Apelo desde já à criação do blog www.aolgagonzalezéumboi.blogspot.com (sim a porteira).


Em audição  

The nutty pea: Label this, Edição de autor, 2003.

Web: www.nuttypea.com.
Contacto: mail@nuttypea.com

Descrição: rock com (muitos) laivos ska/funk; letras divertidas e guitarras aguadas, por vezes distorcidas; trompete q.b.; boa gravação e arte gráfica cuidada.


Casa do Faraó 

Para os amantes de música étnica, aconselho vivamente a Casa do Faraó, na Rua do Santo António da Sé, local onde poderão deliciar-se, aos sábados, a partir das 23 horas, com um cocktail musical que conta com um baixo acústico, um violino, um arcaico xilofone e um set de percussão árabe. A entrada é livre e o agradável - e simples - espaço é o ideal para pôr a conversa em dia enquanto os músicos tocam temas ensaiados, pautados com uma dose q.b. de improvisação.


2004/01/10

Anger - acreditar 

Abriram para uns dos meus favoritos. Soam a Pantera - não soam a Pantera. Soam a Nirvana? Não. Meus amigos, (re)apresento-vos uma grande formação. A trabalhar com arroz desde `94, os Anger são, simplesmente, uma fantástica surpresa que, perante mim, surge. Imagino-os na sala de ensaios. Ouço o metrónomo. Vejo as poses insinuadas de Pedro Pereira - nem todo o potente metal vem das américas.
Ouço "Say (what you wanna)" pela terceira vez e gosto três vezes mais do tema. Desta não escapam. Vivam os Anger, pois sua força é sua alma - basta ouvir a mudança de tom na entrada do refrão do insistente single para percebermos que estamos perante, não de uma banda, mas, sim, de um casal apaixonado - começaram há pouco, tal é a paixão.

Confesso: é a primeira vez que ouço o disco na sua totalidade e não me interessa, pois merecem toda a atenção do mundo, tamanha é a devoção, empenho, esforço - vosso suor cheira a futuro. Ou julgavam que o império americano ia durar para sempre?

Anger: The bliss , Cobra, 2003 (distribuição: Musicativa).

P.S. - viremo-nos para dentro, para o talento, para os subjugarmos lá fora - "I wanna get upside down".
P.S. (1) - agradecimentos ao, grande, Tiago, pelo disco.
P.S. (2) - vão dar que falar e de que maneira; acreditem - força rapazes.


2004/01/07

Descortinar a música - um livro 


The rough guide to reading music


Pinksterboer, Hugo, The rough guide to reading music and basic theory, London, Penguinbooks, 2001.


Curiosidade (histórica) 

Ainda em Janeiro Jane Birkin vai tocar no grande auditório do Culturgest dia 23. O trabalho chama-se Arabesque, talvez mais uma influência de Debussy.

Se o nome da cantora não diz muito talvez o tema "Je t'aime...Moi non Plus" com Serge Gainsburg ajude.

Um dos episódios mais surrealista que tive foi estar a almoçar num desses centros comerciais de Lisboa enquanto ouvia esta música. Aos berros.

Foi engraçado entre tanto fato cinzento e a garfada na tarte de espinafres ser rodeada por aquela sucessão de lento arfar.


Too much of one thing* 

Já se tinha dito que Janeiro prometia, mas é pior, muito pior. Janeiro vai ser a minha bancarrota se quiser ir a todos os concertos que estão agendados. O problema é que quero mesmo ir .

Tenho de encontrar um mecenas.


Agenda musical:

9/10 Jan - Maria Rita (já não há bilhetes, menos um , ufff... já agora, esclareçam-me, porque é que a tabela de preços de Maria Rita está equiparada à de João Gilberto? Sim é filha da Elis Regina, mas tem apenas um trabalho publicado. A avaliar pela capa do Público parece que Cristo desceu à terra.)
22 Jan - The Bad Plus(CCB) e Colder(Lux)
23 Jan - Durutti Column (Santiago Alquimista)
30 Jan - Mário Laginha+Bernardo Sassetti (Centro Cultural Olga Cadaval)
5 Fev - Mogwai (Paradise Garage)
24 Fev - Nick Cave (CCB)
13 Mar - Zeca Baleiro (Teatro Rivoli)
31 Mar - Ursula Rucker (Teatro Rivoli)
2 Abr - Kraftwerk (Coliseu)
3 Abr - David Byrne (Coliseu)
8 Mai - Elvis Costello (Coliseu) e Lambchop (Aula Magna).

Acho que quase todos passam pelo Porto ou Gaia. Não sei se repararam dois deles vão apenas ao Porto.

*Tema dos The Go-Betweens (e das melhores letras de sempre).


2004/01/06

O disco novo dos X-Wife 

Os X-Wife estão prestes a lançar o seu primeiro disco e o Y (Público) concedeu-lhes o destaque de capa e uma grande entrevista. Tratam-nos como a “Next Big Thing” Portuguesa.

Há muito quem diga mal deles, assim como há muito quem diga mal desta onda revivalista de bandas rock/punk/electro-qualquer coisa. Não sendo particularmente conhecedor ou apreciador do género, devo dizer que gostei bastante do que ouvi nas 2 oportunidades em que os encontrei ao vivo (número festival e festa mondo bizarre). Claro que lhes aponto os mesmos defeitos que toda a gente, ou seja , aquilo acaba por soar sempre igual... mas ao vivo a coisa tem muita energia e funciona muito bem. Pelo que já tive oportunidade de ouvir, acho que eles mereciam ter (pelo menos algum) sucesso.

Estou por isso bastante curioso para ver como resulta o álbum... O pior, é que com o destaque que lhe estão a dar, põem-se as expectativas muito altas e depois a coisa acaba sempre em desilusão. Oxalá que desta vez não seja assim, era bom que houvesse uma banda portuguesa de rock que me desse mesmo vontade de ouvir e de ir ver ao vivo (actualmente acho que não há nenhuma).

Vamos ver também é se a estratégia promocional da editora não passa por saturar totalmente as rádios com os singles que forem saíndo, porque nesse caso, por melhor que seja o disco, a paciência acaba por se esgotar rapidamente...


2004/01/05

Balanços de 2003, ideias para 2004 

Chegámos a 2004. A Corneta começou a dar-nos música em Junho de 2003, e um pouco por isso este foi um ano em que estivemos todos muito mais atentos à música nova que ia saíndo que em anos anteriores.

Ainda assim ao olhar para os balanços do ano que se fazem por toda a parte reparo que muita coisa me passou ao lado, e pior, houve muitos discos merecedores e dignos de nota que ouvi e ainda assim acabaram por ficar por (semi) esquecidos (os exemplos aqui são vários: Madlib, Ursula Rucker, Alpha, Rosie Thomas, Two Banks of Four, muita e muita coisa que se ouviu e acabou por ficar esquecida...). Há muito para por em dia, e ainda bem, seria terrível chegar a uma altura em que nada mais houvesse para dizer. E 2004 que discos nos trará? Eu, por exemplo, já estou em antecipação em relação ao novo dos Air, a ver o que a coisa dá...

2003 foi também um ano de bons concertos,e 2004 já promete ser melhor, vêm aí Mogwai, Durutti Column, Colder, Kraftwerk, The Bad Plus, Nick Cave e ainda é só o começo. Vamos ver também no que é que dá o Rock in Rio Lisboa. Os nomes anunciados até agora não aquecem muito, mas é esperar para ver...

Tudo isto para dizer então o qué? Que estou contente por A Corneta ter durado até aqui, foi preciso algum esforço e nem sempre foi fácil conjugar obrigações blogísticas com obrigações profissionais, mas foi/é um trabalho que nos dá muito gozo a todos...

Esta é também a oportunidade para deixar aqui também um grande bem haja e um bom 2004 a todos os que nos visitaram, linkaram ou comentaram em 2003, esperamos continuar a té-los por cá em 2004.


S. Nicolau rides Rangifer Tarandus 

E. Paniagua & El Arabi Ensemble: Wallada & Ibn Zaydún , Pneuma, 2003.
Laurie Anderson: Live in New York September 19-20, 2001, Nonesuch, 2002.

Nota: sabiam que as renas andam em ácido? Da sua dieta alimentar faz parte uma planta com efeitos alucinogénicos. Têm os cinco sentidos muito apurados. Existem contos ancestrais centrados no simbolismo mágico das renas, mas o Natal já foi, não é?


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