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2003/12/31

Votos da Corneta para 2004 


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2003/12/30

Breaking News 

Sai hoje com o Blitz uma reedição o livro de Miguel Esteves Cardoso, o Escrítica Pop, uma colecção de crónicas (musicais) do início da década de 80 . Há vários quiosques que só têm o Blitz sem o livro, mas alguns, raritos, têm o livro sem o jornal (é só escolher).

Já estive a folhear o livro, à presa, pegando no marcador rosa para sublinhar passagens importantes, principalmente em "Regras para ser um crítico musical" (primeira, não ouvir o disco em análise). Ah sim, agora tudo fica mais claro. No final, no indíce temático por álbuns revistos, é de notar que os que levam 4 ou + estrelinhas são os Joy Division (confere com a capa), The Fall, New Order…

Acho que vale muito a pena.


Peaches no Lux 

Concerto no Lux dia 27 de Dezembro de 2003

Peaches aparece sozinha em palco. Por trás da sua voz ouvem-se as batidas incessantes e os riffs de guitarra processados até ao limite, mas não há qualquer músico em palco. O que se ouve há de estar gravado, em disco, disquete, ou na memória de algum sampler. Peaches é um one-woman-show.


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E que show…! Sexo altamente gratuito distila por todos os lados, e apesar de não haver qualquer nudez explícita, a coisa é mais hardcore do que uma visita a uma casa de strip. Peaches grita, geme, contorce-se nas poses mais provocantes, simula felatio com o microfone, trata-o como um dildo, muda de roupa em palco, aparece completamente vestida de cabedal, encena poses de dominatriz com o seu roadie. O público, que esgotou o Lux, vibra, exulta, pula, dança, aclama. O sexo vende e Peaches é a prova acabada disso.


Quando se trata de música electrónica, em que tudo já vem preparadinho de casa, é preciso encontrar algumas soluções para que o concerto não se limite a ser um mero “press play” dos discos editados pelo grupo que se apresenta em palco. Essas soluções podem ser novos arranjos, projecções, improvisações, etc... No caso de Peaches, a solução é a sua presença brutal e animalesca (no melhor sentido) em palco. Se isso dá um espectáculo interessante, original, provocador e libertador, é pena que a música acabe por passar para segundo plano. Sem músicos em palco e com versões exactamente iguais às dos discos ou quase, ás vezes parece que estamos a ouvir um playback e que Peaches nem sequer está a a cantar (embora na verdade esteja).


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Musicalmente, o som electro de peaches acaba por ser apenas mais uma moda, uma pastilha elástica musical para consumir furiosamente durante uns tempos e depois deitar fora, e que se perde no meio de tanto show-off e provocação. Mas é uma pastilha saborosa, muito provocadora e libertadora, e que vale a pena provar. (Para além disso é boa música para conduzir que nem um louco cheio de adrenalina, embora como é óbvio tais comportamentos não sejam aprovados pel’A Corneta).


2003/12/29

As infames listas dos melhores do ano 

Esta altura do ano é fantástica porque por todo o lado se encontram listas do melhor do ano que acaba, o que dá pano para mangas para discussões infindáveis entre melómanos. Ele é Inrocks, ele é Wire, ele é tudo e mais alguma coisa. Eu como não sou dado a comprar imprensa musical especializada, este fim de semana só tive oportunidade de ver as listas do Y (Público), e Actual (Expresso). E, claro, tinha que haver satisfações e indignações:

Satisfações:
- Colder Again, em 7.º lugar na lista da Y. Eu bem dizia que lá ia parar, aliás gostei imenso desse disco;
- Ursula Rucker Silver or Lead, também bem cotado na generalidade das listas (este já merecia um comentário por aqui, tenho que pensar nisso);
- Madlib Shades of Blue: Idem!

Indignações:
- Cinematic Orchestra Man with the Movie Camera: é excelente, embora não seja muito inovador é intemporal tal como o filme que acompanha. Só na Actual aparece, e muito modestamente;
- Alpha Stargazing: muito bom, também merecedor de destaque aqui, e largamente ignorado;
- Two Banks of Four Three Street Worlds: largamente aclamado. Confesso que já ouvi e me escapa... terei que lhe prestar maior atenção.....

Depois há outras coisas apontadas pela Sofia que foram bastante destacadas: David Sylvian, Robert Wyatt, Outkast... essas serão as satisfações dela.

Este assunto certamente dará pano para mangas, está aberta a caixa de comentários e espaço em posts futuros.

P.S. Entretanto no Juramento sem Bandeira estão transcritas algumas listas preparadas por gente influente e bem informada... dessas listas todas, espanta-me como é que tanta gente tem o Elephant dos White Stripes em tão boa conta. Sinceramente não percebo...



2003/12/27

Newsletter Corneta 

Janeiro promete.
Um fim de semana em particular, um dia particular, quinta – feira 22 ( trabalhador melómano sofre), em que vão actuar em Portugal alguns dos destaques aqui da Corneta.

O primeiro vai para Colder (o francês Marc Nguyen Tan) que estará no Lux ( não é um DJ Set, é mesmo a apresentação ao vivo de Again), os segundos, essa banda de jazz infame, os The Bad Plus, que actuam na mesma noite no CCB. Já agora, quem queira comprar o CD destes últimos a preço amigo vá à MC no Picoas Plazza. 14 Euros (é uma das apostas do catálogo da MC para este ano). Foi nesta mesma loja que fiquei a saber que o novo CD do Sassetti + Laginha tem distribuição exclusiva pela Fnac. Mas isto agora é assim?


Em audição 

Ramones:Anthology (Hey ho let´s go!), Warner Bros./Rhino, 1999


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2003/12/22

Fuck Christmas, I Got The Blues 

Sai amanhã com o Blitz, pela segunda vez, o novo CD do The Legendary Tiger Man . Na melhor tradição natalícia, aquela da absoluta neura, “Fuck Christams, I Got the Blues” apresenta o one man band (na guitarra, bateria, percussão e vozes) com temas inspirados na quadra. 7 euros mais o jornal. Ainda por cima vai fazer a primeira parte da Peaches no Lux, concerto que a Corneta já assegurou presença (é preciso fazer pesquisa de campo).


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Por acaso Fuck Christmas foi pensamento recorrente durante o fim de semana na cata de alguns presentes (basicamente todos), eu mais o resto da população lisboeta devemos ter chegado à mesma brilhante conclusão : não o Colombo deve estar a aborratar bora lá para o Chiado. Por isso o Chiado estava a abarrotar - “parece impossível, toda a gente deixa os presentes para a ùltima hora”. E a Fnac do Chiado não tinha o 1972 do Josh Rouse - “parece-me que nunca tivemos esse!” - tiveram, tiveram que eu comprei lá um, mas o facto de ser a escolha TSF para ano 2003 e muito provavelmente um dos álbuns do ano, enfim, é indiferente à política da casa. Olha primo ficas sem um magnífico álbum, com sorte compro outro aqui do “The sexiest most talented half tiger but all man ever!” (dixit Peaches), poupo alguns cobres e ainda divulgo a música portuguesa (salvar o dia, típico).

Bon Nadal! (ah são reminiscências do catalão, é engraçado porque parece que estamos com o nariz entupido quando dizemos isto).


Em audição 

Rabih Abou-Khalil: The sultan´s picnic, Enja, 1994.


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Nota: para além da beleza da música, as capas (de todos os albúms) são simplesmente espectaculares, valendo bem a pena uma espreitadela.


2003/12/17

A mim, quem me tira os clássicos...*  

Apesar de ter tocado no Art Blakey's Jazz Messengers e Miles Davis Quintet é com Speak no Evil de 1964 (Blue Note) que, dizem, wayne shorter became Wayne Shorter (conclusivo por isso, apesar de haver outros dois importantes: Juju e Night Dreamer).


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Foi o primeiro trabalho que conciliou crítica com público (eu, por minha parte, senti-me muito conciliada). Uma pessoa olha para a contracapa e lê - Freddie Hubbard trompete, Herbie Hancock piano, Ron Carter contrabaixo, Elvin Jones bateria - mais uma formação all star . Eu sei que é algo pueril, mas sempre me espanto com o facto de que os músicos de jazz nessas décadas, entre 50 a 70, parece que conseguiram criar todas as combinações possíveis. Sucessivamente vão aparecendo em diferentes formações, numa verdadeira promiscuidade criativa . Hoje em dia parece que é mais raro encontrar esta partilha, como houve à época. Como se houvesse uma geração de ouro que não se volta a repetir. Eu sei, muitos deles ainda estão vivos e no activo (o próprio Wayne Shorter esteve em Portugal este ano, fazer favor de ir ver aos arquivos da Corneta) .


As composições são todas do Wayne (ah grande Wayne sem recorrer a standards) e vão buscar a inspiração a lendas, folclore e magia negra. Apesar de temas como “Fee-Fi-Fo-Fum” não me parece nada um trabalho assombrado, antes lembra-me a suavidade do veludo (se conseguirem, oiçam aí o Dance Cadaverous mas especialmente o Speak no Evil) . Harmonia é a palavra chave aqui.

Dance Cadaverous


O que mais dizer? É clássico e basta.


Já agora P.V.P. 12 Euros .

* uma frase que já ouvi (li) algum dia, parece-me que numa tasca….hm…


2003/12/16

Em audição 

Eduardo Paniagua: Tres culturas - Judios, Cristianos y Musulmanes en la España Medieval, Pneuma, 1998;
Rabih Abou-Khalil: Yara, Enja, 1998;
Mozart: Requiem - Wiener Philharmoniker/Karajan, Deutsche Grammophon, 1987.


2003/12/15

Os visitantes 

http://forum.chupa-mos.com/viewtopic.php?t=18896

passamosal (Putanheiro): Há blogs para todos os gostos. Estes são alguns que encontrei sobre música (vários estilos):
http://ampola.blogspot.com/
http://acorneta.blogspot.com/
http://www.aformadojazz.blogspot.com/
http://top5records.blogger.com.br/
http://dear80s.blogspot.com
http://clubedefansdojosecid.blogspot.com/
http://tape-error404.blogspot.com/
http://lyricmoods.blogdrive.com/
http://possoouvirumdisco.blogspot.com/
http://www.audioescravo.blogspot.com/

Bun Bun (100% Viciado em Cona): Já há uma thread sobre blogs...mais valia teres posto lá


Too Fat for Porn (Pussy Specialist):Vi todos e não gostei de nenhum. Infelizmente, parece que toda a gente que faz critica de musica tem a necessidade de divagar pelos territórios mais absurdos quando vão a fazer uma critica do mesmo.
Critica musical não tem de ser uma tese de doutoramento ( na minha opinião ). Tem de ser objectiva, e acima de tudo, acessivel.

Ps: Eu odeio o Blitz.

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Não sei o que me fez partir a rir mais, se aparecer no meio dos tópicos do chupa-mos, se os nomes dos forenses, se aquela crítica totalmente sincera, e suponho que real, que não consigo obter da maior parte das pessoas que lêem o blog (designadamente amigos e afins que se limitam a dizer “ah…. está engraçado”. Há que ser brutal !).

Isto de misturar muitas coisas com música é exactamente porque não é crítica. Explico melhor, se fosse crítica musical sim tinha que ser mais ao ponto, concisa, óbvia e não dava para falar sobre as tuas memórias, de estrelas e cometas, ou de filosofia, ser lamechas, fazer trocadilhos, desrespeitar vírgulas e limites de caracteres. Mas como não é, dá para divagar por onde quiseres, o que é excelente. Libertador mesmo!

Agora se ficássemos com um pouco menos da fama e mais algum proveito de “críticos musicais“, já nem digo o guito (porque pelo que sei a profissão de jornalista em Portugal normalmente é ingrata já para não falar dos musicais….basta lembrar o caso do Cameraman Metálico), mas enfim, se desse para sacar outras coisas como promos, bilhetes de concerto, ainda dava para considerar levar “isto” (salvo blog) mais a sério. Ao princípio até pensei deixar ali na barra dos links um que diria caixa de esmolas, que seria um link para a Amazon ou a Fnac, e que os nossos leitores pela bondade do seu coração e pelos bons momentos proporcionados aqui pelo blog “naturalmente” iriam querer compensar-nos comprando uns Cdzitos das wish lists. Foi por pouco tempo …

Às vezes falamos entre nós, da Corneta, o que é que queremos disto. Até agora está a ser bastante satisfatório, estou a ouvir mais música do que nunca, a descobrir novos grupos, há uma interacção louca com os comentários (que a maior parte da vezes são bem mais geniais que os posts, há para aí comentários excelentes, momentos de rara beleza como disseram um dia….). Eu por mim acho que é bom ficarem registadas palavras e sons que testemunham um momento da minha vida, como se tratasse de uma cápsula do tempo. Acho que o maior gozo será voltar a ler isto que escrevo para aqui daqui a uns anitos, e lembrar-me…







2003/12/12

Quero o meu Debussy 

Aproveitando os últimos cartuchos do bom cinema proporcionado pela Zero em Comportamento fui ver o All About Lily Chou-Chou. Um filme dolorosamente belo seja pelas paisagens japonesas, pela temática dos anos desesperados da adolescência (o que é isso? onde acaba hoje a adolescência?) ou pela música.

A música aliás é o mote da história. Um jovem de 13 anos, típico e anormal como toda a gente nessa idade, decide criar uma espécie de fórum dedicado à sua cantora favorita, a Lily Chou-Chou. A Lily embora cante em japonês musicalmente situa-se algures entre uma Björk ou uns Sigur Rós, música desolada por isso, que puxa para o sentimento. No fórum as personagens adoptam nomes fictícios e deixam as suas inquietações fluirem livremente, enquanto que na realidade do dia a dia da escola é o salva-se quem puder. Quem tem coragem para ser poético e enamorado como as mensagens que deixam durante a noite ?


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Há uma música que percorre todo o filme - o Arabesque do Claude Debussy - que surge estrategicamente nos momentos de maior tensão. Esta música que é, uma vez mais, dolorosamente bela (podem ouvir aqui) serve de muleta a qualquer imagem mais violenta que surja. Cada vez que acontece algo horrível (estou a lembrar-me de uma passagem em que uma miudinha de 13 anos chora porque é obrigada a prostituir-se, a imagem acima…ah já tinha dito que isto era algo violento não?) , desaparecem diálogos e som e lá espetam a peça. O resultado é que se calhar é mais pela música que o coração aperta que pela situação em si. Outra prova ( como no Elephant) que isto de música clássica e o teenage angst has paid of well é uma combinação explosiva.

Eu também gostava de andar com o Debussy na algibeira para espetar em várias situações da vida. Como alguém já falou um dia, utilizar a banda sonora da vida. Carregar no play e que comece a tocar as Valquírias do Wagner cada vez que tenho de falar com o meu chefe, o Let’s get lost do Chet Baker quando me estou a sentir romântica, o Shake yer Dix da Peaches para momentos de grande formalismo. Mas tenho que usar palavras como o resto dos mortais e isso às vezes estraga tudo.


2003/12/11

Play it again Sam 

Quando ponho um cd a tocar esbarro com uma ou duas faixas que gosto de ouvir repetidamente, característico de comportamentos compulsivos obsessivos. Pôr o dedinho no repeat. Repeat. Re.

Dá-me vontade de ir ali chamar a Dona Conceição ao lado e dizer-lhe: "Ouça lá isto. Não é mesmo bonito? Imagine dá-me vontade de ouvir outra vez e outra vez, não gosta também?". Mas a Dona Conceição está entretida ao telefone e, mesmo com disponibilidade, suspeito que não compreende. Às vezes parece que só encontramos gente como a Dona Conceição às quais não conseguimos explicar como é que isto, hoje, me soa tão bem.

Por isso é óptimo termos a tecnologia necessária para não deixar o momento morrer, partilhar na blogoesfera musical estas pequenas compulsões (se o geocities cooperar).

Ah é dos The Bad Plus. E chama-se Everywhere You Turn.



2003/12/10

A Obra Prima do Mestre e a Prima do Mestre de Obras 

Em 2001, os Suecos Koop pegaram num caldeirão de influências que ia das canções do jazz vocal das décadas de 50 e 60 ao hip-hop, passando pelo lounge, pelo nu-jazz nórdico, pelo acid jazz e pelo dub de Vienna para criar um disco belíssimo.

Koop – Waltz for Koop Esse disco é Waltz for Koop, um albúm feito da colaboração dos Koop, que oferecem as programações electrónicas, samples e outras instrumentações, com vários vocalistas, entre eles Earl Zinger (pseudónimo de Rob Gallagher, o mesmo dos 2 banks of 4) e Terry Callier, bem como duas (até aqui) desconhecidas vozes femininas, Yukimi Nagano e Cecila Stalin.

Todas as canções que o compõem são curtas e suaves, mas cheias de uma magia cool que lhes dá aquela capacidade encantatória de aquecer o mais frio dia de inverno e ao mesmo tempo serem adequadas a um passeio de descapotável no verão.

Waltz for Koop é um disco que recomendo vivamente a quem quer que goste de boa música, e que detem até hoje o recorde de longevidade no leitor de Cds do meu carro, onde passou um ano inteiro, o que prova que se adequa de facto a qualquer estação do ano.

Já em 2003 saiu Waltz for Koop: Alternative Takes, o disco de remisturas correspondente ao disco de originais com o mesmo título. Pessoalmente nunca gostei da ideia de a um disco de originais contrapor o seu equivalente disco de remisturas, que sempre me pareceu como um expediente obscuro para vender mais alguns Cds. É certo que se fazem muitas vezes remisturas muito boas, algumas mesmo muito melhores que o original que lhes serviu de base, mas essas são raras, e por isso raramente me dou ao trabalho de ouvir com atenção um disco de remisturas de uma ponta a outra.Koop – Waltz for Koop: Alternative Takes

Ainda assim, e tendo em conta que gosto tanto de Waltz for Koop, decidi dedicar alguma atenção a estas Alternative Takes. À partida estas teriam tudo para agradar, pois a base de originais e excelente, e as remisturas ficam a cargo de nomes sonantes da electrónica, como Richard Dorfmeister, 2 banks of 4 ou Nicola Conte.

No entanto isto parece não ter sido o suficiente para conseguir um disco que supere ou pelo menos esteja ao nível dos originais que lhes serviram de base. Todas as remisturas são orientadas para as pistas de dança, o que até acaba por ser natural, tendo em conta que os originais eram canções mais apropriadas para pano de fundo de um bar onde relaxadamente se conversa com amigos ou de um introspectivo passeio de carro à beira mar do que para dançar numa discoteca “trendy”. Mas neste processo perdeu-se grande parte da magia que envolvia estas canções e o resultado acaba por soar, em comparação, bem pobre.

P.S. Notem, nas capas, a subtil troca de posição dos membros do grupo...


2003/12/09

Doors XXI  

Pavilhão Atlântico, sábado 6 de Dezembro

Tentamos ser um blog de música activo, em cima do acontecimento e por esta razão enviámos uns correspondentes ao Porto para assistir ao Blue Spot enquanto que outros iam ao concerto dos Doors. As intenções eram boas; houve plano, houve método. Não sei porquê, mas os enviados especiais das Corneta foram desviados para Leça da Palmeira para um restaurante, que permanecerá anónimo, do qual só saíram ás 3 da manhã. Então e o Blue Spot, e o compromisso com a música e esse bem maior que é o nosso blog? Esquecido, enxovalhado… ao menos parece que se divertiram, comeram bem, beberam melhor e, pelo que contaram, houve boas vibrações por toda essa nação (cidade).

Posto isto, a outra enviada especial, vulgo eu, cumpriu e esteve presente no concerto dos Doors sábado à noite. O pavilhão encheu-se de novos, menos novos, bastantes crianças e muitos, mas muitos espanhóis. Depois tive oportunidade de falar com uma amiga minha de Madrid que me disse que houve excursões organizadas para se poder assistir ao concerto, já que a versão XXI não passou pela capital espanhola. Boa forma de dinamizar o turismo, porque este fim-de-semana ouvi de facto muito espanhol.


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O concerto começou com alguma teatralidade com uma projecção de foto do Jim Morrison “The American Poet” ao som de ópera (Carmina Burana afiançou- me depois um dos rapazes do grupo, mas aquilo parecia mais Wagner…mas é do rock que devo falar não é? ) , para depois arrancar em força para o Roadhouse Blues. O público vibra e continuará a todo o vapor durante a primeira parte do concerto em que se apresentam grandes hits da banda . Lembro-me do Break on through, Alabama Song (whiskey Bar), Love me 2 times, 5 to 1 , When the music is over, Run with me, Spanish Caravan (precedido de um solo fenomenal de Robby Krieger ) . Pode-se considerar que houve uma segunda parte, quando Ray Manzarek anuncia que vão tocar bastantes faixas do L.A. Woman , um álbum que nunca tinham tido oportunidade de apresentar ao vivo devido à morte de Jim Morrison . Nesta parte passaram The changeling, The cars hiss down by my window, L’america, The wasp, o inevitável L.A. Woman e Riders on the Storm.


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Foi um concerto esgotante, porque realmente saltou-se muito e cantou-se mais. Os membros originais do Doors estavam em grande forma e tiveram generosidade suficiente para brilhar e mostrar a sua mestria (o tempo só evidencia as suas qualidades) tocando longas versões dos temas. Destaco o when the music is over e L.A. Woman onde o órgão de Manzarek se tornou o mais psicadélico e vibrante de sempre. Krigger que já se sabia que era um virtuoso da guitarra, e não se fez rogado em mostrá-lo. Foi irrepreensível essa parte do concerto.

O vocalista, o ex –Cult Ian Astbury , estudou bem a lição, não se limita a copiar o cabelo (vá lá que teve o pudor de não vestir as calças de cabedal) e os gestos são cronometrados para recriar um Jim Morrison das actuações ao vivo. Ou seja, temos direito ao saltinho do início do when the music is over , ao gingar do microfone, ao apelo a muitos “fuck” e “LSD” e “qualudes” , à mudança da voz do L.A. Woman, (aquela voz embargada pelo whiskey ). Foi a recriação perfeita, foi quase um Doors o musical, onde as entradas das músicas eram ensaiadas ( “oh where do we go next? Oh I think we have to… you know…to that old whiskey bar….”) , as projecções mostravam imagens da America dos anos 60, tudo para recriar um Absolutely Live. Aliás numa das músicas, onde se passam imagens do Ian a cantar cheguei a duvidar se não seria o Jim, como se estivessem a brincar com imagens editadas.

O meu ponto é que acho que a música deles é tão boa (e foi mesmo boa) que conseguia passar sem essa encenação toda. Que se deve prestar a devida homenagem a Jim Morrison mas não canibalizar a sua memória, até porque os Doors, a música, se não contarmos com a letra, pertence muito mais ao génio de Manzareck e mesmo de Krieger. E que Ian devia ser um vocalista suficientemente bom para interpretar e não recriar.

Veredicto final, foi muito bom e no encore deixaram-se do alinhamento treinado e notou-se que foi o puro gozo de tocar o Light my Fire e um Soul Kitchen que não deixou pé no chão. Um espectáculo de energia que encheu completamente as medidas dos que assistiram.

E eu fartei-me de cantar, o que me fez pensar “Ainda me lembro desta merda toda” (oh, a rapariga também utiliza palavrões…) e até escrevi o alinhamento do concerto num papelinho que entretanto perdi. Mas ficou marcado.

PS: James Douglas se estivesse vivo faria ontem 60 anos.

PS2: Concerto de domingo por Fernando Magalhães no Público.


Festival Blue Spot 

Este fim de semana tinha reservado a minha noite de sábado para assistir aos concertos de Ursula Rucker e Peaches no Festival Blues Spot, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto.

Essa era, aliás, a razão pela qual não me tinha pronunciado sobre o recente concerto de Ursula Rucker no Lux. Uma vez que Peaches também vai actuar no Lux em Dezembro, estava a guardar a ocasião para fazer um 2-em-1 (e poupar algum dinheiro em bilhetes).

No entanto um contratempo de última hora (uma grande jantarada com amigos que já não via há muito tempo) impediu-me de ir ao festival. Se o concerto de Peaches ainda vai ser possível recuperar aqui em Lisboa, o de Ursula Rucker ficou, infelizmente, perdido. Paciência...


2003/12/08

Em audição 

Yngwie J. Malmsteen - "Trilogy";
Nine Inch Nails - "Fixed";
Anthrax - "Fistful of metal";
Essence feat. Jaco Pastorius - "Last flight";
Beethoven: Piano Sonatas - Daniel Barenboim - "Mondschein. Pathétique. Appassionata".


2003/12/05

I'm going to the Darklands 

No outro dia estava a passear pela FNAC (a do Chiado como convém) e encontrei o Darklands dos The Jesus & Mary Chain a 9 Euros . A sobrancelha logo se arrebitou (apesar de ser triste verificar que era mais o facto de ser 9 euros que o facto de ser J&MC é que a fez arrebitar mais). Não interessa, é só o background da história. O que interessa é que apenas conhecia o Stoned & Dethroned (que já comprei há um ror de anos e já não ouço há imenso tempo), que pertence à fase em que se considera que a banda amoleceu, já tinha ouvido algumas vezes o Psichocandy, mas pouco. O que interessa é que o CD passou do carro para o trabalho, depois para casa e voltou ao carro, ou seja, fez o circuito completo que significa que gostei. Muito! E só podia, é do período áureo da banda. Está tudo bem com as minhas papilas auditivas portanto.
 J&MC

Quando se fala de livros os críticos dizem que há obras que são “period pieces” ou seja, que estão datadas e não sobrevivem ao passar dos anos. Esta banda que marcou bastante a geração dos amigos da minha irmã ou primos mais velhos (os que hoje são trintões, mas trintões e pouco…) poderia passar o mesmo: ficar presa ao limbo do final da década de 80, pertencer aquela geração, ficar por ali. Não se passou isso. Pelo contrário tornou-se “muito cá de casa”. Realmente há “something about you felt like pain”, há muito “chaotic soul” , a palavra mais repetida é “fall”, é um trabalho dorido, masoquista, e apesar disso, há uma doçura que sobressai(“about you”). Foi uma epifânia, deveras dear 80’s.

Entretanto J&MC “vaporise and rise to the sky / but we tried so hard/ and we looked so good/and we lived our lives in black…”, mas o que interessa isso? È boa música.

Por isso é que sei que no dia em que comprar o Pet Sounds dos Beach Boys também vou gostar imenso, porque é inevitável, é boa música, passa todos os testes. Só falta é encontrá-lo a 9 Euros…


Na Radio 

Ainda agora na Radar estava a tocar Vancouver, de Jeff Buckley. A minha canção preferida de Sketches for my Sweetheart the Drunk. Já há muito tempo que não a ouvia e não me lembrava dela. Se o servidor onde deixei a faixa do post anterior estivesse a funcionar bem, agora também a punha aqui, porque "recordar é viver"!

Mas fiasco por fiasco, já me basta um... (bolas para o geocities, que saudades do tempo em que tudo na Internet era bom e à borla...)


2003/12/04

Jazz as you are 

O artigo da Sofia que refere os The Bad Plus e a sua versão Jazz de Smells Like Teen Spirits lembrou-me uma coisa antiga que eu tinha esquecida aqui por casa há muito tempo. De facto esta não é a primeira vez que o rock duro e sujo dos Nirvana cruza o seu caminho com o Jazz.

Já em 1995 Charlie Hunter apontava o seu trio de guitarra, saxofone e bateria na direcção de Come as you are, resultando também num tema a meu ver espectacular, embora se calhar não tão intenso como o resultante da bateria que referia a Sofia, pois esta faixa era uma das mais calmas de Nevermind e se calhar uma das mais obvias para sujeitar a este tratamento.

Na altura esta faixa ainda passou bastante na (malograda) Xfm, e eu não descansei enquanto não consegui comprar o disco. Infelizmente este não era fácil de encontrar à venda em Portugal e tive que o fazer vir do estrangeiro, o que nos tempos pré-amazon não era tão facil como hoje. Entretanto, depois de muitas audições, acabou por cair no esquecimento. Para quem também já não se lembra (ou nunca a descobriu), fica aqui:

Come as You Are
(infelizmente, por enquanto este link está em baixo)


2003/12/03

Saca a moto e zarpa 

Em audição : Ryuichi Sakamoto - "moto.tronic"; Frank Zappa - "The grand wazzoo".


Jazz chegou ao(s) Nirvana 

Muita gente pensa que o jazz de certa forma morreu depois do desaparecimento de Coltrane, um marco ainda difícil de contornar. The Bad Plus são um trio, uma formação clássica de piano, contrabaixo e bateria que quer tocar a música que gosta e quer tocar jazz . Este é um daqueles casos que vem afirmar vitalidade do género; o jazz virou rock e neste caso particular grunge. Aliás aqui na Corneta já discutimos o caso e concordamos que esta tem de ser a próxima caixinha a abrir, depois do revivalismo dos anos 80 a próxima leva seguramente vai voltar a revisitar o rock alternativo do ínicio da década de 90. Ou talvez não (só para cobrir a posição caso o exercício de futurologia saia ao lado).

These are the vistas é o álbum e o prato forte é elevação do “Smells like Teen Spirit” dos Nirvana a standard de jazz. Mas não é o único, também se pode encontrar “Flim” de Aphex Twin e “Heart of glass” dos Blondie, além de temas originais do trio.
 BAD PLUS

Em relação ao primeiro, a guitarra corrosiva é substituída pelo piano que constrói a melodia, o baixo mantém ritmo apertado e depois entra uma bateria com potência pouco usual em jazz. Aliás esse é um ponto muito curioso nesta banda, que se mantém ao longo das outras faixas, porque não são nada mansinhos, o baixo é determinado e a bateria é muito mais explosiva que qualquer formação clássica poderia supor. Chamam-lhe “hard rock”, mas isto não é rock, não é jazz, sei lá, pode ser “hard jazz”.
Acho que o trio joga muito bem com as percepções que um público (naturalmente mais jovem) já tem à priori deste tema. Para muitos este é aquele tema , define uma década e aqui é reinventado sem deixar de haver uma identificação primária. È mesmo surpreendente . A capa é que é mázinha não faz nada juz ao conteúdo do álbum.


No outro dia estava a ouvir o Thelonious Monk Trio quando me deparei com umas notas familiares. Eu conhecia aquilo. Depois é que percebi que aquilo era o “Just a Gigolo”, cuja a recordação primária era o vídeo do David Lee Roth cheio de meninas em bikini ( é o que vale pertencer à geração da music video, o tema já é do tempo de Louis Armstrong, ou da Sarah Vaughan, …) e percebi que acabava de fazer o processo inverso, ou seja a ouvir o original porque aquilo já foi mais do jazz que do rock. Esta faixa em concreto é um solo de piano onde o tema é apresentado em frases cortadas, ritmo abrupto. É ter uma noção completamente diferente da nossa referência, sem deixar de ser o mesmo.

Gosto disso, gosto disso.




2003/12/02

Um pequeno aparte 

Ouvi hoje de manhã na Antena 2 que a Associação Zero em Comportamento vai deixar de apresentar programação cinematográfica regular no cine-estúdio 222 e diminuir a sua actividade, por falta de sucesso (e apoio) financeiro, de uma sala decente onde trabalhar, etc...

É uma pena, tive a oportunidade de ver nessa sala filmes que de outra forma nunca teria visto... E é também uma pena que todos os projectos alternativos que por cá se fazem acabem sempre com os dias contados, e sempre por motivos financeiros e de falta de apoio... Se calhar é difícil ter uma oferta cultural diversificada em Portugal (ou mesmo só em Lisboa) por o público ser escasso e não render o suficiente para sustentar os projectos. Mas é mesmo uma pena.

Em termos de cinema, tendo vivido em Paris durante alguns meses, só posso dizer que é triste que por cá não se consiga sustentar uma oferta de propostas "não-comerciais" como lá se conseguia em muitissimas salas pequenas de bairro. Mas se calhar por lá o público para estas coisas é 10 vezes maior, não só pela dimensão da cidade, mas também certamente pelos hábitos culturais e pelos padrões de rendimento de quem lá vive...

(Em boa verdade este post não tem muito a ver com musica... mas fica o aparte... ah!!! Já sei, a ligação é que vi nessa sala o filme "In the Mood for Love" que tem uma banda sonora muito bonita...)


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