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2004/09/02

O preço da música e o file sharing 

Curiosamente, na sequência dos exemplos de venda on-line de álbuns apontados pela Sofia em relação aos Sonic Youth, a crónica de Paulo Querido na revista do Expresso da semana passada dava-nos conta da derrota sofrida em tribunal pela RIAA num caso em que pretendia processar redes P2P com vista a obter compensações por vendas perdidas por causa da troca de ficheiros em MP3.

Na crónica é referido um estudo académico em que se concluí que a troca de ficheiros tem um impacto virtualmente nulo na venda de Cds musicais. Colocando as coisas de um ponto de vista economicista, este estudo põe também algumas hipóteses interessantes, como por exemplo a possibilidade do File Sharing não ter implicações na venda de Cds porque não teria como efeito fazer com que aqueles que já iriam pagar pela música deixassem de o fazer, mas sim de atrair aqueles que não estariam disponíveis para pagar ao anterior preço (elevado), mas estão disponíveis ao novo preço (gratuito).

De certa forma penso que esta é talvez a perspectiva mais correcta. Apesar de recorrer frequentemente ao File Sharing, não deixei de comprar Cds. Compro menos Cds, é certo, e compro melhores Cds, pois só compro aqueles que sei que vou valorizar e não um ou outro “que até tem uma faixa gira”. Por outro lado tenho acesso a muito mais música, o que até acaba por ter um lado negro pois salta-se mais de uma novidade para a outra, sem absorver ou apreciar devidamente algumas coisas interessantes e merecedoras.

Se o File Sharing não impacta significativamente nas vendas, a causa para as quebras de vendas de que se queixam as editoras discográficas estará antes de mais ao elevado preço dos Cds (fenómeno agravado em Portugal pelo IVA a 19%...).

Também aqui é curioso verificar que mais do que os artistas eles próprios, é a industria discográfica (editoras, distribuidoras) quem mais se queixa do File Sharing e das supostas perdas que este lhe inflige. Em primeira análise, deveriam ser os artistas os maiores queixosos, pois é o seu trabalho que é levado gratuitamente. Mas a lógica desta indústria é de tal forma enviesada que os artistas pouco ganham com as vendas de Cds, auferindo a sua remuneração principal com os espectáculos ao vivo, e por isso muitos vêm a distribuição on-line como mais uma forma de se tornarem conhecidos e falados.

De certa forma pode considerar-se que a indústria discográfica está a atravessar as dores de crescimento normais de uma indústria em transformação tecnológica. Afinal, a grande promessa da Internet era a eliminação de intermediários, a passagem da informação directamente do produtor para o consumidor. É a essa revolução que se está a assisitir, mas o intermediário é poderoso, e tem se recusado a mudar ou evoluir....

Era bom que a referida derrota da RIAA leve a que os Cds venham a ter preços mais acessíveis. Pelo menos teve a virtude, ainda segundo o artigo do Expresso, de levar a RIAA a reconsiderar a sua política de processar os utilizadores individuais das redes P2P...


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