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2004/10/07

Festival para gente sentada I - FGS 

A dinâmica foi estranha admito. Sentavas, o cantautor entrava, contextualizava a sua vida e música através de breves introduções (que por vezes pareciam momentos de stand up, tinham piada), pega na guitarra e allez. Metade do tempo estivemos (público) muito sérios, estivemos muito calados, mas também admito que é a única forma que dá para absorver tudo; as histórias de cada um, as palavras sussurradas, o trinar da guitarra. Estivemos de tal forma sentados que Robert Fisher (fundador dos Willard Grant Conspiracy....aha! consegui reter este pedaço de informação vital!), que actuou na segunda noite, ter dito "sabem, não é obrigatório estar sentado, lá porque diz no cartaz...".

Mas tem um início esta crónica. E o inicio é que faltei ao Nicolai Dunger, o sueco que foi mais tarde convidado por Robert Fisher e a banda de Devendra para tocar harmónica em palco. Pela harmónica saiu-se bem no piano já não sei. Resultado é que comecei por ver Sufjan Stevens (diz-se Sufian, um pouco como o meu nome acabei por aprender, para mim ficou o Stevens). O Stevens foi preparado. Levou um mapa que representava a sua Michigan Natal (do álbum Greatings from Michigan: The Great Lakes State) e cada tema tinha introdução com direito a saber a idade, estado de espírito, pin no mapa. Faltou o ponteiro laser... Soubemos assim que aos 9 anos Stevens está em Pickaral Lake e estava ashamed, ashamed, da avó. Repetiu de tal forma ashamed que pensei que a avó seria mesmo terrível e não mais uma velhota senil. Aos 14 Steven apaixona-se por uma amiga mais velha de 18 e já se tinha mudado upstate. Aos 18 já era o best man dessa mesma amiga, oh o amor perdido, suponho que também estivesse ashamed outra vez. E lá fomos caminhando entre gentle guitar weeps pelo mapa acima até Detroit (ou seria Flint?) e uma voz demasiado apagada para o meu gosto, por vezes mesmo desafinada, num timbre tão baixo e sussurrado, talvez demasiado ashamed. Mas é certo que decorei a história toda. Bem, mais ou menos...


Nessa noite tocou ainda Rosie Thomas. E que diferença! É que passar de uma vozinha que "pede co'licença" para uma voz cheia, tão bem projectada, com matizes e transformações, nota-se. Facto curioso para quem nunca viu Rosie Thomas ao vivo é que quando ela fala parece outra pessoa. Parece uma personagem dos Marretas, um qualquer desenho animado, as gargalhadas infantis que solta não vislumbram a metamorfose quando começa a cantar. Alternando entre piano e guitarra acústica deu para emocionar com os temas mais conhecidos, "Wedding Day", "Bicycle, Tricycle" (do primeiro álbum), mas simples e directas e despidas dos arranjos pop que se ouvem nos originais. Outro momento alto foi com "I Play Music" do Only with laughter can You Win. Se não fosse a música, disse, não teria jeito para mais nada. Ensaia um passos de dança em palco e podemos ver em acção a Sheila. Fomos rindo enquanto falava para mais tarde ficar apreensivos ao sentir a desolação de "so much for love/guess i've been wrong/but it's all right,'cuz i'm moving on/i've got my car all packed with cassette tapes/ and sweaters and blue jeans and cheap cigarettes..." . É a piadinha que toda a gente enfrenta mais tarde ou mais cedo quando se apercebe que o wedding day não é o que se espera, isto do amor não é o que se espera, talvez como na canção, seja a liberdade, talvez sejam os amigos, talvez coisas idiotas da vida como pôr as mãos fora do carro e começar conversas com estranhos. Acho que nunca me tinha apercebido do significado desta letra até estar ali.

Além disso não se pode deixar de gostar de uma cantora que passa metade do tempo no lounge a dar autógrafos, que fala com quem se aproxima, sem peneiras nem falsos vedetismos.

Continua.


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