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2004/03/31

Parece que andam por aí uns alemães com uns sintetizadores... 

Por esta altura já toda a gente faz pelo menos ideia que os Kraftwerk foram um grupo muito importante na transição dos anos 70 para os anos 80. Até há bem pouco tempo, essa era também a única ideia que eu pessoalmente tinha deles. Esta falha na minha cultura musical é em parte explicável pelo longo hiato que o grupo teve sem editar nada de significativo (cerca de 17 anos sem editar um álbum de originais...). e por nefasta influência de um amigo que também pouco percebia da coisa, sempre fiquei com os conceitos baralhados e por alguma razão não distinguia os Kraftwerk dos Art of Noise, grupo este cujos sintetizadores, nos anos adolescentes de grunger e alterna-rocker achava simplesmente revoltantes...

Ora o concerto dos Kraftwerk tornou-se razão mais do que suficiente para uma viagem ao passado/presente, tendo me dado ao trabalho de ouvir com alguma atenção os seguintes álbuns dos kraftwerk: Autobahn (1974); Trans-Europe Express (1977); The Man-Machine (1978) e também, já que deve ser a base sobre a qual assentará o concerto, o recente Tour de France Soundtracks (2003).


Autobahn Trans-Europe
Man-Maschine Tour de France
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Ao ouvir hoje a obra dos Kraftwerk é espantoso o quanto a mesma se mantém actual, apesar do som algo anacrónico dos sintetizadores da época. Tendo em mente o que se fazia na altura é possível perceber o quão revolucionário terá soado Autobahn em 1974.

No fundo, e correndo o risco de estar a dizer uma grande calinada, parece-me que o que os Kraftwerk conseguiram fazer, nesse primeiros tempos, foi trazer o som dos sintetizadores de compositores new-age como Jean Michel Jarre ou Vangelis para a esfera da pop-rock, para um formato de canção mais facilmente assimilável, dançável e até às vezes cantável...

No entanto há outros elementos do som e da estética dos Kraftwerk que foram depois usados como ponto de partida por muitos outros artistas, como por exemplo a ideia da simbiose homem-máquina, a noção mecánica de ritmo em movimento (os carros em Autobahn, o comboio em Trans-Europe Express... noção essa que continua presente em Aerodynamic, de Tour de France...), ou as letras minimalistas, reptidas ad-eternum com as vozes muito processadas por forma a criar um efeito mais ou menos hipnótico (exemplo “we are the robots”). Todas estas características abriram as portas a muitos artistas que exploraram mais tarde as fronteiras entre a pop e a electrónica, incorporando ainda mais uma na outra, (Pet Shop Boys, Depeche Mode, por exemplo...), ou explorando a fronteira da abstração electrónica (Orbital, Future Sound of London).

Deve também notar-se que os Kraftwerk puxaram sempre pelos limites da tecnologia que dispunham na época. Durante o seu longo interegno ficou sempre no ar a questão “o que é que fariam com a tecnologia que existe hoje”. A resposta está no recente Tour de France Soundtracks. Quando saiu este disco mereceu uma reação morna da crítica, no entanto é um bom disco, que incorpora todos os elementos do som tradicional dos Kraftwerk e os actualiza resultando num disco dinámico, variado, dançável e agradável de ouvir. Penso que a reação morna se fica sobretudo a dever ao facto do tempo ter acabado por apanhar os Kraftwerk e estes já não soarem agora tão revolucionários e inovadores como antes...

A música dos Kraftwerk, para além do significado histórico que possa ter, é ainda actual e interessante de ouvir hoje em dia. Não é no entanto algo de que se consiga gostar imediatamente, nem é uma música que se oiça em qualquer altura ou em qualquer lugar. Esperemos agora que o concerto esteja à altura do legado...



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