2004/09/29
Música de gajas
Neste fim de semana preparo bagagens para o festival de gente sentada, o festival de folk, da música calminha, do silêncio e dos bem comportadinhos, com essas heart felt lyrics que falam de abandono e da infância mal amada, o festival para gajas como colocou a questão um dos que vai comigo. Supomos que ele vai lá pela companhia (sempre agradável ) das gajas, ou se calhar, só para o after show a cargo Álvaro Costa.
Esta de "música de gajas" surpreende-me. Talvez seja despoletado pela figura de Rosie Thomas e o seu look Pipi de Meias Altas, pelo alter ego Sheila palhaça, pelas canções entre o infantil e o desencanto mas marcadas pela enorme esperança, parece de gaja realmente – e não quero com isto dizer que somos umas palhaças, apenas que estes pormenores parecem mais “femininos”. Lembro-me de um topic no antigo Forum Sons, há bastante tempo, em que uma pobre coitada foi trucidada por elogiar a passagem da cantora por Portugal, com o inevitável carinho final “ Ah! Isso é música de gajas!” ( e se calhar não foi pelo concerto, se calhar foi para melhor álbum do ano – Only with laughter can you win – mas a memória atraiçoa-me sempre nestes momentos).
Evidente que não se põe em questão de a música folk ser mais masculina ou feminina. Achei piada ao conceito, só isso.
Lembro-me de outra ocasião em que por estradas transmontanas, percorrendo aquelas curvas apertadas e sinuosas, instala-se um silêncio dentro do carro enquanto ouvíamos o The Covers Record da Cat Power. Homens e mulheres embalados pelo murmúrio da voz e do dedilhar da guitarra, na inevitabilidade de enfrentarem os seus próprios demónios. Todos os têm. É um doce embalar para a auto consciência.
Pensei durante muito tempo que este iria ser o ano do rock, mas encontro uma maior atracção pela folk music, country e suas vertentes (acautelando desde já os que fogem um pouco a este chapéu). Música calminha …Devendra Banhart, Joanna Newsom (cuja a voz deliciosamente infantil me transporta para o musical da Annie, que odiava, mas agora adquire tonalidades de coisa boa, saudades boas da infância), os Wilco, Kings of Convinience, o ressurgimento de Nick Drake.
O Devendra foi um caso giro. Acompanhei de longe o hype da imprensa (e aqui também sou da opinião que é um hype justificado). Só me lembrava que ele era artista e sem abrigo e esses pormenores sem importância de uma biografia tão recente (nasceu em 81, é terrivelmente novo, toda a gente passa a ser terrivelmente nova quando é mais nova que nós e tem talento!) que me gritava : “Freak! Deve ser alto freak!”.
Por isso quando o descobri foi a total inversão dos papeis. Um encontro tão inesperado com uma música intemporal, que ultrapassa as simples fronteiras do folk, dos blues, do ragtime. Algo genuíno e infundido de um optimismo e simplicidade que sara todos os processos de auto consciência ( We chose rejoice! Sonreirá!).
“He GIVES. This kind of generosity and breadth of emotion is all too rare these days. Whether the songs are pained, twisted, whimsical, or even sometimes weirdly silly, aside from being fantastically musical and expertly played, they are also utterly sincere, and devoid of a single drop of post modern irony. In short, he's the real thing.”
Esta de "música de gajas" surpreende-me. Talvez seja despoletado pela figura de Rosie Thomas e o seu look Pipi de Meias Altas, pelo alter ego Sheila palhaça, pelas canções entre o infantil e o desencanto mas marcadas pela enorme esperança, parece de gaja realmente – e não quero com isto dizer que somos umas palhaças, apenas que estes pormenores parecem mais “femininos”. Lembro-me de um topic no antigo Forum Sons, há bastante tempo, em que uma pobre coitada foi trucidada por elogiar a passagem da cantora por Portugal, com o inevitável carinho final “ Ah! Isso é música de gajas!” ( e se calhar não foi pelo concerto, se calhar foi para melhor álbum do ano – Only with laughter can you win – mas a memória atraiçoa-me sempre nestes momentos).
Evidente que não se põe em questão de a música folk ser mais masculina ou feminina. Achei piada ao conceito, só isso.
Lembro-me de outra ocasião em que por estradas transmontanas, percorrendo aquelas curvas apertadas e sinuosas, instala-se um silêncio dentro do carro enquanto ouvíamos o The Covers Record da Cat Power. Homens e mulheres embalados pelo murmúrio da voz e do dedilhar da guitarra, na inevitabilidade de enfrentarem os seus próprios demónios. Todos os têm. É um doce embalar para a auto consciência.
Pensei durante muito tempo que este iria ser o ano do rock, mas encontro uma maior atracção pela folk music, country e suas vertentes (acautelando desde já os que fogem um pouco a este chapéu). Música calminha …Devendra Banhart, Joanna Newsom (cuja a voz deliciosamente infantil me transporta para o musical da Annie, que odiava, mas agora adquire tonalidades de coisa boa, saudades boas da infância), os Wilco, Kings of Convinience, o ressurgimento de Nick Drake.
O Devendra foi um caso giro. Acompanhei de longe o hype da imprensa (e aqui também sou da opinião que é um hype justificado). Só me lembrava que ele era artista e sem abrigo e esses pormenores sem importância de uma biografia tão recente (nasceu em 81, é terrivelmente novo, toda a gente passa a ser terrivelmente nova quando é mais nova que nós e tem talento!) que me gritava : “Freak! Deve ser alto freak!”.
Por isso quando o descobri foi a total inversão dos papeis. Um encontro tão inesperado com uma música intemporal, que ultrapassa as simples fronteiras do folk, dos blues, do ragtime. Algo genuíno e infundido de um optimismo e simplicidade que sara todos os processos de auto consciência ( We chose rejoice! Sonreirá!).
“He GIVES. This kind of generosity and breadth of emotion is all too rare these days. Whether the songs are pained, twisted, whimsical, or even sometimes weirdly silly, aside from being fantastically musical and expertly played, they are also utterly sincere, and devoid of a single drop of post modern irony. In short, he's the real thing.”