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2004/09/30

Em audição (excelente) 





Já tinha tido um prelúdio sobre o novo álbum do trio favorito de muitos - Keith Jarrett, Gary Peacock e Jack DeJohnette - através da Forma do jazz, mas é certo que custou a chegar a Portugal (lançamento mundial foi a 31 de Agosto).

Creio que na FNAC só o puseram à venda na semana passada, na MC (Mundo da Canção no Picoas Plazza que tem outra loja no Porto na R. Duque Saldanha) só está a partir de Novembro.... é aproveitar o nice price de lançamento, 16. 99 Euros, que já se sabe que a ECM nestas coisas não perdoa. Gravado em 2001 durante um concerto na cidade da editora, Munique, encontramos o trio em grande forma (melhor do que em Up for It parece-me).

Estou a derreter a cada audição. O alinhamento quase parece uma diálogo lamechas de amor: I Can't believe you're in love with me / You've changed / I Love You (Cole Porter)/ The Out-of-towners / Five Brothers (Gerry Muligan), para acabar numa balada mais que perfeita - It's All in the Game - pelo piano de Keith Jarrett. Ás vezes tem mesmo que ser a solo.


2004/09/29

Música de gajas 

Neste fim de semana preparo bagagens para o festival de gente sentada, o festival de folk, da música calminha, do silêncio e dos bem comportadinhos, com essas heart felt lyrics que falam de abandono e da infância mal amada, o festival para gajas como colocou a questão um dos que vai comigo. Supomos que ele vai lá pela companhia (sempre agradável ) das gajas, ou se calhar, só para o after show a cargo Álvaro Costa.

Esta de "música de gajas" surpreende-me. Talvez seja despoletado pela figura de Rosie Thomas e o seu look Pipi de Meias Altas, pelo alter ego Sheila palhaça, pelas canções entre o infantil e o desencanto mas marcadas pela enorme esperança, parece de gaja realmente – e não quero com isto dizer que somos umas palhaças, apenas que estes pormenores parecem mais “femininos”. Lembro-me de um topic no antigo Forum Sons, há bastante tempo, em que uma pobre coitada foi trucidada por elogiar a passagem da cantora por Portugal, com o inevitável carinho final “ Ah! Isso é música de gajas!” ( e se calhar não foi pelo concerto, se calhar foi para melhor álbum do ano – Only with laughter can you win – mas a memória atraiçoa-me sempre nestes momentos).





Evidente que não se põe em questão de a música folk ser mais masculina ou feminina. Achei piada ao conceito, só isso.

Lembro-me de outra ocasião em que por estradas transmontanas, percorrendo aquelas curvas apertadas e sinuosas, instala-se um silêncio dentro do carro enquanto ouvíamos o The Covers Record da Cat Power. Homens e mulheres embalados pelo murmúrio da voz e do dedilhar da guitarra, na inevitabilidade de enfrentarem os seus próprios demónios. Todos os têm. É um doce embalar para a auto consciência.





Pensei durante muito tempo que este iria ser o ano do rock, mas encontro uma maior atracção pela folk music, country e suas vertentes (acautelando desde já os que fogem um pouco a este chapéu). Música calminha …Devendra Banhart, Joanna Newsom (cuja a voz deliciosamente infantil me transporta para o musical da Annie, que odiava, mas agora adquire tonalidades de coisa boa, saudades boas da infância), os Wilco, Kings of Convinience, o ressurgimento de Nick Drake.

O Devendra foi um caso giro. Acompanhei de longe o hype da imprensa (e aqui também sou da opinião que é um hype justificado). Só me lembrava que ele era artista e sem abrigo e esses pormenores sem importância de uma biografia tão recente (nasceu em 81, é terrivelmente novo, toda a gente passa a ser terrivelmente nova quando é mais nova que nós e tem talento!) que me gritava : “Freak! Deve ser alto freak!”.
Por isso quando o descobri foi a total inversão dos papeis. Um encontro tão inesperado com uma música intemporal, que ultrapassa as simples fronteiras do folk, dos blues, do ragtime. Algo genuíno e infundido de um optimismo e simplicidade que sara todos os processos de auto consciência ( We chose rejoice! Sonreirá!).

“He GIVES. This kind of generosity and breadth of emotion is all too rare these days. Whether the songs are pained, twisted, whimsical, or even sometimes weirdly silly, aside from being fantastically musical and expertly played, they are also utterly sincere, and devoid of a single drop of post modern irony. In short, he's the real thing.”


2004/09/28

On y va ... (começou assim, não foi?) 

Feromona* duas semanas e alguns dias depois – a resenha da actuação no Santiago Alquimista dia 16 de Setembro

O convite partiu da Tasca, as Particulas fizeram companhia, havia muita gente da Vara na assistência ( e basta de self-referrals, eu sei que isto pode ser irritante).

O caso expõe-se em poucas linhas. Eu sabia que o Diego Armés (vocalista) , com quem cheguei a falar algumas vezes, tinha a sua banda - os Feromona – e que estava a tentar encontrar sítios para poder tocar. Engraçado, comentava isto o Bom Selvagem no final do gig, como uma banda estreante tem possibilidade de aceder ao mesmo palco onde tocaram os Durutti Column! Vá lá, em Portugal vão-se abrindo algumas portas para novos sons, novas bandas e o bar Santiago Alquimista tem a sua quota parte nesta divulgação.

Confesso, as expectativas eram baixas. Isto de bandas de amigos pautam muitas vezes pela falta de preparação, bastante desafinação, instrumentos freaks e mesmo abuso de covers (até nas outras, supostamente profissionais, e não de “amigos de amigos”) . Por estas razões estava naquela atitude de “isto vai ser meio banhada” Muito pelo contrário.

Aliás digo que o principal trunfo desta banda é que o que se viu (ouviu) é fruto de muito trabalho: em horas de ensaio, preparação do som, da voz, do alinhamento dos temas. Entradas sempre a tempo, bateria acertada, sem desafinações ou passos em falso. Muito bem treinadinho rapazes! Poderão julgar que isto é irrisório mas acho que para concerto ao vivo essa segurança só vem de quem realmente trabalha e investe, e a vossa banda parece-me bem acarinhada.

Da performance gostei principalmente dos temas cantados em português, como nos posts da Vara; o “Paquiderme magrinho “ (como disse o Sr. cHOURIÇO e muito bem, a lembrar um “Chico Fininho”), “Crocodilo” ou “ Mustang”. As letras estão geniais com um humor acutilante que trespassa ainda mais pela atitude do Diego em palco. Gostei também que houvesse espaço para a improvisação. Pensar que se pode fazer tanto com uma guitarra só com um pedal ou mesmo do momento do baixo com arco (reminiscências ali de Doors, ou mesmo prog-rock).




Uma belíssima foto com a dévida vénia ao blog UMA POR ROLO (mesmo que roubada sem autorização).



Os Feromona contam já com um single, o “Baton Original” (com mil perdões pela confusão anterior...) que não me parece a escolha mais acertada para introdução da banda (pelo que vi já tem videoclip). Com um ritmo a lembrar um pouco ska não se acaba por perceber a letra (mesmo que em português), de que fala, para onde vai. Há outros temas bem mais fortes. Da participação de cada elemento pareceu-me que a bateria (André Armés, claramente dos três o que tem a técnica musical mais apurada) acaba muita vezes por abafar guitarra e baixo, ao ponto que em temas mais calmos estar uns bons decibéis acima do desejável. Falta-lhe um pouco de subtileza diria (não queria, mas vou utilizar o cliché, demasiado power). A solução parece-me simples: ou incorporam mais uma guitarra para “encher o espaço” e acompanhar uma bateria cheia de personalidade e força ou …tune it down. Pena também que o baixo (Cristóvão d’Almeida) só tenha mostrado as suas potencialidades lá mais para o final. Poderia ter sido uma actuação mais equilibrada. Fiquei com a impressão que a banda flutua por demasiados estilos (eu identifiquei ska, pedaços de reggae, cabaret, grunge puro, rock psicadélico) , muito mais que o chavão com que se definem - “o rock-zoófilo- urbano” - pode aportar. Se encontram uma corrente original nos bons temas (mais uma vez “Mustang”, “Crocodilo”) e se calhar esse é um caminho mais a apostar. Mas claro que admito que faz parte do gozo de tocar poder experimentar, mostrar as influências, não nego isso…

Não se leve isto muito no tom de crítica, como sempre, são apenas “impressões”, fundamentadas apenas por uma mão cheia de concertos que assisti, gostar de música e enfim, sensibilidade e bom senso à mistura (ah! ...um pouco de Jane Austen! Fica bem!).

Evidente que se apanharem os Feromona por aí não deixem de assistir que vale muito a pena.

* Definição : Las feromonas son sustancias químicas inodoras que nuestro cuerpo produce y tienen como única misión afectar nuestro comportamiento sexual y atraer al sexo opuesto. Son captados por el órgano vomeronasal (OVN), alojado en nuestra nariz,… ui ui


2004/09/24

We chose rejoice 

FESTIVAL PARA GENTE SENTADA - Teatro António Lamoso – Santa Maria da Feira

1 dia: 15 Euros
Passe (2 dias) : 20 Euros





Sexta – Feira 1 de Outubro

Rosie Thomas (EUA)
Sufjan Stevens (EUA)
Nicolai Dunger (SWE)

Sábado - 2 de Outubro

Devendra Banhart (EUA)
Robert Fisher (EUA)
Kate Walsh (UK)



Pode-se ouvir isto. Tenho ouvido muito isto.


2004/09/14

Da justiça musical 

Faz hoje uma semana que os Franz Ferdinand ganharam o Mercury Prize de 2004.

Nessa mesma noite assisti uma reportagem na Sky News sobre o evento, minutos antes de começar a cerimónia. Primeiro o repórter começa por lembrar que vencedores passados nem sempre viram aumentar as suas vendas pelo facto de serem reconhecidos pelo prémio (fala de Badly Drawn Boy, Roni Size), sendo que álbuns editados após o galardão não conseguiram produzir "hits". Continuando a mesma linha de raciocínio diz que embora os prováveis vencedores dessa noite fossem The Streets ou Franz Ferdinand seria mais justo atribuir o prémio a alguém como Robert Wyatt, o pobrezinho que não faz milhões por cada single que edita, de certeza faria melhor uso das 20 mil libras. "They just don't need it" conclui.


Já se sabe o resultado. Franz Ferdinand ganhou e de certa forma ainda bem. Quer dizer que é apenas a avaliação da música que conta (pelo menos é o que diz o site oficial ), ou se quero entrar na teoria da conspiração é apenas mais um empurrão para a última exportação de sucesso das ilhas britânicas. Mas achei ridículo o discurso da justiça social aplicado a este meio. Não se julgue que só ataca o nosso ministro das finanças.

Já agora vencedores passados incluem PJ Harvey ou Primal Scream que não me parece que se considerem nem pobrezinhos nem viram a carreira a andar para trás pelo síndrome "óscar da música".





Dos Franz se calhar diria que antes de ver o magnifico concerto no Sudueste que já não os podia ouvir mais, já estava farta de cada single que sai com precisão bimensal a ecoar por toda a parte, nas lojas, na rádio, na televisão, na noite. Estava saturada (momentaneamente ultrapassada pela saturação Madonna. Vai amanhã embora é só o que me faz feliz). Mas eles rockaram e foi muito bom. Percebo-te Morrissey.


2004/09/13

Deliciosa virtude do File Sharing 

Digam o que disserem dos malefícios e benefícios do File Sharing, este tem uma virtude que por si só chegava para todos os males: a virtude de se apanhar aquela música que dificilmente, ou mesmo nunca, se encontraria à venda em Cd numa loja "real".

Vem isto a propósito de ter encontrado no e-mule um bootleg da mítica actuação dos Portishead no Sudoeste 98. Rejubilo duplamente. Por um lado, um disco ao vivo que reflecte o melhor de uma das minhas bandas favoritas, por outro, a ideia que EU estive ali, que uma daquelas vozes a gritar "PORTISHEAD", a cantar "give me a reason to LOVE YOU" é minha, que aquele foi um momento mágico, irrepetível... (há que ter em consideração que muitos habitúés do Sudoeste ainda hoje consideram que 98 foi o ano Vintage desse festival, isso muito por cupla desse concerto magnífico...)

Sim, tenho perfeita noção que é um cliché mais do que óbvio ter nos Portishead uma das nossas bandas favoritas, mas quoi faire? é bom e prontos, como diz o outro. E a paixão de muitos portugueses pelos Portishead terá algo que ver com a matriz fadista do negrume das suas canções? Um tópico interessante para discussão...

Entretanto, recomendo a toda a gente, e em especial A QUEM LÁ ESTEVE, que "saque" este disco. Como diz o anúncio do cartão de crédito: "não tem preço!"

Já agora, ninguém tem um bootleg dos Faith no More na praça de touros do Campo Pequeno circa 1993? Dos Nirvana no dramático de Cascais? Dos Smashing Pumpkins na praça de touros de Cascais? Dos Young Gods no primeiro Superbock? É que a vida de um concert-goer fanático está (felizmente) recheada de momentos mágicos...


2004/09/02

O preço da música e o file sharing 

Curiosamente, na sequência dos exemplos de venda on-line de álbuns apontados pela Sofia em relação aos Sonic Youth, a crónica de Paulo Querido na revista do Expresso da semana passada dava-nos conta da derrota sofrida em tribunal pela RIAA num caso em que pretendia processar redes P2P com vista a obter compensações por vendas perdidas por causa da troca de ficheiros em MP3.

Na crónica é referido um estudo académico em que se concluí que a troca de ficheiros tem um impacto virtualmente nulo na venda de Cds musicais. Colocando as coisas de um ponto de vista economicista, este estudo põe também algumas hipóteses interessantes, como por exemplo a possibilidade do File Sharing não ter implicações na venda de Cds porque não teria como efeito fazer com que aqueles que já iriam pagar pela música deixassem de o fazer, mas sim de atrair aqueles que não estariam disponíveis para pagar ao anterior preço (elevado), mas estão disponíveis ao novo preço (gratuito).

De certa forma penso que esta é talvez a perspectiva mais correcta. Apesar de recorrer frequentemente ao File Sharing, não deixei de comprar Cds. Compro menos Cds, é certo, e compro melhores Cds, pois só compro aqueles que sei que vou valorizar e não um ou outro “que até tem uma faixa gira”. Por outro lado tenho acesso a muito mais música, o que até acaba por ter um lado negro pois salta-se mais de uma novidade para a outra, sem absorver ou apreciar devidamente algumas coisas interessantes e merecedoras.

Se o File Sharing não impacta significativamente nas vendas, a causa para as quebras de vendas de que se queixam as editoras discográficas estará antes de mais ao elevado preço dos Cds (fenómeno agravado em Portugal pelo IVA a 19%...).

Também aqui é curioso verificar que mais do que os artistas eles próprios, é a industria discográfica (editoras, distribuidoras) quem mais se queixa do File Sharing e das supostas perdas que este lhe inflige. Em primeira análise, deveriam ser os artistas os maiores queixosos, pois é o seu trabalho que é levado gratuitamente. Mas a lógica desta indústria é de tal forma enviesada que os artistas pouco ganham com as vendas de Cds, auferindo a sua remuneração principal com os espectáculos ao vivo, e por isso muitos vêm a distribuição on-line como mais uma forma de se tornarem conhecidos e falados.

De certa forma pode considerar-se que a indústria discográfica está a atravessar as dores de crescimento normais de uma indústria em transformação tecnológica. Afinal, a grande promessa da Internet era a eliminação de intermediários, a passagem da informação directamente do produtor para o consumidor. É a essa revolução que se está a assisitir, mas o intermediário é poderoso, e tem se recusado a mudar ou evoluir....

Era bom que a referida derrota da RIAA leve a que os Cds venham a ter preços mais acessíveis. Pelo menos teve a virtude, ainda segundo o artigo do Expresso, de levar a RIAA a reconsiderar a sua política de processar os utilizadores individuais das redes P2P...


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