2003/08/01
Ultimamente têm surgido alguns artigos que falam numa possível reunião dos Pixies para a gravação de um novo álbum de originais (link). Estes ecos já tiveram impacto blogosfera portuguesa, lembro-me de ver algo escrito no Pais Relativo e no Dicionário do Diabo. Este último questiona os seus leitores se o alegado comeback seria uma boa ideia ou não. Por minha parte, estou muito apreensiva (e já agora sou leitora!) ….
Há desde logo uma gestão de expectativas muito delicada. Os Pixies foram para muita boa gente o primeiro contacto com o rock alternativo, aquela banda underground que marca o processo de crescimento musical. São desse tempo em que as bandas eram divulgadas “boca a boca”, das k7 que se trocavam nos intervalos das aulas, o tempo em que efectivamente se lia o Blitz (ou na pior da hipóteses…as fotos da Bravo) quando de programa musical tínhamos apenas o TOP + .
Há uma questão muito territorial aqui, das memórias, afectos. Lembro-me que a primeira vez que os ouvi foi no carro dos meus primos, bem mais velhos do que eu, que depois gravaram a mim e à minha irmã uma cassete com o Doolittle/Bossanova ( uma cassete de 90 min completamente preenchida e que levou um corte no Bossanova. Ainda a tenho). Na escola fala-se do concerto no Coliseu e dado todo o meu entusiasmo pela banda uma amiga mais atenta aproveita o meu aniversário para oferecer o Trompe le Monde, em vinyl. Fiz 14 anos. È toda uma história de coming of age.
Nessa época foi essencial ouvir música para além dos Gun’s & Roses (que era o que se ouvia …ainda tenho lá em casa alguns pregões para confirmar). Descobrir que se podia ter guitarras distorcidas, alterações inesperadas de ritmo, letras alucinadas às vezes cómicas outras assustadoras de macacos que controlavam oceanos, carros que mergulhavam em ondas de mutilação,... Lembro-me de ler no Blitz que Black Francis fazia as letras voltado para o espelho ou então desde a banheira. Escrevia cinco ou seis palavras, via o seu reflexo e formava assim o resto da letra. Estas memórias tornaram-se para mim elementos de mitologia. Há a tentação de deixá-las intocáveis. Nesse sentido há muitos que não conseguem voltar ao que marcou a sua adolescência, por exemplo tenho um amigo que nunca mais conseguiu ouvir Nirvana depois de toda aquela montanha russa. Foram de tal modo decisivos e fracturantes essas primeiras audições que não apetece ouvir mais, para não estragar . É no fundo talvez o medo de descobrir que os esses grupos dos quais somos apóstolos, passadas tantas mais bandas e géneros e estilos, se calhar já não são assim tão especiais.
"One day, we will wake up and we will not like the Pixies anymore. That day, we will not accept rock anymore. And the Pixies will be the first victims of this change, because no-one else incarnates rock in a more basic, more physical, more sensual, more direct way" (JD Beauvallet, Les Inrockuptibles, 1991) - translated from the French
Continua.
Há desde logo uma gestão de expectativas muito delicada. Os Pixies foram para muita boa gente o primeiro contacto com o rock alternativo, aquela banda underground que marca o processo de crescimento musical. São desse tempo em que as bandas eram divulgadas “boca a boca”, das k7 que se trocavam nos intervalos das aulas, o tempo em que efectivamente se lia o Blitz (ou na pior da hipóteses…as fotos da Bravo) quando de programa musical tínhamos apenas o TOP + .
Há uma questão muito territorial aqui, das memórias, afectos. Lembro-me que a primeira vez que os ouvi foi no carro dos meus primos, bem mais velhos do que eu, que depois gravaram a mim e à minha irmã uma cassete com o Doolittle/Bossanova ( uma cassete de 90 min completamente preenchida e que levou um corte no Bossanova. Ainda a tenho). Na escola fala-se do concerto no Coliseu e dado todo o meu entusiasmo pela banda uma amiga mais atenta aproveita o meu aniversário para oferecer o Trompe le Monde, em vinyl. Fiz 14 anos. È toda uma história de coming of age.
Nessa época foi essencial ouvir música para além dos Gun’s & Roses (que era o que se ouvia …ainda tenho lá em casa alguns pregões para confirmar). Descobrir que se podia ter guitarras distorcidas, alterações inesperadas de ritmo, letras alucinadas às vezes cómicas outras assustadoras de macacos que controlavam oceanos, carros que mergulhavam em ondas de mutilação,... Lembro-me de ler no Blitz que Black Francis fazia as letras voltado para o espelho ou então desde a banheira. Escrevia cinco ou seis palavras, via o seu reflexo e formava assim o resto da letra. Estas memórias tornaram-se para mim elementos de mitologia. Há a tentação de deixá-las intocáveis. Nesse sentido há muitos que não conseguem voltar ao que marcou a sua adolescência, por exemplo tenho um amigo que nunca mais conseguiu ouvir Nirvana depois de toda aquela montanha russa. Foram de tal modo decisivos e fracturantes essas primeiras audições que não apetece ouvir mais, para não estragar . É no fundo talvez o medo de descobrir que os esses grupos dos quais somos apóstolos, passadas tantas mais bandas e géneros e estilos, se calhar já não são assim tão especiais.
"One day, we will wake up and we will not like the Pixies anymore. That day, we will not accept rock anymore. And the Pixies will be the first victims of this change, because no-one else incarnates rock in a more basic, more physical, more sensual, more direct way" (JD Beauvallet, Les Inrockuptibles, 1991) - translated from the French
Continua.