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2004/04/05

Die Mensch-Maschine 

Na sexta-feira o Coliseu estava quase esgotado. Assim, a olho, diria que no Coliseu dos Recreios caberão cerca de 4.000 pessoas. Se analisássemos aquilo em que consiste o concerto dos Kraftwerk da mesma forma como analisamos os concertos de outros músicos soi disant normais, custaria perceber porque é que tanta gente se dá ao trabalho e à despesa de encher uma sala daquelas para os ver. Ora vejamos:

- Ouvir as músicas em novos arranjos: os arranjos apresentados são praticamente iguais aos dos discos, tudo parece vir pré-gravado e pronto a aquecer;
- Instrumentistas virtuosos, solos, etc...: nada, apenas 4 laptops. Nem sequer há montanhas de sintetizadores moog vintage em palco para encher o olho. Mais minimalista que isto impossível;
- Ver os músicos a actuar: os Kraftwerk quase não se mexem em palco, e não falam uns com os outros;
- Empatia e comunicação com o público: apenas um tímido “obrigado” no fim da performance...

Embora sem contar com nenhum destes ingredientes, a prestação em palco dos Kraftwerk foi notável, e isso, a meu ver, deve-se ao facto dos Kraftwerk não terem dado, na passada sexta-feira, um concerto. Deveria talvez falar-se de instalação audiovisual ou de performance multimedia de arte contemporânea, em que a música ocupa um papel central mas não exclusivo. E se analisarmos a coisa por esta bitola faz sentido que se possa dizer que de facto a actuação dos Kraftwerk foi espantosa.

Durante cerca de 2 horas, foram apresentadas ao público as “issues” que nortearam a carreira dos Kraftwerk ao longo de mais de 30 anos (a ligação homem máquina e a alienação do primeiro pela última, o progresso tecnológico, as suas implicações para o ambiente, etc...), numa ligação muito inteligente e conseguida da música com os efeitos visuais projectados no fundo do palco e com os efeitos cénicos em palco, tudo servido com uma força e intensidade que contrasta com a imobilidade dos músicos em palco, que o público facilmente reconhece e a que rapidamente adere. Somando todos os elementos que constituem a prestação que nos foi dada a assistir (a música, a componente visual, a performance dos artistas propriamente dita e a as ideias que estão por detrás desta e que se pretendem questionar) estamos claramente perante um caso em que o todo é maior que a soma das partes...

E é espantosa a forma como a música dos Krafwerk continua a soar futurista, inovadora e influente mais de 30 anos depois dos primeiros álbuns. Muito se falou da forma como os Kraftwerk influenciaram toda que a música em que a electrónica desempenhasse um papel, chegando mesmo por vezes a ser comparados aos Beatles. Se dúvidas tinha em relação a estas afirmações, a passada sexta-feira todas desfez.

Tão depressa não voltaremos a ver algo assim. Podia ter sido uma performance para apenas alguns felizardos numa qualquer galeria de arte. Foi um “concerto” no Coliseu, e o resultado final ganhou em dimensão pela presença de tanta gente na sala. Neste ano de incrível fartura de concertos, acho que se não assistisse a mais nenhum não teria do que me queixar...

Outras opiniões? Vareta, Ampola, Juramento etc...

Já agora aproveito para agradecer à pessoa que no meio da multidão me ofereceu um daqueles tubos azuis fluorescentes. Se alguém me souber dizer onde é que se compram...


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