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2003/10/31

Não entres tão depressa nessa noite escura* 

Olho para a janela e está escuro, demasiado escuro para estas 6 horas de sexta. As pessoas fogem.

Contrário ao escuro da noite, Dial M for Monkey é luminoso, melódico, um pequeno gelado que se derrete. Bonnobo ( uma espécie de macaco com um apetite sexual invulgar, dizem) da Ninja Tune desenvolveu este álbum chill out ao som de cítaras indianas e flautas ( ao ponto de fazer lembrar um pouco Saint Germain em "PicK up"). Sabe bem.

Também vou fugir e mergulhar na noite.







* título do livro de António Lobo Antunes


O primeiro dia do resto da minha vida 

Caros amigos, hoje é o meu primeiro dia de aulas na faculdade e, como tal, não podia deixar a ocasião em branco e, assim sendo, aqui vai uma letra dum grande senhor e que pode espelhar esta e muitas outras ocasiões :

O primeiro dia

A princípio é simples anda-se sozinho
Passa-se nas ruas bem devagarinho
Está-se no silêncio e no burburinho
Bebe-se as certezas num copo de vinho
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
Dá-se a volta ao medo dá-se a volta ao mundo
Diz-se do passado que está moribundo
Bebe-se o alento num copo sem fundo
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
Entra-se cansado e sai-se refeito
Luta-se por tudo o que leva a peito
Bebe-se, come-se e alguem nos diz bom proveito
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
Molha-se para dentro e já pouco sobeja
Pede-se o descanso por curto que seja
Apagam-se dúvidas num mar de cerveja
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
Enfrenta-se a vida de fio a pavio
Navega-se sem mar sem vela ou navio
Bebe-se a coragem até dum copo vazio
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Entretanto o tempo fez cinza da brasa
E outra maré cheia virá da maré vaza
Nasce um novo dia e no braço outra asa
Brinda-se aos amores com o vinho da casa
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


Cinzento - e viva a censura! 

Os Censurados foram uma banda que marcou o panorama musical português, em inícios de 90 e, não tivessem acabado tão prematuramente, hoje seriam uma grande instituição - grande feeling, letras interventivas e uma atitude e pica completamente fora de série. Cinzentos - a condizer com as corrosivas sete e meia da manhã em que os ouvia, enquanto esperava, num escuro encharcado de frio, por ruidosos monstros laranja. Editaram três excelentes discos - os puristas não gostam do "Sopa", sopa nisso - "Censurados", "Confusão" (ambos pela El Tatu - grande Tim) e "Sopa" (pela EMI- "(...)there´s no reason why(...)"). Muitos temas memoráveis - "A minha vida", "Venenosa", "Angústia", "Amigo", entre tantos outros - uma biografia detalhada ficará para outra ocasião, porque o que me levou a cozer esta pescada mais não foi que isto (último tema de "Sopa", em colaboração com Jorge Palma) :

Estou agarrado a ti

Às vezes controlo o medo
Às vezes pareço mudo
Reconheço as palavras
Mas não obedeço a tudo

Quero o que tu queres
Reencontro-te em mim
Não é por nos desviarmos
Que evitaremos o nosso fim

Mando vir o futuro
E dispo-me à tua frente
Se vamos a algum lado
Vamos a um lado mais quente

Não tentes surpreender-me
Não tentes investigar
Não queiras modificar-me
E não me deixes asfixiar

Estou agarrado a ti (repete várias vezes)

Tenho saudades tuas
Sempre que não te vejo
Apeteces-me a sério
És dona do meu desejo

Não me estragues a alma
Não me mexas no fundo
Não dês cabo do plano
Que controla o meu mundo.

Letra - Jorge Palma


2003/10/30

O génio que veio do frio (vão-me linchar por isto) 

O virtuosismo não é feito apenas de solos rápidos e, a prová-lo, Yngwie J. Malmsteen editou o seu primeiro longa duração em 1984. Algo nunca antes ouvido. Malmsteen, oriundo da Suécia, alia a uma técnica fabulosa um grande sentido melódico e harmónico e, ao invés de se perder em divagações mais próprias de uma qualquer gigantesca superfície comercial, cria temas épicos, fantásticos e sobre o fantástico, levando a mente do ouvinte para locais recônditos. Chamem-lhe foleiro ou preguem a sua falta de feeling...para mim, nem uma nem outra. É genial, forte, melodramático e alcoólico - bebe Hendrix e bebe Bach, come Friedman e vomita Hammett...
O seu primeiro albúm, para muitos também o melhor, "Rising Force", assenta essencialmente em temas instrumentais que remetem (quase) sempre para um ambiente clássico, barroco e, repito-me, épico e fantástico...Desde o lento "Black Star", com um ritmo bastante bluesy na sua génese, até à alucinante cavalgada de "Far beyond the sun", passando pelo lindo, utópico e esperançado "As above, so below" ("I will never die/´cause I will fly/to the other side"), sem esquecer o não menos belo "Icarus dream suite, op.4", este é um disco marcado não só pela guitarra abismal de Malmsteen mas também por instrumentos menos comuns, sejam eles o órgão de igreja ou o cravo .
Há dias um amigo disse-me que a capa deste disco era das mais feias que já tinha visto, porém, há que analisar o contexto das obras e, assim sendo, só posso dizer que Malmsteen extermina o imaginário metaleiro repleto de ideais sexistas, machistas, violentos e intelectualmente medíocres, abrindo portas ao público para com ele partilhar uma visão mais nobre...






Cito outro grande génio :
"Que é bom? - Tudo aquilo que exalta no homem o sentimento de potência, a vontade de potência, a própria potência.
Que é mau? - Tudo o que mergulha as suas raízes na fraqueza.
Que é a felicidade? - A sensação de que a potência cresce - de que a resistência é vencida. (...)"
, in "O Anticristo", de Friedrich Nietzche.


2003/10/29

Um fim de semana recheado parte II (sábado) 

No sábado à noite resolvi dar preferência à exibição do Andy Warhol's Exploding Plastic Inevitable no São Jorge, com os cumprimentos da Experimentadesign (e ainda para mais, com entrada livre). A proposta era bastante interesante, até porque o realizador do filme, Ronald Nameth, estaria presente para falar sobre o mesmo, sobre a factory de Warhol e sobre os Velvet.




É incrível como a música e as imagens produzidas por Warhol e pelo Velvet mantém a sua actualidade e validade enquanto afirmação nos dias de hoje. Imagino que terão sido totalmente revolucionárias face à norma em meados dos anos 60. Bastante mais radicais dos que os Beatles, certamente. Como dizia o realizador, é preciso ter em conta que o filme o filme foi feito cerca de 25 anos antes da popularização dos videoclips pela MTV.

Esta projecção era acompanhada por mais duas outras. A primeira destas, uma curta metragem em torno da música de Sun Ra em que as imagens dos músicos a tocar eram trabalhadas em jogos de sombras por forma a ficarem tao abstractas quanto a própria música que as acompanhava. A segunda um filme muito psicadélico realizado entre o fim dos anos 60 e o inicio dos 70, em que uma banda sonora espectacular que oscilava entre musica indiana, o jazz de fuzão, o rock progressivo e o acid rock à lá Pink Floyd acompanhava imagens puramente psicadélicas procurando representar o homem, a natureza, as relações de família e tribais, a religião, etc...

Olhando para trás não posso dizer que me arrependa de ter trocado a Experimentadesign pela segunda noite do Número Fesival (até porque parece que o Sr. Coconut nem foi assim tão bom quanto isso). O concerto de John Cale teria sido certamente melhor, mas implicava uma maior despesa e também muito trabalho de casa para ficar mais ou menos a par da extensa discografia do senhor.


Duetos (im)previstos 2 

Volto a atacar com isto dos duetos. Na caixa de comentários tivemos algumas sugestões interessantes:

- Gavin Friday (ex-Virgin Prunes) e Bono Vox, no single "Billy Boola". João

- Tindersticks (especialmente o recente com a Llasa de Sala "Sometimes it Hurts" e o mais antigo com Carla Torgeson "Travelling Light").
Para quem gosta de duetos, recomenda-se o excelente "Irmão do Meio", do Sérgio Godinho, com parcerias magníficas, umas mais (im)previsíveis que outras. NunoP

- dueto do Stuart Staples com a actriz Isabela Rosselinni, em "Marriage Made in Heaven", uma faixa bónus da edição norte-americana de "Curtains".Vítor Junqueira .

(e assim se faz um post seguindo a lei do menor esforço. JPP estou a aprender....)

Outro dueto, muito bem conseguido, está na compilação de RED HOT + Lisbon. A voz doce de Caetano Veloso junta-se David Byrne para cantar "Marco de Canaveses" ( e eu que pensava que isso ficava para os lados de Penafiel, enfim...).

Marco de Canaveses/ É o nome da terra/Onde laroxum nasceu/And the taste of each flower is sweet/So why do they say she's a bad girl ...
.

E antes de haver Tribalistas, Marisa Monte e Carlinhos Brown estiveram com Bonga para fazer "Molemba Xangolá"( Ai ue...), excelente para dançar.




Está cheio de pequenas surpresas esta Lisboa.







2003/10/28

10.000 Anos Depois Entre Venus e Marte (ou Fans de José Cid saem do armário) 

Nos comentários do post TugaVoxx o Jovem da tasca refere que há uma pérola do Rock português que merece toda a atenção, o álbum 10.000 Anos Depois Entre Venus e Marte (1978) do Quarteto 1111 e José Cid.

A avaliar pelos links que ele ali indicou, e mais alguns que acrescentei, onde álbum é descrito como "uma sinfonia do rock progressivo português", estamos perante uma obra prima.

José Cid é o maior 1 , José Cid é o maior 2, José Cid é o maior 3, José Cid é o maior 4, José Cid é o maior 5




Realmente devo confessar que sempre que José Cid tentava defender o seu legado de músico eu não via qual a razão para tanto brio (pensava eu que era como o cantor popular Emanuel, que alega que a qualidade da sua música é evidenciada pelo facto de ter estudado guitarra clássica, isto apesar de a maior parte delas serem baseadas em três acordes básicos que qualquer leigo sabe...). Está-se sempre a aprender.

Até há um blog que, entre outras, tem uma devoção muito especial ao artista reconhecendo-lhe o génio claramente ignorado.

Será que se consegue sacar isto do soulseek?


PS: Obrigado ao Jovem da Tasca.


2003/10/27

Um fim de semana recheado parte I (sexta) 

Número Festival - Gare Marítima de Alcântara - 24 de Outubro de 2003

Como que a provar que não há fome que não acabe em fartura, este fim de semana eram muitas as ofertas culturais de interesse a nível musical em Lisboa. Ora vejamos: John Cale dava 2 concertos na Aula Magna, o Número Festival prometia duas noites de festa dançante na Gare Marítima de Alcântara, e no sábado a Experimentadesign projectava gratuitamente filmes sobre Sun Ra e os Velvet Underground.

Face ao excesso de oferta e imposibilitado de estar em todo o lado ao mesmo tempo, optei por deixar de lado o concerto de John Cale, ir ao Número Festival na noite de sexta e fazer as pazes com os Velvet (por ter ignorado Cale) na noite de Sábado. Admito que o critério principal desta escolha foi o económico, uma vez que o bilhete para o Número Festival era mais barato que o de John Cale. Apesar de já ter lido em vários sítios que os concertos deste último foram bastante bons, confesso que não conheço a sua música "pós- Velvet" e que por isso não me custou muito fazer esta escolha.

Porém no que toca à noite de sexta, a opção pelo Número Festival não se veio a revelar muito feliz, quer porque alguns dos sets apresentados foram decepcionantes, quer por causa da (des)organização que foi o festival. No que toca à organização, o festival correu muito mal. Em lado nenhum se anunciava os horários a que estavam previstos os concertos, o alinhamento das bandas era alterado sem aviso, de tal forma que chegava a ser dificil saber quem é que estava a a actuar se não se conhecessem já os artistas, artistas "cabeça de cartaz" não actuaram sem que houvesse avisos atempados nesse sentido (Karl Bartos, Pole, Kristeen Young), os exemplos são infindáveis.

No tocante à música, se o cartaz não era muito forte, prometia ainda assim uma noite bastante boa. No entanto nem todos os artistas estiveram à altura do esperado. Andy Fletcher, uma parte dos Depeche Mode, foi uma enorme desilusão, a provar que não é DJ quem quer, e que não se fazem misturas com exitos dos anos 80 e 90 ao estilo dos 2 Many DJs assim do pé para a mão. Alva Noto também não foi muito cativante com a sua electrónica minimal e da música do Anabela Duarte Digital Quartet ficou a sensação de faltar qualquer coisa.



Alva Noto





Por outro lado os Stealing Orchestra estiveram bem, os Animal Colective também, sobretudo durante a parte em que pareciam querer imitar índios em transe, mas a noite acabou por pertencer aos Portugueses X-Wife e Two Kindermen. Os X-Wife conseguiram contagiar o público com a energia do seu som tingido de electroclash, enquanto os Two Kindermen ganham o prémio de originalidade pela projecção da telenovela realizada com bonecos playmobil que acompanhava a música.



Two Kindermen 1




Two Kindermen 2





Quem quiser saber mais encontra no Público um artigo que refere também o segundo dia do festival, ao qual não assisti.




2003/10/24

Tugavoxx 

Ligo hoje a Voxx a caminho do trabalho. "Serafim Saudade" do Herman José, "Kanimanbo" dos Irmãos Catita, canção não identificada em português (mas género Cebola Mol). Ah?

Li depois no Forum Sons que desde a meia noite de quinta feira está a dedicadar a emissão inteiramente à música portuguesa. Será que quer atingir a malfadada quota num só dia para não ter mais que pensar no assunto?


2003/10/23

Hip Hop morreu? 

O hip hop para mim morreu. É o que se diz aqui , aqui e aqui (os blogs Vitamina C e Contra a Corrente), e genericamente um pouco por todo o lado.

No entanto, dentro do pseudo debate há a Voz do Deserto que, pelo contrário, defende que há bastante vitalidade no género. E criatividade. E é cada vez mais diversificado. Acrescento.


Deixo aqui alguns exemplos dessa vitalidade:

1. The Sreets do RU (o Tiago e Bruno é que gostam bastante deles, podem desenvolver o tema) .
2. Outkast e Speakerboxxx/The Love Below . O cruzamento do White Album e hip hop (como se atrevem?), um forte candidato a um dos álbuns do ano. Ver post aqui
3. Madlib e Shades of Blue - a little cooking session with Blue Note & Hip Hop.
4 . Ursula Rucker e Silver or Lead - uma supa sista que utiliza a palavra de forma superior. Em Untitled Flow feat. King Britt diz "Hip hop is not a music category/is a culture/is culture".
5. Missy Elliot - Under Construction

Já sei, ou Streets é mais garage, a Ursula é poetisa, mas o hip hop não é também o triunfo da palavra? E o triunfo do beat? Pode ser Beats vol.1 - Amor do português Sam The kid uma nova face do hip hop? E o hip hop está morto?

manifestem-se.


2003/10/22

Antes que me vá 

Aqui vai uma letra fantástica, das mais belas que ouvi cantar, escrita pelo imortal Robert Zimmerman, Bob Dylan para os amigos. Este é o verdadeiro viajante do tempo, o mais puro contador de estórias, detentor de uma simplicidade arrebatadora.
O poema que passo a trancrever insere-se no albúm "Desire", editado em 1976, e é cantado em dueto com Emmylou Harris, grande senhora da canção tradicional americana (folk/country). O tema chama-se "One more cup of coffee" e, supostamente, conta a estória de uma família cigana mas, quando se trata de escritores tão cristalinos como Dylan, o próprio cristal deixa de o ser e nada é o que parece. Arrepiante :

"One more cup of coffee"

Your breath is sweet
Your eyes are like two jewels in the sky.
Your back is straight, your hair is smooth
On the pillow where you lie.
But I don't sense affection
No gratitude or love
Your loyalty is not to me
But to the stars above.

One more cup of coffee for the road,
One more cup of coffee 'fore I go
To the valley below.

Your daddy he's an outlaw
And a wanderer by trade
He'll teach you how to pick and choose
And how to throw the blade.
He oversees his kingdom
So no stranger does intrude
His voice it trembles as he calls out
For another plate of food.

One more cup of coffee for the road,
One more cup of coffee 'fore I go
To the valley below.

Your sister sees the future
Like your mama and yourself.
You've never learned to read or write
There's no books upon your shelf.
And your pleasure knows no limits
Your voice is like a meadowlark
But your heart is like an ocean
Mysterious and dark.

One more cup of coffee for the road,
One more cup of coffee 'fore I go
To the valley below.





XO 



ELLIOTT SMITH 1969-2003


http://www.nme.com/news/106511.htm



Musicália - Feira de Música na FIL 

É já a partir de Quinta-feira, dia 23, que decorre a nova edição desta excelente feira de música. Aqui, poderão encontrar as mais recentes máquinas criadas especificamente para a produção musical, para além dos já clássicos instrumentos musicais (guitarras, baterias e baixos, entre outros) e acessórios (amps, pedaleiras).
O salutar evento dura até Domingo, dia 26, e, para além dos inúmeros stands das mais diversas e conceituadas marcas e lojas, também poderemos contar, certamente e de acordo com o que se passou no ano anterior, com espectáculos ao vivo.
A entrada é simbólica mas, de qualquer das formas, façam-se espertos, ou seja, comprem o Blitz desta semana e entrem "à borliux", como fazem os franceses.
Fora de brincadeiras - é um evento (como me irrita esta palavra e já a repeti) bastante interessante, este que decorre durante quatro dias na FIL (Parque das Nações), que vale bem a pena uma saltada, nem que seja porque não houve dinheiro para a Strat e, espero, lá hão-de estar muitas à espera do novo Hendrix (ou será Malmsteen?)...


2003/10/21

Sonic Process - um livro  

Para os devotos da música electrónica, se é que existe a possibilidade de não o ser nos dias que correm, deixo aqui o conselho de um bom livro, tanto em termos de conteúdo como de apresentação gráfica, denominado "Sonic Process".
É uma edição do MACBA (Museu d´art Contemporani de Barcelona) e resulta de uma exposição que esteve no referido museu entre 4 de Maio e 30 de junho de 2002, sendo que, este ano, já passou por Berlin e Paris. A obra contém artigos escritos por produtores e musicos, entre outros. Para além dos extensos textos centrados, entre outras coisas, na nova relação entre audiência e artista (no contexto do artista enquanto disk-jockey), na morte do autor (devido ao advento dos samplers e da facilidade com que se produz e troca música - banalização dos meios informáticos) e, para os mais interessados na concepção propriamente dita de música electrónica, posso desde já dizer que o livro nos bombardeia, mais ou menos em cada vinte, com duas páginas com conceitos tão variados como : acidhouse, analogical, beat, crossfader, cut, digital, Detroitbass, electroacustic, electronica, loop, MIDI, modulation, plugin, sampler, synthetizer, sequencer.
Mais informações em : sonic-process; macba ou actar (Actar é a distribuidora).


Onde é que arranjo as letras dos Ramones ? 

Mais um dia. Ligo o computador e (a)cornecto-me. Já que não percebo nada daquilo que o Joey Ramone canta, aqui deixo uma letra de Neil Young, músico que semeou, entre outros (Lou Reed; Glenn Branca), as (segundo parece) inesgotáveis sementes posteriormente colhidas por génios (?) como Thurstoon Moore :

The needle and the damage done

I caught you knocking at my cellar door
I love you, baby, can I have some more?
Oh, the damage done
I hit the city and I lost my band
I watched the needle take another man
Gone, gone, the damage done

I sing this song because I love the man
I know that some of you dont understand
Milk blood to keep from running out
I´ve seen the needle and the damage done
A little part of it in everyone
But every junkie´s like a setting sun

I´ve seen the needle and the damage done
A little part of it in everyone
But every junkie´s like a setting sun


2003/10/20

Banda Sonora para Segunda-feira de manhã... 

Ontem à noite estava casualmente a ouvir pela primeira vez um disco a que nunca tinha prestado atenção. Hoje de manhã tinha a primeira canção desse disco a martelar-me na cabeça, tanto que andava pelo escritório a cantarolar o seu refrão, para afastar a depressão de voltar ao trabalho uma Segunda de manhã.

Pura curiosidade, o amigo de que fala a Sofia no post abaixo sou eu, e o mais engraçado é que estes posts também surgiram espontaneamente, o meu já estava preparado antes de ver o dela (e teve que ser adaptado depois).

Como agora não posso por aqui a música, deixo a letra, pode ser que ajude outros com o stress da Segunda-feira. Um dia alguém aqui há de pegar nestes posts para comentar o disco inteiro...

Sonic Youth - The Empty Page (do álbum Murray Street)

These are the words
But not the truth
God bless them all
When they speak to you

But that's all right
On an empty stage
Sing out when
There's no other way

Come drift the town
Where secrets lie
Where friends & neighbors
Keep drifting by

But that's all right
You're here to stay
Sing out tonight
The empty page

I always thought I'd see
Your name in flashing light
You did it all for free girl
& Freely ripped the night
(Yr free to fight)

These are the words
But not the truth
God bless them all
When they speak to you

But that's all right
You're here to stay
Sing out tonight
The empty page

Do you remember the time
When you were new in town
You smashed yr head in the mirror baby
And kissed the frozen ground
(Yr ripped up sound)

The empty page has wasted down
The empty page is ripped
The empty page will waste this town
The empty page has slipped

Que espírito maligno terá este disco?


Obsessão - s. f., estado de pessoa que se crê atormentada e perseguida pelo espírito maligno 

O "Murray Street" dos SY está desde quinta feira no CD do meu carro e noto uma preocupação constante em repetir, como se fosse uma perseguição insistente, esta ideia fixa de voltar a tocar "Disconection notice" ou "Karen revisited". Diria mais, é impertinência excessiva, afinal isto é de 2002, entretanto fui ao concerto e tenho ouvido tantas outras coisas ...

Comentei a um amigo por mail este facto, esta obsessão musical, ao que ele repondeu -
bem isto é telepatia. Também só ontem pus o Murray street no carro e o estive a ouvir ... há apenas 5 minutos estava a cantarolar para mim mesmo "sing out tonight... the empty page" - já acredito em espíritos malignos.

(os negritos fazem parte da definição do dicionário Universal, gostei tanto daquela impertinência).


2003/10/17

American Music Club "San Francisco" 

Caros amigos, venho falar-vos de um disco que não me fascinaria, se não estivesse nele contido um sublime pedaço de arte, denominado "It´s your birthday" e que assim reza : "The eyes of the world see what they want to see/ People always boil things down to nothing/ They´ll see your love as worthless and wrong/ The eyes of the world leave you with nothing(...)"; agora, por outros desarmados da ilusão de um amor que cegamente alimentávamos, o mundo despe-se à nossa frente e deparamo-nos com...com quê? Falta de nexo? Seja como for e ainda assim, os American Music Club atacam no refrão - "It´s your birthday, baby/ Here´s a gift you should take it/ It´s your birthday, baby/ Here´s a gift you should unwrap it/ It´s your birthday, baby/ Here´s some luck you should grab it/ It´s your birthday, baby/ Here´s a smile you should unwrap it(...)".
O disco chama-se "San Francisco" e foi editado em 1994. Na sua generalidade, os temas vão decorrendo algures entre o pop/rock, contando com pormenores de qualidade, tais como os instrumentos utilizados (ele é tablas, ele é mandolins) ou a produção e os arranjos sublimes.






2003/10/16

Por cima do nevoeiro 


Blemish é lowkey . A maioria dos temas apresenta apenas a guitarra de David Sylvian e a sua voz, que é profunda e langorosa. As sensações são acentuadas por arranjos electrónicos, minimalistas, que criam um ambiente íntimo, uma linguagem própria. É de notar também que foi gravado a partir de um estúdio montado em casa, que muitos dos temas são desenvolvidos na base do improviso. Não é fácil entrar em algo tão diferente, experimental, mas vale a pena. Mais, todo o álbum é uma celebração de uma relação, um diálogo possível que Sylvian estabelece com a sua mulher Ingrid Chavez. "The heart knows better" canta. São pequenos sinais que isto é realmente especial...

E porque passamos, a todos os níveis, tempos marcado pelo cinzento faz bem ouvir "A Fire in the forest". Citando de novo All Music, is the album's own "Somewhere Over the Rainbow," lets the listener out with a battered sense of optimism.

There is always sunshine above the grey sky I will try to find it Yes I Will try


Patrocinador oficial 

Adoptando uma estratégia "a la" Vítor Espadinha, decido aqui recordar um disco que saiu uns anos antes do início da minha viagem no tempo, disco esse que vale a pena nem que seja pela capa. Adivinharam, são os Yes e o albúm chama-se "Relayer", data de 1974 e, quanto a mim, tem um tema fantástico, logo a abrir - "The gates of delirium"; cerca de vinte minutos extasiantes, que nos levam bem alto, bem longe aos confins do tempo...uma viagem inter-galáctica.
O disco só tem mais dois temas ("Soundchaser";"To be over"), cada um deles com cerca de nove minutos, o que pode ser um contratempo para o ouvinte, ou não, dependendo da atenção que o mesmo se predispõe a dar à audição do albúm.
"Soundchaser" tem um jogo espectacular de baixo e bateria e "To be over" uma melodia "viajante", alegre e (cliché) com os olhos a Oriente que também, por si só, valem bem a audição atenta deste disco, apesar de a pérola ser, nitidamente, "Gates of delirium".







2003/10/15

Nostalgia patrocionada por Corneta 

Tenho ouvido muito o So Tonight That I Might See (1993) dos Mazzy Star. Na década passada, não sei precisar datas, ouvia o "Fade into You" na rádio e não sabia de quem era, só que era linda,melancólica ,"moody". Mais tarde vim a conhecer a banda: a sua passagem fugaz pelo rock alternativo/psicadélico (90-96), os 3 álbuns que editaram, o pequeno culto que se gerou à sua volta. David Roback e Hope Sandoval (ainda que fosse uma banda com 6 elementos, era basicamente este duo, o primeiro guitarrista, produtor de todos os álbuns e o principal letrista, Hope a voz ) recusavam a fama, fugiam de entrevistas, alimentavam a aura de "artista" . Um golpe de sorte faz com que o single "Fade into You", editado um ano depois de So Tonight..., caia no goto das rádios, chegando à tabela de American Top 40...

Entranto esses elementos de história realmente fizeram "fade out", ficou a música, a nostalgia. E pequeno arrepio, inevitável, quando volto a ouvir aquela entrada (li algures que era igual ao de Knockin'on Heaven's Door de Dylan, mas também aqueles acordes de guitarra são partilhados por outro milhar de composições), o riff de blues, o piano, uma voz magoada. Parece cansada mas ainda assim surpreende por uma textura de veludo. A letra fala da busca da totalidade, de se diluir no outro. Talvez não fale de nada, são apenas emoções passageiras.

Recomenda-se consumo em tarde como estas, particularmente tingidas de cinzento.


I want to hold the hand inside you
I want to take a breath that's true
I look to you and I see nothing
I look to you to see the truth
You live your life
You go in shadows
You'll come apart and you'll go black
Some kind of night into your darkness
Colors your eyes with what's not there.

Fade into you
Strange you never knew
Fade into you
I think it's strange you never knew

Fade into You (live)






2003/10/14

Truby Trio – Elevator Music 


Truby Trio – Elevator Music
Rainer Truby e o seu Truby Trio já há muito que eram conhecidos, através do seu trabalho na editora Compost Records, das aclamadas compilações Glucklich, dos seus projectos paralelos e das actuações como DJs. Foram também, em parte, responsáveis pela popularização de influências latinas e sobretudo brasileiras em muito do que se tem feito nos últimos anos nas diversas frentes das músicas electrónicas.

Apesar de ter os seus originais dispersos aqui e ali em várias compilações, o Truby Trio não tinha ,até agora, editado qualquer álbum de originais. Este Elevator Music era por isso aguardado com alguma expectativa, até porque durante o tempo que mediou os primeiros volumes da série Glucklich e esta edição, essas mesmas influências latinas foram exploradas até à saturação pelos mais diversos projectos de música electrónica.

Ao tentar ser a resposta do Truby Trio a essa saturação, Elevator Music acaba por ser uma amálgama de estilos: se por um lado estão lá as sonoridades Jazz-Funk-House electrónicas características dos Jazzanova e da Compost records, e as sonoridades brasileiras, por outro lado há uma viragem para sonoridades latinas de influencia hispânica (Jaleo, à primeira audição, parece uma faixa perdida do arquivo dos Gipsy Kings) e para sonoridades de inspiração Afrobeat.

O álbum abre da melhor maneira, com um interlúdio em que sobre uma batida “groovy” uma voz masculina murmura, numa espécie de convite à dança: “the rhythm... and the swingin’ feel”. Daí parte-se para dois temas dentro da sonoridade Compost, merecendo destaque o primeiro, Universal Love, tingido de referências ao disco sound dos anos 70 e de boa disposição dançante, com o refrão “Love to the World!” a fazer o paralelo com o In Between, dos Jazzanova, que abria sob o mote de “something’s missing... could it be love?”. Porém logo de seguida vem a desilusão, sob a forma do Afrobeat e do refrão irritante e ultra repetitivo de Runnin’ e do já referido plágio descarado aos Gipsy Kings que é Jaleo.

As coisas melhoram quando se chega à secção “brasileira” do disco, com Alegre 2003 e sobretudo com A Festa, esta uma muito dançável nova versão de um samba de Jorge Benjor. O problema é que logo de seguida se cai de novo no Afrobeat menos feliz com Make a Move, embora esta faixa tenha a virtude de ser um pouco menos irritante e repetitiva que a anterior faixa Afrobeat (Runnin’). Segue-se um novo ponto alto com A go Go, novamente uma faixa de energia contagiante, como que a provar que o Truby Trio também consegue bons resultados a partir das influencias hispánicas. Depois o disco volta a cair nas sonoridades Jazz-funk do início, sem que no entanto qualquer dos temas até ao fim do disco seja particularmente inspirado e se consiga destacar acima da média.

Uma pesquisa rápida pela Internet deu-me a entender que Elevator Music, sem ser verdadeiramente aclamado, recebeu críticas mais ou menos favoráveis. A meu ver porém, não se trata de um disco memorável. O problema de Elevator Music está precisamente na constante mudança de estilos. Se um álbum de sonoridades diversas não é necessariamente mau, torna-se também mais difícil conseguir dar-lhe alguma consistência. Neste caso parece-me claro que há muito pouca consistência, uma vez que se alguns (poucos) temas são de facto muito bons, os restantes oscilam entre o francamente mau e o mediano. Os temas bons não conseguem compensar os maus nem são suficientes para justificar a audição completa do disco ou o seu preço, até porque antes da compra há que ter em conta que alguns dos melhores temas, como A go Go ou Alegre, já foram publicados anteriormente em diferentes compilações e singles e não são por isso propriamente uma novidade.

Num dos seus primeiros posts aqui na Corneta, em Julho, o Bruno explicava que tinha comprado este disco por impulso e que tinha acabo por o revender a um amigo, adivinhando que não se ia arrepender de o ter feito. A contraparte desta transação fui eu, o amigo que lhe comprou o disco, e de certa forma fui também quem acabou por se arrepender. Demorei algum tempo a escrever sobre Elevator Music porque queria ouvi-lo com atenção, mas após várias audições ele nunca me conseguiu cativar verdadeiramente. Há aqui faixas muito boas para incluir numa qualquer compilação caseira para oferecer aos amigos, mas o conjunto não consegue ocupar um lugar de destaque no leitor lá de casa (pelo menos não para deixar o CD correr de uma ponta à outra).



2003/10/13

Nirvana - "Hormoaning" 

Julgava que tinhas falado em Lamborghini (é assim que se escreve?), Sofia! Seja como for não importa, porque de facto fico contente apenas com o convite e aqui vai a primeira "posta", temperada com um pouco de nostalgia, que em doses q.b. nunca fez mal a ninguem .
Venho, aqui, falar-vos de um fantástico e recôndito (?) E.P. dos famigerados Nirvana, denominado "Hormoaning".
Editado a 5 de Fevereiro de 1992, como arma de marketing para a tournee Australiana da banda, este E.P. é cruamente gutural, uma descarga intemporal da raiva própria do pós-adolescente niilista que foi Cobain, mas não só. Não só, porque é um disco essencialmente sustentado por temas compostos por outras bandas, que aqui revivem graças às simples e furiosas (bolas, tantos adjectivos) interpretações dos três elementos (Cobain, Novoselic, Grohl) que, na altura das gravações, constituiam os Nirvana...
O Cd começa com a bateria estranhamente reverberada de "Turnaround", baixo distorcido, guitarra aguda e noisy ao estilo de, por exemplo, "Scentless apprentice"; pouco mais de 2 minutos depois, somos contemplados com um clássico da banda, "Aneurysm", que é incontornável mas que, após tantas audições...continua incontornável (hehe); de seguida somos violentamente agredidos pelo maior (qualitativamente) tema deste E.P., "D-7", que é algo indescrítivel, um deprimido sussurro que dá lugar a uma explosão que resume tanta coisa (ouço-o, no momento em que escrevo estas linhas e arrepio-me); lirismos à parte, começa lento, voz limpa, para depois repetir, mas agora rápido, voz embriagadamente rouca, gritante...O quarto tema é o também sobejamente conhecido "Son of a gun" (maldito "Incesticide"), canção simples, muito melódica, tão punk-ó-solarenga que os Peste&Sida poderiam cantar "(...)a cassete dos Nirvana para a gente curtir(...)" (a nostalgia Pestiana surgirá numa outra ocasião, se não me banirem após esta posta de pescada que descongelou e congelou inumeras vezes...); segue-se "Even in is youth", tema engraçado, conhecido também pela sua inclusão no single com nome de desodorizante e, para terminar, o estupidamente alegre "Molly´s Lips".
Os temas 1, 3, 4 e 6 foram gravados em Outubro de 1990, nas famosas Peel sessions e são autoria de, respectivamente, M. Mothersbaugh e G. Casale (Devo) , Greg Sage (The Wipers), Kelly e Mckee (The Vaselines), Kelly e Mckee (The Vaselines) . Os temas 2 e 5 são originais da banda, gravados em estúdio e misturados por Andy Wallace, que também fez a mistura de Nevermind. "Hormoaning" foi editado apenas no Japão e na Austrália e, após audição atenta (ou não tão atenta) percebe-se porque é que estes gajos foram uns senhores...mas claro que isto só depois de se ouvir "Nevermind"...


Mais um corneteiro 

A equipa Corneta foi aumentada. Não sei se foi o Porshe 911 ou se o (evidente) nível do blog que o convenceu, mas o que importa para já, é que o Nuno aderiu ... Já o devem conhecer pelos comentários que foi deixando por aqui, que são informados, bem escritos, divertidos (ah, é verdade ele já aderiu, parece que esta parte era escusada...). Bem vindo ! (vê lá se "postas "!)


Radiohead + Sigur Rós  

Hoje no DN:

A encerrar as comemorações dos 50 anos da sua companhia, o coreógrafo Merce Cunningham estreia amanhã, na Brooklyn Academy of Music em Nova Iorque, o espectáculo Split Sides, para o qual pediu a colaboração de duas das mais criativas bandas do momento: os britânicos Radiohead e os islandeses Sigur Rós.

Cada um dos grupos contribui com uma peça musical inédita de vinte minutos _ que constituem as duas parte do espectáculo. Mas as surpresas não se ficam por aqui. Para o espectáculo estão também preparados dois cenários diferentes, concebidos pelos fotógrafos Catherine Yass e Robert Heishman, assim como dois conjuntos de figurinos assinados por James Hall e dois sistemas de luzes de James F. Ingalls. O modo como tudo isto se vai juntar é que é verdadeiramente original: todos os dias, antes do espectáculo, os espectadores são convidados a jogar os dados que determinam o alinhamento do espectáculo do dia seguinte _ assim se decidirá qual a peça que será primeiro, com que figurinos, cenário e luzes. A companhia terá então um dia para ensaiar a apresentação já que, no total, são possíveis 32 versões de Split Sides.

O norte-americano Merce Cunningham, a que o Wall Street Journal chama «o maior coreógrafo vivo», tem 84 anos e no seu currículo contam-se as controversas colaborações com John Cage ou Martha Graham. Hoje, continua a dizer que o que o move é a procura do desconhecido. «Há sempre alguma coisa nova», diz. «Não sei se a vou conseguir alcançar, mas continuo à procura.» Split Sides é mais uma tentativa. Na noite inaugural, Radiohead e Sigur Rós interpretam ao vivo as suas músicas.


Pois é, já tinha lido isto na Elle de Setembro (?!? sim é apenas pelas informações musicais que compro a revista e não pelo suplemento 280 tendências Outono/Inverno).

Amanhã passaremos a transcrever na íntegra os artigos da Economist sobre artes e espectáculos. Aposto que eles já sabem qual vai ser o álbum do ano.


2003/10/09

Compilações mais compilações 

Tenho que confessar um fraquinho por compilações. Acho que a ideia de poder encontrar muita variedade sem ter que me comprometer com nenhum grupo em concreto é que me leva a comprar tantas. Normalmente acabo por me enganar, porque a regra 40/60 ocorre na mesma, só para aí 40% das músicas valem mesmo a pena…

Adiante, já tenho o último CD dos Gilles Peterson há algumas semanas e aqui parece-me que não se aplica nenhuma regra, talvez 90/10. Baseado no seu muito badalado e profícuo programa na BBC Radio 1 , Worlwide 3 apresenta um ramalhete de canções soul, funky com doses generosas de jazz à mistura. Gostei de quase todas. Aqui pode-se encontrar velhas referências como Marvin Gaye , Henry Mancini, James Brown (reformulado pelos Fantasista ) como grupos muito novos como os 2 Banks for 4, os Detroit Experiment ou Amy Winehouse. O senhor é conhecido pelo seu gosto eclético e eu concordo completamente. Além disso incluiu ainda “Poetry” uma das minhas faixas favoritas do RH Factor. E então onde estão os 10% mauzinhos? À conta de gostar tanto de soul/r'nb, Gilles lembrou-se de incluir Jermaine Jackson no estilo mais diabético que possa existir com “You like me don’t you” . Dispensava …


[ww]



Uns assalariados do Sr Gilles , os 4 Hero, que são editados pela sua TalkinLoud , também lançaram recentemente uma compilação dedicada anos 70 com muito groove e funk (Life:Styles). Nomes conhecidos nem um, muito melhor, porque é uma forma de divulgar evitando enviasamentos (como aquele meu à bocado com o Jermaine). È um objecto surpreendente que ainda estou a explorar.


[4 Hero]



Por último, que não é uma compilação mas antes uma reunião de amigos, ou de favores, os The Neptunes, a dupla mais influente e rica de produtores do momento, apresentam Clones. Ou se quisermos, são clones de todos os hits que eles ajudaram a criar para mais de metade dos músicos que estão no Billboard Chart norte americano. Assim fica reunida a nata do hip hop com Busta Rhymes, Ludacris, Snoop Dog, Nelly e ainda outra nata como Justin Timberlake, Kelis, etc, etc… Como não sou uma grande fã de hip hop metade do álbum é um pouco desperdiçado em mim embora reconheça que a faixa “Frontin” tem um beat contagiante e o Jaz – Z um rap mesmo bom. Aliás não resisto citar o artigo do All Music acerca do falsetto de Pharell Williams - It also must be said that no one else could make the line "And I was gon' tear your ass up" seem so charming. Surpreendente é encontrar lá para o meio algumas faixas bem mais rock com os High Speed Scene.


[ww]





2003/10/08

Duetos (im)previstos 

Por definição o dueto imprevisto seria mais ao estilo Nick Cave + Kylie Minogue. O que eu quero recordar aqui pode considerar-se mais "previsível".


[pj]




Em 2000 Pj Harvey edita "STORIES FROM THE CITY, STORIES FROM THE SEA" e lá para o meio, a faixa 7 para ser mais concreta, surge uma canção que mais parece dos Radiohead `a qual Polly apenas empresta a voz para o coro. Apesar de pegar em temática típica de Radiohead (The mess we're in), a letra é dela e Thom Yorke nem aparece nos créditos, apenas nos agradecimentos finais.

Can you hear them?
The helicopters?
I'm in New York
No need for words now
We sit in silence
You look me in the eye directly
You met me
I think it's Wednesday
The evening, the mess we're in




Ao estilo Abrupto achei que seria engraçado reunir mais duetos. Outros duetos. Imprevistos ou não. Sugestões no caixa de correio ou nos comentários, como usual.


Olha tu por aqui... 

Pois caro Tiago a estas horas também estou a brincar com o Blogger a ver se ponho os links a funcionar direito depois de uma tentiva frustada de utilizar o LINKAR (uma ferrementa muito fácil para organizar os links no Blog mas que atrapalhou aqui o código). Resultado a janela aparecia minimizada, o site meter veio para cima, uma confusão...




Mais Jazz na rádio 

Na passada Quinta-Feira, o Público noticiava que a Antena 2 vai apostar no Jazz como forma de se reposicionar no mercado e tentar atrair um público mais jovem. Ainda assim, a música clássica vai continuar a ocupar a parte de leão da programação.

Na minha opinião esta mudança só pode ser positiva. Há muito que me interrogo porque motivo não existe, pelo menos em Lisboa, nenhuma estação temática inteiramente dedicada ao Jazz?

No actual espectro radiofónico na Grande Lisboa, existem rádios temáticas para os mais variados estilos: o rock mainstream tem a Mega FM, Best Rock, Antena 3, a música de dança tem a Mix FM, a pop mais ligeira tem a RFM e a Comercial, a electrónica e novas tendências têm a Voxx e a Oxigénio, o rock independente e alternativo tem a Radar e a Marginal, entre outros exemplos possíveis.

No entanto o Jazz, sendo um estilo musical tão vasto, não tem actualmente sequer uma estação a ele dedicada. Sobram-lhe alguns espaços pontuais na Antena 2, na Luna e na Oxigénio, mas pouco mais.

Não me parece que esta falha se deva a uma falta de apreciadores do género em número suficiente para que um projecto nesta área possa tomar forma. Mas se esta experiência da Antena 2 for bem sucedida, estou certo que o Jazz vai começar a ganhar mais destaque nas nossas rádios...E se uma radio inteiramente dedicada ao Jazz se chamasse Corneta FM? (bom, como o nosso blog não é só dedicado ao Jazz, se calhar chamava-lhe Sax FM, e depois era tudo a fazer trocadilhos com o nome da rádio...)


Uma outra visão do mundo 

No Juramento sem Bandeira está um post intitulado “Satanás em Coimbra” (Domingo, Outubro 05, 2003), que transcreve um artigo do jornal O Dia sobre os Roling Stones e a sua actuação em Coimbra. Vale a pena ler, sobretudo por quem for fã dos X-Files, ou quiser ver como há quem tenha visões diferentes do mundo (também, quem é que lê O Dia?)...


2003/10/07

Belle du jour 


[Matin Parr]



começa pela capa...


2003/10/06

Novo Belle amanhã 

Por acaso enquanto andava por terras espanholas tive oportunidade de ouvir o novo trabalho dos Belle & Sebastian o Dear Catastrophe Waitress. Da audição muito rápida numa loja em Madrid pareceu-me muito bom.

Há um vídeo e pode-se ouvir uma das faixas neste artigo de Les Inrocks .


Espanha 0,5 Km * 

O post do Tiago a falar do seu tempo de emigrante deixou-me cheia de vontade de recordar o meu por terras de nuestros hermanos, em Barcelona para ser mais exacta (agora só falta o Bruno falar do Burkina Fasso e ficamos com o ramalhete completo).

Como já referi nos comentários durante a polémica "quotas" a rádio espanhola é mesmo má, sendo que o cancro musical neste caso é um techno muito manhoso e histérico e várias gerações de músicos vertente entertainer que vão saindo de sucessivas Operación Triunfo. Claro que há o flamenco, até há jazz flamenco com Chano Dominguez, ou seja, não quero descartar nalgumas linhas de post o imenso talento, inovação, energia que há neste país. Mas há muita bimbalhada também...que pode ser divertida em doses moderadas.

Mas recordar os meus tempos espanhóis passa muito mais pela particular relação que se estabeleceu com a música portuguesa enquanto fora, que servia o duplo propósito de ouvir por gosto e recordar a santa pátria. Engraçado que nesse tempo, muito mais do que agora em Portugal, o músico que mais me transportava de volta a casa era Carlos Paredes, de uma forma dilacerada e silenciosa (palavra paradoxal, o que quero dizer que era a música que remetia ao silêncio das memórias). Ouvir o tema dos "Verdes Anos" pode ser uma experiência dolorosa quando se tem saudades. E era ele também o elegido para mostrar um pouco de música portuguesa a amigos espanhóis. Confesso que ficava mesmo triste quando não os comovia por aí além.

Outro grupo essencial à minha vivência espanhola foi os Irmãos Catita que serviram para estabelecer o que chamo de emigrante bonding. Quando me encontrava em festas ou jantares identificavam-se os portugueses imediatamente, os únicos que riam a bandeiras despregadas ao ouvir o "Bananaz" , "Chavala", "Moçambique é Portugal", perante o olhar atónito dos restantes convivas de outras nacionalidades. Agora hoje em dia passa-me o reverso . Ouvir o "Eu sou chato" deixa-me cheia de nostalgia desses tempos. É um must em qualquer discografia emigrante , versão cantada em português claro!

Por falar em música portuguesa há um novo blog que dedica boa parte dos seus posts a ela (Sons do Quarto) .

* O título do post é uma tabuleta que se encontra, como bem indica, a quinhentos metros de Espanha. Reparei nela esta sexta quando fui a caminho de Madrid. Por falar em Madrid (este post está a desenvolver-se ao ritmo das cerejas, uma palavra desencadeia logo outras) quem for a esta cidade até Dezembro não perca uma exposição única de fotografia de Martin Parr no Museu Reina Sofia. Tem muito humor, acutilância e ternura. Realmente este blog deve ser de música, mas coisas boas destas também vale a pena falar. Deixo aqui um exemplo de uma das fotos em exposição.



[Matin Parr]





2003/10/01

Dia Mundial da Música 

Hoje é (ou foi, dependo do dia e hora em que esteja a ser lido) dia mundial da música. Apesar de me considerar uma pessoa minimamente bem informada, não tinha qualquer conhecimento deste facto, até ter sido alertado por uma pessoa amiga.

Pergunto-me por isso se serei eu que ando distraído ou se não houve qualquer divulgação ou comemoração em particular para assinalar este dia. Uma busca rápida na Internet devolveu estas comemorações.

Parece pouco, sobretudo porque tendo em conta a recente discussão em torno das quotas de música Portuguesa na rádio, talvez hoje pudesse ter sido um dia para se apostar em acções de divulgação de música portuguesa: Cds mais baratos, concertos de rua, debates na televisão, etc... Certamente traria melhores resultados que as infames quotas, mas num ano de vacas magras não deve haver dinheiro para tais luxos.

Isto para já não falar que estas parcas comemorações, para além de girarem em torno de música mais ou menos erudita, foram pouco ou nada divulgadas, pelo que poucos delas tirarão partido. Quase me apetece dizer "mais valia estarem quietos"...

Curiosamente hoje é também dia mundial do idoso. Será que os 365 dias do ano não chegam para que cada dia seja dia de uma coisa só? E os músicos idosos terão direito a alguma comemoração especial tipo dois em um?

Ah, já sei, as comemorações centram-se em torno da música erudita porque essa música é na sua maior parte "idosa" e é a que "os idosos gostam de ouvir"! Pois é, deve ser por isso...!?!


Ainda as quotas na rádio 

Agora que a Sofia despoletou a polémica sobre as quotas de rádio, que originou vários comentários, queria meter também a minha colherada neste assunto. E posso desde já dizer que sou totalmente oposto às quotas na rádio.

Acho muito bem que o Estado Português apoie e incentive a criação musical em Portugal. Mas as quotas de rádio parecem-me ter como objectivo não o incentivar e proteger a criação musical portuguesa, mas sim dar uma ajuda aos lucros das editoras discográficas mainstream que têm sido prejudicadas pelos suspeitos do costume: crise económica, alto preço dos discos com taxa de IVA a 19%, troca de ficheiros pela Internet, copiadores de CD a preços baixos, etc...

De facto se o objectivo é incentivar a podução nacional, devo dizer que concordo totalmente com os argumentos do Jovem lá da tasca (ver comentários ao post da Sofia). Devia-se reduzir o preço dos discos, dos instrumentos musicais, investir em formação na área da música (e ensinar não só a tocar, mas também a ouvir), criar bons espaços onde se possa ouvir música que não estejam só nas áreas de Lisboa e Porto, etc, etc, a lista é infindável.

No entanto, ao introduzir quotas, o que se está efectivamente a fazer é a criar uma procura artificial (por parte das rádios), que pela forma como actuam, baseadas em playlists e não em programas de autor ou de divulgação, vão servir maioritariamente para divulgar mais aqueles que hoje já têm espaço (os inefáveis David Fonseca, Rui Veloso, Luís Represas entre outros cromos) e não para dar espaço a novos talentos. É por isso que digo que vai servir é para ajudar aos lucros das editoras: satura-se o público com certos artistas e dá-se um impulso às suas vendas, mas isso não se vai necessariamente reflectir em mais qualidade no trabalho destes artistas (por que razão se hão de estes esforçar mais? Porque a canção vai passar mais vezes na rádio? Então mas se passa por causa das quotas, mesmo sem ser particularmente boa...), nem implica que se vá dar espaço a novos talentos, se já hoje esse espaço é raro.

O exemplo que posso dar vem de ter vivido algum tempo em França, à cerca de 5 anos. Em França as quotas não só existem como são estritamente aplicadas, e no que elas resultam é numa enorme exposição dos mesmos artistas mais mainstream e na criação de um estilo de Rap/Hip-hop francês que é hilariante porque é exactamente igual ao americano na imagem e na atitude, mas é cantado em francês (pois é preciso preencher as emissões com música tida como "francesa" por causa das quotas). Dos comentários ao post anterior, percebe-se que algo semelhante se passa em Espanha: para preencher as emissões, em vez de investir em "sons da casa" que tenham de alguma forma mérito ou sejam inovadores, fazem-se versões do que se faz lá fora, mas em pior... Para terem uma ideia, na altura em que vivi em França tinha sido lançado o Moon Safari dos Air, e este disco tinha mais destaque na XFM / Voxx em Lisboa do que nas radios em Paris. Nessa altura assisti a um concerto dos Air em Paris em que não estariam mais de mil pessoas certamente, e talvez até menos, tão pouca era a divulgação que mereciam. Já para não falar de em Paris na altura quase não existirem rádios que não fossem de "Playlist".

Para não falar numa questão nem por isso tão secundária: o que é que constitui música portuguesa? Para mim é mais portuguesa a música da mãozinha, filha de emigrantes portugueses nascida na Suiça mas que canta em português, do que a música de David Fonseca, que nasceu em Leiria mas insiste em cantar em inglês... mas não sei porquê, aposto que os políticos não vêem a coisa da mesma forma.


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