<$BlogRSDUrl$>

2003/12/09

Doors XXI  

Pavilhão Atlântico, sábado 6 de Dezembro

Tentamos ser um blog de música activo, em cima do acontecimento e por esta razão enviámos uns correspondentes ao Porto para assistir ao Blue Spot enquanto que outros iam ao concerto dos Doors. As intenções eram boas; houve plano, houve método. Não sei porquê, mas os enviados especiais das Corneta foram desviados para Leça da Palmeira para um restaurante, que permanecerá anónimo, do qual só saíram ás 3 da manhã. Então e o Blue Spot, e o compromisso com a música e esse bem maior que é o nosso blog? Esquecido, enxovalhado… ao menos parece que se divertiram, comeram bem, beberam melhor e, pelo que contaram, houve boas vibrações por toda essa nação (cidade).

Posto isto, a outra enviada especial, vulgo eu, cumpriu e esteve presente no concerto dos Doors sábado à noite. O pavilhão encheu-se de novos, menos novos, bastantes crianças e muitos, mas muitos espanhóis. Depois tive oportunidade de falar com uma amiga minha de Madrid que me disse que houve excursões organizadas para se poder assistir ao concerto, já que a versão XXI não passou pela capital espanhola. Boa forma de dinamizar o turismo, porque este fim-de-semana ouvi de facto muito espanhol.


cure



O concerto começou com alguma teatralidade com uma projecção de foto do Jim Morrison “The American Poet” ao som de ópera (Carmina Burana afiançou- me depois um dos rapazes do grupo, mas aquilo parecia mais Wagner…mas é do rock que devo falar não é? ) , para depois arrancar em força para o Roadhouse Blues. O público vibra e continuará a todo o vapor durante a primeira parte do concerto em que se apresentam grandes hits da banda . Lembro-me do Break on through, Alabama Song (whiskey Bar), Love me 2 times, 5 to 1 , When the music is over, Run with me, Spanish Caravan (precedido de um solo fenomenal de Robby Krieger ) . Pode-se considerar que houve uma segunda parte, quando Ray Manzarek anuncia que vão tocar bastantes faixas do L.A. Woman , um álbum que nunca tinham tido oportunidade de apresentar ao vivo devido à morte de Jim Morrison . Nesta parte passaram The changeling, The cars hiss down by my window, L’america, The wasp, o inevitável L.A. Woman e Riders on the Storm.


la



Foi um concerto esgotante, porque realmente saltou-se muito e cantou-se mais. Os membros originais do Doors estavam em grande forma e tiveram generosidade suficiente para brilhar e mostrar a sua mestria (o tempo só evidencia as suas qualidades) tocando longas versões dos temas. Destaco o when the music is over e L.A. Woman onde o órgão de Manzarek se tornou o mais psicadélico e vibrante de sempre. Krigger que já se sabia que era um virtuoso da guitarra, e não se fez rogado em mostrá-lo. Foi irrepreensível essa parte do concerto.

O vocalista, o ex –Cult Ian Astbury , estudou bem a lição, não se limita a copiar o cabelo (vá lá que teve o pudor de não vestir as calças de cabedal) e os gestos são cronometrados para recriar um Jim Morrison das actuações ao vivo. Ou seja, temos direito ao saltinho do início do when the music is over , ao gingar do microfone, ao apelo a muitos “fuck” e “LSD” e “qualudes” , à mudança da voz do L.A. Woman, (aquela voz embargada pelo whiskey ). Foi a recriação perfeita, foi quase um Doors o musical, onde as entradas das músicas eram ensaiadas ( “oh where do we go next? Oh I think we have to… you know…to that old whiskey bar….”) , as projecções mostravam imagens da America dos anos 60, tudo para recriar um Absolutely Live. Aliás numa das músicas, onde se passam imagens do Ian a cantar cheguei a duvidar se não seria o Jim, como se estivessem a brincar com imagens editadas.

O meu ponto é que acho que a música deles é tão boa (e foi mesmo boa) que conseguia passar sem essa encenação toda. Que se deve prestar a devida homenagem a Jim Morrison mas não canibalizar a sua memória, até porque os Doors, a música, se não contarmos com a letra, pertence muito mais ao génio de Manzareck e mesmo de Krieger. E que Ian devia ser um vocalista suficientemente bom para interpretar e não recriar.

Veredicto final, foi muito bom e no encore deixaram-se do alinhamento treinado e notou-se que foi o puro gozo de tocar o Light my Fire e um Soul Kitchen que não deixou pé no chão. Um espectáculo de energia que encheu completamente as medidas dos que assistiram.

E eu fartei-me de cantar, o que me fez pensar “Ainda me lembro desta merda toda” (oh, a rapariga também utiliza palavrões…) e até escrevi o alinhamento do concerto num papelinho que entretanto perdi. Mas ficou marcado.

PS: James Douglas se estivesse vivo faria ontem 60 anos.

PS2: Concerto de domingo por Fernando Magalhães no Público.


This page is powered by Blogger. Isn't yours?