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2003/10/01

Ainda as quotas na rádio 

Agora que a Sofia despoletou a polémica sobre as quotas de rádio, que originou vários comentários, queria meter também a minha colherada neste assunto. E posso desde já dizer que sou totalmente oposto às quotas na rádio.

Acho muito bem que o Estado Português apoie e incentive a criação musical em Portugal. Mas as quotas de rádio parecem-me ter como objectivo não o incentivar e proteger a criação musical portuguesa, mas sim dar uma ajuda aos lucros das editoras discográficas mainstream que têm sido prejudicadas pelos suspeitos do costume: crise económica, alto preço dos discos com taxa de IVA a 19%, troca de ficheiros pela Internet, copiadores de CD a preços baixos, etc...

De facto se o objectivo é incentivar a podução nacional, devo dizer que concordo totalmente com os argumentos do Jovem lá da tasca (ver comentários ao post da Sofia). Devia-se reduzir o preço dos discos, dos instrumentos musicais, investir em formação na área da música (e ensinar não só a tocar, mas também a ouvir), criar bons espaços onde se possa ouvir música que não estejam só nas áreas de Lisboa e Porto, etc, etc, a lista é infindável.

No entanto, ao introduzir quotas, o que se está efectivamente a fazer é a criar uma procura artificial (por parte das rádios), que pela forma como actuam, baseadas em playlists e não em programas de autor ou de divulgação, vão servir maioritariamente para divulgar mais aqueles que hoje já têm espaço (os inefáveis David Fonseca, Rui Veloso, Luís Represas entre outros cromos) e não para dar espaço a novos talentos. É por isso que digo que vai servir é para ajudar aos lucros das editoras: satura-se o público com certos artistas e dá-se um impulso às suas vendas, mas isso não se vai necessariamente reflectir em mais qualidade no trabalho destes artistas (por que razão se hão de estes esforçar mais? Porque a canção vai passar mais vezes na rádio? Então mas se passa por causa das quotas, mesmo sem ser particularmente boa...), nem implica que se vá dar espaço a novos talentos, se já hoje esse espaço é raro.

O exemplo que posso dar vem de ter vivido algum tempo em França, à cerca de 5 anos. Em França as quotas não só existem como são estritamente aplicadas, e no que elas resultam é numa enorme exposição dos mesmos artistas mais mainstream e na criação de um estilo de Rap/Hip-hop francês que é hilariante porque é exactamente igual ao americano na imagem e na atitude, mas é cantado em francês (pois é preciso preencher as emissões com música tida como "francesa" por causa das quotas). Dos comentários ao post anterior, percebe-se que algo semelhante se passa em Espanha: para preencher as emissões, em vez de investir em "sons da casa" que tenham de alguma forma mérito ou sejam inovadores, fazem-se versões do que se faz lá fora, mas em pior... Para terem uma ideia, na altura em que vivi em França tinha sido lançado o Moon Safari dos Air, e este disco tinha mais destaque na XFM / Voxx em Lisboa do que nas radios em Paris. Nessa altura assisti a um concerto dos Air em Paris em que não estariam mais de mil pessoas certamente, e talvez até menos, tão pouca era a divulgação que mereciam. Já para não falar de em Paris na altura quase não existirem rádios que não fossem de "Playlist".

Para não falar numa questão nem por isso tão secundária: o que é que constitui música portuguesa? Para mim é mais portuguesa a música da mãozinha, filha de emigrantes portugueses nascida na Suiça mas que canta em português, do que a música de David Fonseca, que nasceu em Leiria mas insiste em cantar em inglês... mas não sei porquê, aposto que os políticos não vêem a coisa da mesma forma.


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