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2003/07/17

Estoril Jazz – Quarteto de Wayne Shorter 

Concerto no Parque de Palmela em 12 de Julho de 2003

Pois é, este concerto teve lugar no passado sábado, e só agora consegui encontrar tempo para aqui escrever sobre ele, shame on me...! Mas por uma vez é agradável escrever sobre um concerto de Jazz de alguém de quem se tem pelo menos uma vaga ideia de quem é, embora deva confessar que apenas conheço os seus trabalhos mais antigos.

Para quem não sabe, passo a explicar que Wayne Shorter é um dos mais importantes saxofonistas de Jazz actuais, com uma já longa carreira, iniciada nos anos 60, tendo tocado com vários nomes sonantes da cena jazzistica, incluindo a sua participação no agrupamento com que Miles Davis gravou o histórico “Bitches Brew” (curiosamente essa característica é comum a outro dos participantes no festival do Estoril deste ano, Dave Holland). Desde essa altura o nome de Wayne Shorter é principal associado ao Jazz de fusão, tendo sido líder do grupo Weather Report.

Como se vê, esta era claramente a vedeta maior do cartaz do festival deste ano, e o público estava presente em massa: o auditório do parque de Palmela esgotou, e como cheguei mais para o tarde, só por sorte consegui um lugar decente... Segundo o jornal Público, já há vários anos que não havia uma enchente tão grande num concerto deste festival naquele auditório.

Aplica-se então o teorema “muito público + artista conceituado = expectativa elevada”. Se a expectativa era elevada, devo confessar que o concerto foi muito bom, do ponto de vista musical. Notava-se que os músicos eram muito competentes e mesmo não estando familiarizado com os temas tocados, as improvisações eram de muito boa qualidade. No saxofone, Wayne Shorter tinha uma postura de “economia de movimentos”, nunca se soltando em solos longuíssimos, optando mais por curtos solos estrategicamente colocado nos sítios certos. Em geral o concerto oscilou entre um Jazz mais “free” e a fusão com o rock, sendo fantástica a forma como o quer a bateria a solo quer em conjunto com o piano e com o baixo se aproximava da sonoridade do rock mais progressivo ou sinfónico. Destaque portanto para o baterista Brian Blade, que para além do mais parecia sempre algo desengonçado na sua bateria, o que não deixava de ter um efeito cómico.

No entanto, se o concerto foi muito bom do ponto de vista do Jazz tocado, devo confessar que as minhas expectativas foram defraudadas em relação ao espectáculo em si. Quero com isto dizer que os músicos nunca conseguiram levar o muito público presente a um nível mais exuberante de entusiasmo, e os aplausos foram sempre mais ou menos mornos, embora se calhar a chuva ligeira que caiu durante o espectáculo não tenha contribuído para tal. Nunca houve comunicação dos músicos com o público, nem mesmo para um simples obrigado ou apresentação dos músicos da banda, e não houve sequer dois sets (o que dá direito a cerca de duas horas de música, uma por set), tendo a banda optado apenas por um set de cerca de hora e meia. Tendo em conta que o concerto de Ralph Peterson na noite anterior tinha surpreendido precisamente no aspecto do entusiasmo do público, fica uma ideia estranha: certamente que o concerto de Wayne Shorter foi melhor do ponto de vista técnico ou musical, mas o concerto anterior foi superior do ponto de vista do espectáculo ou do entretenimento.

Põe-se então a questão de saber se o rei (Shorter) vai nu? Nu não foi certamente... diga-se antes que foi de roupas informais, em vez de ir de traje completo de cerimónia...


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